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As piolhas e as festas de aniversário

por t2para4, em 19.06.12
Experimentámos algumas vezes quer fazer festas de aniversário para elas quer ir a festas de aniversário para as quais foram convidadas. 99% das vezes corre muito mal. Com o tempo acabámos por ir desistindo e vamos a algumas festas de aniversário mediante condições quase únicas. E, por muito que tente explicar o porquê da minha recusa, sinto, muitas vezes, que não sou bem compreendida e acabo por passar por anti-social...


Numa festa de aniversário, os estímulos aos quais as piolhas estão expostas são muito maiores: o ruído de vozes, o número de pessoas (adultas e crianças), o som de músicas, os balões (que, pouco a pouco, quando lhes bate o sol ou o calor, acabam por ir estoirando), as prendas, as cores, os doces, etc etc etc. Tudo isto, ao  mesmo tempo, com a mesma intensidade, a reverbar no cérebro delas, acaba sempre por as fazer entrar em curtocircuito e provocar alguma crise/birra/fita sem que consigamos controlá-la antes de ela se dar. De um modo muito simplista, imaginemos o que é ter uma tomada elétrica à qual estão ligadas as extensões da TV + máquina de lavar roupa + DVD + computador + máquina de secar roupa + máquina de lavar louça + micro-ondas + máquina do café + candeeiro + chaleira. O que acontece? O quadro geral vai abaixo porque entra em sobrecarga. 


Na maioria das vezes, as piolhas veem coisas demais, ouvem coisas demais, mexem demais e acaba tudo por ir numa espiral do "demais". Nós pais, para evitar constrangimentos com outros pais ou crianças, acabamos sempre por andar atrás delas a controlar o que fazem e onde mexem. Quando começanmos a notar alguma agitação mais invulgar, enfiamo-nos num espaço vazio para tentar baixar os níveis o que implica andar sempre dentro e fora d euma festa de aiversário em espaços que não são nossos... Quando corre bem. 

Quando corre mal, temos as birras e isso é o que me preocupa mais, primeiro porque não tenho que me explicar nem justificar o porquê de uma birra (isso implica entrar no campo do autismo e dar uma palestra. Acaba em aquisição de conhecimentos de gente  interessada mas, quase sempre, em "coitadinhices" e tretas do género) e, acima de tudo, não tenho nem devo nem posso sujeitar as piolhas a isso. Se eu sei, de antemão, que elas vão sofrer num espaço festivo, que espécie de mãe sou eu que continuamente as empurra para isso? Faz sentido?


Houve festival na piscina na semana passada. Não fomos. O reverbar de som e os múltiplos ecos são tais que até aos adultos faz confusão quanto mais às piolhas que têm esta sensibilidade auditiva. NO ano anterior experimentei levá-las e a sensação que tive foi que lhes era muito difícil destrinçar o que viam/ouviam/sentiam pois era muita coisa, muito alto, ao memso tempo. Não conseguiam focar-se num único movimento e acabaram por se agarrar a mim de cada vez que ouviam um som mais forte ou um splash... Saímos dali uns meros 10 minutos depois. Acalmaram no carro, com tudo em silêncio para colocar os circuitos em ordem.


A festa de anos deste fim de semana foi diferente no sentido em que havia mais crianças com algum tipo de necessidades especiais, um espaço enorme ao ar livre, quase isento de perigos e que permitia um refúgio ao aglomerar de pessoas. Ainda assim tivemos que andar quase sempre atrás delas pois não têm medo de nada, queriam mexer nos animais todos desde cavalos a lamas e a cães sem receios nenhuns! Entusiasmam-se com tratores e querem conduzir (!), continuam a ter o ímpeto de beber ou levar à boca o que veem à beira da mesa e, por momentos, fiquei muito preocupada e algo triste por ver que não estavam a integrar-se em nenhum grupo em específico, ou seja, juntavam-se a vários meninos mas sempre a fazer o que elas próprias estavam a fazer antes de se chegarem perto. E, num instante, isso mudou. Integraram-se sim mas num grupo de miúdos mais velhos, mais enérgicos e mais ativos, que estavam sempre a saltitar e a brincar com a bola ou a correr ou a dar cambalhotas na relva e isso é o que elas fazem e gostam de fazer.

