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Não tenho visto televisão (ando demasiado ocupada a ver as temporadas todas de "Bones" e "Criminal Minds"), já não sei o que é ver notícias há meses (felizmente!) mas leio os cabeçalhos e destaques do dia. E é uma pior que a outra... Há tão pouco de bom no que se lê que é aniquiliado pelo tamanho mal que vemos por aqui, por lá, pelo mundo.
Entre um leve conhecido que mata o próprio filho, uma legislação que permite que uma criança violada seja impedida de abortar e adultos decidam sobre os futuros miseráveis de "mãe" e bebé, alguém que morre sem assistência médica e desencadeia toda uma onda de violência brutal onde se misturam causas e efeitos, serial killers à tuga, a mãe natureza que se passa da marmita e faz tremer a terra como se iniciasse o mundo, a história triste de uma mãe que falava sobre o suicídio do seu filho que tinha asperger. E, entre questões pessoais de instabilidade profissional, de meltdowns sucessivos das filhotas sem nada que os faça prever e sem nada que eu possa fazer para os evitar ou amenizar, houve um colega da turma delas que, propositada e insultuosamente, achou por bem chamar uma delas de "deficiente", alto e bom som para todos ouvirem. "Deficiente" é a minha conta bancária e a educação que este miúdo recebe, assim de repente.
A minha reação é de mágoa, obviamente. Sei que são miúdos, é assim a vida na escola, as minhas nem sequer estão nessa frequência de onda e nem perceberam bem que havia ali um insulto blá blá blá mi mi mi. Mas serviu para que eu abrisse os olhos e expandisse o pensamento. E concluísse que não vale a pena. Vou terminar uma última ação dinamizadora de sensibilização porque já está planeada desde janeiro, já temos os materiais comprados, há demasiada gente fantástica envolvida e eu já dei a cara. Será a minha última ação destinada a terceiros, tentando envolver ao máximo uma comunidade que, na maioria das vezes, não quer saber.
Apesar de um colega que prezo muito me ter dito que não deveria fazê-lo, já me chamaram à atenção - e com razão - que eu não tenho qualquer formação académica para enveredar por estes ramos e não preciso de andar a enfiar "autismo" pelos olhos das pessoas adentro. Sou licenciada em línguas e literaturas estrangeiras com profissionalização e certificação pedagógica. E é nessa área que devo manter-me. Não tenho qualquer formação superior em Necessidades Especiais (exceto aí umas 150h de formação recebida, por opção) e não deveria imiscuir-me numa área que não me compete. A minha experiência é pessoal e vagamente profissional - apesar de trabalhar com vários tipos de NEE todos os anos letivos.
Continuarei a sensibilizar e a consciencializar de forma indireta, através do blog ou de quem quiser ouvir-me, se me convidarem para algo, mas não mais do que isso. Poderei compilar apresentações powerpoint, recomendar leituras mas não voltarei aos workshops nem às ações de sensibilização ou consciencialização por mim promovidas. Já deitei as minhas sementes à terra, adubei e reguei. Até sachei e retirei as ervas daninhas. Agora é tempo de parar e deixar a natureza seguir o seu curso, seja ele qual for.
Uma só palavra tem mais poder - e tem o poder que lhe quisermos dar - do que poderemos imaginar. E isto, entre outras coisas, fez-me ver que eu não posso mudar mentalidades, eu não posso obrigar ninguém a aceitar nada, eu não posso nada sozinha, eu não posso educar nem crianças nem adultos contra a vontade. Educo as minhas filhas e ensino os meus alunos e dou formação aos meus formandos. Ponto. E isso tem e terá que bastar.
Estarei sempre presente para as minhas filhas, sou a primeira a defendê-las custe o que custar, mas acredito que, nesta fase, vale mais voltar as minhas forças/energias/conhecimentos para elas, para que, um dia, possam compreender o que alguém lhes diz sem literalidades ou interppretações dúbias, separar uma palavra de um insulto, defenderem-se, atacar se necessário for, protegerem-se. Para já, até que algo me convença do contrário, não voltarei a "educar" e "consciencializar" terceiros quase à força. Porque, o que vejo no mundo que me rodeia e do microcosmos daqui, mostra-me à força que não vale a pena.
Quanto ao tal miúdo, bem, ainda é só isso mesmo, um miúdo. Sinto pena dele e rancor dos pais. Pena porque há ali algo que falha, claramente, em muitos muitos níveis, com tendência a não melhorar e isso poderá - ou não - comprometer o seu futuro. Os pais recolherão o que semeiam. Eu acredito em Karma. Não preciso de me zangar, nem de me vingar, nem de agir de forma igual a quem mal nos faz, nada. Só tenho que me focar no que realmente importa e interessa: a minha família e a nossa felicidade.
What goes around comes around.
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