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Afastamento - distance

por t2para4, em 27.08.11

A todos quantos deixaram o seu comentário, o meu obrigada. Responderei nos respectivos tópicos.

 

Agora que o mês está prestes a findar e muitas das ansiedades passaram, é possível fazer-se uma comparação segura com igual período do ano passado: foi igualmente mau. Com a agravante de ter um cão em casa.

 

A decisão de adquirir um cão foi terrível. Pensámos nisto durante alguns meses, falei com imensa gente, consultei veterinários, pedi opiniões, tirei dúvidas, pesquisei, falei com mães de crianças autistas que também tinham cães, etc. Fui mesmo muito insistente nestas questões e quanto mais pensava, mais lógico me parecia que um cão traria uma nova lufada de ar fresco às piolhas. 

Inicialmente, o marido (e o meu pai, cuja opinião ignorei), na sua razão, era contra. Com o passar do tempo, comigo a melgar-lhe a cabeça, ida à quinta do criador interagir com os cães e com muitas pesquisas lá se convenceu. Após uma semana de preparação e idas conjuntas às compras, a Íris - a cadela golden retriever - veio para casa.

No meio de tudo isto, houve duas coisas com as quais não contei: as piolhas são autistas verbais e muito activas e enérgicas.

 

As primeiras semanas até correram bem e conseguia entrever mudanças positivas: as piolhas passaram a ter outro cuidado com a sua higiene, a casa estava mais arrumada e não havia brinquedos espalhados pelo chão, havia cuidado extra com os seus brinquedos e lápis/canetas. A cadela aprendeu uma série de regras rapidamente.

No entanto, à medida que os dias iam passando, as evoluções estagnaram e as manias/tiques e afins regressaram no seu pior: às 22h as piolhas corriam aos guinchos corredor fora atrás da cadela, andavam extremamente ansiosas e agitadas, o seu comportamento era totalmente desadequado em qualquer situação ou local, dormiam mal, algumas esterotipias voltaram, etc. Uma manhã, esqueci-me de dar a medicação e deixei-as com a avó que ia enlouquecendo naquelas 2h que ficou com elas. Quando cheguei a casa, fiquei chocada: tinham o olhar completamente vazio e vidrado, estavam transfiguradas, pareciam só ter corpo - desprovidas de interior... Foi a primeira e espero que última vez que as vi assim. Foi horrível.

O pior ainda estava para vir: entre piolhas e cadela, as 3 eram uma ameaça umas para as outras - uma porque é cachorrinha e quer brincar mas não mede o tamanho e força que tem, as outras porque são uns pequenos monstrinhos em forma de gente e tão depressa estavam a ser meiguinhas como se atiravam para cima ou a pontapeavam - não de propósito mas sem cuidado. A gota de água foi quando as 3 caíram e uma das piolhas rasgou o lábio superior, ficou com as gengivas inchadas e o lábio a tocar no nariz. Deitou tanto sangue que pensei que tinha partido os dentes.

 

A hipótese de venda passou pela cabeça como um raio e não perdi tempo: coloquei um anúncio e telefonei à criadora (que na altura da venda, à semelhança do que acontecera com a autora do livro O meu amigo Henry, se dispôs a aceitar a devolução da cadela caso não houvesse adaptação ou algo corresse mal) mas, apesar do meu desespero, não avançámos para nada. E eu sentia-me cada vez pior porque estava a  sentir-me incapaz de me ligar à Íris que é um doce de criatura de tão meiguinha e querida que é e, ao mesmo tempo, incapaz de descortinar algo que acalmasse as piolhas e as tirasse daquela sobre-estimulação constante.

Apareceu um comprador que concordou com o preço que pedi. Pediu para esperar uma semana porque queria  surpreender a esposa. Durante alguns dias, acreditei que era treta e que ele me tinha enganado... Mas, no dia e local combinados, lá procedemos à venda e a Íris foi para outra casa, para outros donos, para outra criança (um menino de 3 anos), num sábado de Agosto. Esteve 3 semanas connosco. Foi doloroso despedir-me: senti-me aliviada e má, ao mesmo tempo...

 

Às piolhas disse que a Íris tinha ido de férias para outra casa e que podia não voltar. Agora já lhes digo que não volta. 

O marido teve uma paciência infinda comigo e acho que o facto de ter encarado este episódio e a minha teimosia de forma tão humana e normal é uma prova de amor dada.

A mudança nas piolhas não se fez esperar: no dia da entrega da Íris, esqueci-me de lhes dar a medicação e deixei-as na avó, sem hora de regresso a casa. Ela notou logo que estavam mais calmas e muito menos ansiosas e comportaram-se normalmente.