Nota-se uma difrença enorme entre crianças da mesma idade e elas, a nível de desenvolvimento e certos comportamentos. As piolhas são, de facto, umas miúdas mimadas, admito, mas também muito imaturas em algumas coisas, no entanto, os seus pares nada lhes dizem e preferem a companhia de crianças mais velhas e imitá-las. Esses miúdos andaram sempre de botas de borracha (foram eles - familiares do Rui Salvador - quem tratou da égua e do pónei, ), e elas acharam que poderiam imitá-los usando as botas deles que lhes estavam tão grandes que cobriam toda a perna e não deixavam o pé assentar. Eles riam e elas riam. Pronto. A partir daí, foi a loucura total uns com os outros, aos pinotes. E eu fiquei mais ou menos descansada. Não sei se será algo bom ou não. 

Uma delas descobriu um pequeno puzzle (que nunca tinha visto antes) e em 2 minutos, estava feito, no chão. Saiu e foi correr mais um bocado. Nenhum das outras crianças fez isso...

Além de alguma imaturidade, a diferença maior é na linguagem. Aí sim parecem ter 3 anos e não quase 5. Doi. Eu entendo-as e os restantes também mas não é como uma criança da mesma idade. E o facto de misturarem línguas quando falam, é sinal de inteligencia sim e de desenvolvimento sim, mas não ajuda a que se façam entender... (são capazes de dizer algo como "Eu vou beber water neste copo pink escuro, ok?" e fazer alusões à Barbie ou dizer uma fala de um filme - ecolália - porque alguém bebeu água num copo cor de rosa...)


A certa altura, os balões desataram a rebentar e as piolhas ficaram em pânico. Vinham abraçar-se a nós e eu sentia os seusw corações a bater descompassadamente. Pensei que íamos ter problemas... Piorou quando, algumas crianças (como é normal) acharam aquilo o máximo e estoiravam os balões de propósito. Mantivemo-nos no mesmo lugar, com elas, e a verdade - coincidências das boas! - a exposição continuada e forçada àquele barulho tornou-se tão banal e tão lógica (menino + pé em cima do balão = pum!) que, passado algum tempo, já nem ligavam. Atenção: correu bem porque estes estoiros foram todos na rua, ao ar livre, num parque. Se estivessem em casa, as coincidências teriam dado origem a uma birra...


Bom, isto tudo para dizer que, o facto de eu sujeitar as piolhas a aglomerados de gente e festas é algo bem pensado e ponderado; há diversos fatores que tenho em conta antes de dizer sim ou não; uma festa não é a mesma coisa para as minhas filhas que para as restantes pessoas. Nem para nós. Mal chegámos a casa, pensámos que íamos entrar em coma, tal era o cansaço. Quem entender o que quero dizer, ótimo; quem não entende a minha recusa a convites, azar. Se estivessem no meu lugar, decerto fariam o mesmo.

publicado às 18:06

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2 comentários

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De Catarina a 20.06.2012 às 10:50


Como sempre a descrição está perfeita e muito bem escrito! Consigo visualizar tão bem! Esforço-me muito para o levar a festas e sítios novos com gente (porque médicos e terapeutas me dizem que é o que devo fazer) e, por vezes questiono-me se é o melhor para ele... Também fica excitado com o excesso de estímulos, a correr sem interagir com os outros e come, come tudo o que consegue alcançar na mesa da festa! Eu e ele ficamos estafados!
bjs

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De t2para4 a 20.06.2012 às 11:47

Eu também tenho em conta aquilo que os terapeutas e os médicos me aconselham a fazer mas, atenção, no final quem lá está para apanhar os cacos e lidar com as birras e as frustrações? Os pais... 
Eu optei por ponderar e tentar prever o que poderá acontecer, que tipo de ambiente terá, quem estará presente, que tipo de estímulos haverá por lá. E decidir em função disso.
Um dia de cada vez...

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