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As piolhas vão enfrentar a perda e perceber o valor das coisas, da maneira mais prática que existe: através da realidade.
Uma das suas obsessões é ter sempre as mãos ocupadas. Ora, como estão proíbidas - por mim e pelo pai - de levar brinquedos para a escola, eu deixo que levem livros, até porque leem quase tudo e gostam. Têm levado livros da Barbie (uns enormes que comprei no Lidl há uns tempos e uns mais recentes da Barbie and the DreamHouse).
Desde que têm os gatos que uma delas esqueceu as mãos ocupadas e já não leva nada, embora ainda peça parra levar os óculos de sol ou um boneco ou assim - sem sorte. A outra ainda precisava de levar de um livro. Queria levar dois mas lá aceitou a minha ordem de dedo em riste "só UM!". E levou-o e andou com ele para todo o lado e... perdeu-o.
À saída, obriguei-a a ver pela escola toda, a ir às salas onde esteve, a perguntar às funcionárias, a ver na biblioteca. Nada de livro. A certa altura fugiu sem avisar para onde ia, simplesmente desapareceu. Quando a encontrei, levou duas palmadas naquele rabo e nem se atreveu a fazer beicinho nem cara feia. Soube que errara.
Resultado: o livro não apareceu - e se alguém o levou, não voltará a aparecer, apesar de lá irem escritos os nomes delas -, ficou com uma coleção estragada (uma coleção antiga, para aí finais anos 90, princípios anos 2000, comprada no ebay, só da Disney em Inglês), perdeu o livro de que mais gostava e ficou de castigo: além de ter ido arrumar o quarto mal chegou a casa e colocar livros nas prateleiras para ver o que tem, tão cedo não vai andar a fazer pulseiras de borracha (aka macramé borrachoso) em casa. Que as faça na escola com os amigos, se quiser.
E, assim, de forma dolorosa - porque perdeu algo de que gostava e não se atreve sequer a verter uma lágrima ao pé de mim - vai aprender a dar valor às coisas e a perceber que as obsessões não são coisas saudáveis.
E eu vou tomar um victan porque já me enervei e porque ainda há pessoas que acham que eu é que sou obsessiva porque também tinha coisas na mão - a mão da piolha que não se atreveu a descolar depois de ter fugido e levado duas palmadas. No dia em que souberem o que é passar por estas merdas - porque o autismo também é isto: as obsessões, o ter as mãos sempre ocupadas nem que seja com um estojo, o não pensar em nada exceto noq ue vem à ideia naquele momento e agir, o ter predido algo e ficar um disco riscado até sabe-se lá quando -, nesse dia e somente nesse dia, falem comigo. Até lá, ponham a mão na boca e arranquem as cordas vocais. Assim os pensamentos, como direi, de merda!, não terão como sair. Verbalmente.