Desde então, já se passou cerca de uma semana e tem sido uma diferença como do dia para a noite: não há guinchos, gritos ou correrias desconcertantes; os tiques acalmaram; a ansiedade passou e dormem melhor, comem melhor, passam melhor o dia; o desfralde é oficial e só têm usado fraldas para dormir ou viagens longas - o uso de cuecas tem sido um surpreendente triunfo e raramente há acidentes. Parecem outras meninas, até o seu olhar está mudado.

 

Acredito que se elas fossem crianças não verbais ou isoladas, o cão faria todo o sentido e ajudá-las-ia; neste caso, não ajudou. 

Talvez eu não tenha querido esperar, talvez eu não estivesse tão preparada para ter um cão em casa como eu pensara, talvez eu tenha sido precipitada, talvez eu tenha errado quer ao comprá-lo quer ao vendê-lo... Arrisquei e arrependi-me de o ter feito mas tive algo de que me arrepender. Não me perdoaria se não o tivesse feito mas jamais viveria comigo mesma se tivesse deixado arrastar esta situação.

 

As piolhas raramente perguntam pela Íris mas identificam qualquer golden dourado claro como a Ìris. Às vezes, perguntam onde está mas respondem elas próprias à sua pergunta. 

 

A razão do meu afastamento foi para com o intuito de parar mesmo com tudo. Não tive coragem de apagar o blog porque gosto deste cantinho e espero poder ajudar alguém com informações sobre o que puder e souber e ser ajudada, mas apaguei a minha conta pessoal do Facebook, desliguei-me de determinados conhecidos, parei com as pesquisas sobre autismo e tudo o que com isso se relaciona e deixei de fazer das minhas filhas cobaias. No momento em que o fiz, senti um alívio enorme. Com ou sem autismo, são as minhas filhas e eu amo-as incondicionalmente, mesmo que fossem azuis às bolinhas verdes. E como diz o outro, críticas "a mim não me assistem". Não quero saber. É fácil criticar quando não se tem filhos ou os filhos são normais. Quem tem que viver com as piolhas 24/7 somos nós, sou eu, não os outros. O que eu decido fazer não é da competência nem do consentimento de mais ninguém excepto dos que me são mais próximos.

Eu e o marido temos tantos projectos para colocar em marcha - coisas que já estavam na gaveta há tempo demais - e, nada melhor do que lançarmo-nos agora. Só nós, sem influências exteriores e sem "se fosse eu...".

 

publicado às 22:19

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4 comentários

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De Teresa a 28.08.2011 às 06:56

E' preciso coragem para arriscar assim como para assumir que nao deu certo.
As vezes a nossa propria natureza nao nos deixa parar mas chega a uma altura em que a solucao e' mesmo essa: parar um pouco ou andar a passo ao lado e nao tentar correr 'a frente.
Passo a passo e de mao dada chegam la!
Beijinhos e vou continuando a vir aqui para saber noticias vossas ou entao "chateio-te" no yahoo!
Teresa ( F e C&C)
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De t2para4 a 28.08.2011 às 13:05

Olá Teresa (e crianças!),

Podes chatear à vontade, tenho muito gosto em saber de ti e dos teus.
Não sei se se trata mesmo de coragem... Isso é o que me parece faltar... Olhando para trás e vendo os acontecimentos e decisões passados sob outros olhos, parece que andava cega. Depositei demasiadas (e altas!) expectativas num animal e não estava preparada para lidar com o que aconteceu. A verdade é que aquele click mágico de que falam algumas mães, existente entre criança e cão, não se deu com as piolhas. Tenho notado que dão mais importância a gatos do que a cães mas chega de animais em casa - agora só os peixes!
O que me custa mais - ainda - é que, se elas já ultrapassaram a ausência da Íris, já o marido parece sofrer porque gostava mesmo dela. Quando fomos à quinta do criador, ele apaixonou-se na hora por ela... E, no tempo que esteve connosco, ele empenhou-se em treiná-la e passeá-la. Noto que lhe custou muito... E isso faz-me sentir mal porque acabei por arrastar imensa gente para este meu devaneio... Daí ter também parado com uma série de coisas e evitar influências exteriores. É incrível como uma simples sugestão passa a ter um poder tremendo e influente na nossa vida.
Agora é levar a nossa vida para a frente e aprender com tudo.

beijos para todos
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De Teresa a 29.08.2011 às 06:18

:) Mesmo sem te conhecer pessoalmente consigo saber que coragem e' coisa que nao falta!
Quanto ao devaneio, nao penses que o foi, foi uma tentativa ( mais tua) de fazer um click nas tuas filhas, nao resultou ok! Costumo dizer que a nossa vida toda e' uma sequencia de tentativa, erros e correcoes...
Beijinhos a ti e as piolhas!
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De t2para4 a 30.08.2011 às 18:33

Só me resta agradecer... :)

beijos grandes para vós todos

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