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No final desta semana vai ser submetido a votação final global o diploma sobre a autodeterminação da identidade de género nas escolas. Não tenho absolutamente nada contra quem não se identifica com o género com que nasceu (e já escrevi sobre isso, mas não esqueçamos a biologia e tudo o que isso acarreta) mas estamos a começar a confundir o que realmente é inclusão. E, desculpem lá, meus amigos, inclusão não é o Tó que em casa se assume e identifica como meninO mas, na escola, quer ser Maria e identifica-se como meninA e, já que a lei o permite, escolher ir às casas de banho femininas e balneários femininos. O mesmo pode acontecer com o género oposto.
Sou muito à frente em muitas coisas mas NÃO concordo com esta proposta. E desejo vivamente que não seja aprovada. Vamos imaginar o regabofe que vai ser: os miúdos todos misturados a fazer o que bem entendem, a abusar da sua (e da dos outros!) liberdade, alguns mais velhos a ameaçar mais novos, uns a troçar dos outros, uns a agredir os outros e, chego até mais longe, sim, alguém pensou no assédio? na perseguição? na hipótese de violação?

Deixem-me fazer uma pequena partilha pessoal: detesto ir a casas de banho públicas, incluindo as de shoppings; odeio mesmo balneários (quando fazia natação era um pesadelo para mim trocar o fato de banho molhado por roupa) e nunca tomei duches lá (nem quando fazia ginásio) - detesto mesmo. Odiava, desde miúda, as comparações de corpos entre colegas meninas. Não há privacidade nenhuma e estamos todAs perante o mesmo: mulheres e miúdas, tudo genitalmente igual. Agora extrapolem isto para um género misto.
Agora deixem-me propor este desafio: imaginem a vossa filhA, sossegada da vida, numa casa de banho, a mudar o seu tampão ou penso higiénico ou num balneário a mudar a roupa interior depois do duche (ou até no duche) mas estas instalações são mistas e partilhadas. Ninguém pensa na reserva da vida privada. A de uns e a de outros.
Não importa a idade, não importa o género, não importa nada, desde que haja inclusão.


Inclusão? Inclusão?


Meus senhores, inclusão é tratar antes e acima de qualquer coisa de cumprir a Constituição Portuguesa da República e cumprir os direitos que todos temos - incluindo a pessoa com deficiência.
Em pleno século XXI, ainda há escolas sem acessibilidades físicas (por que não pode o meu filho de cadeira de rodas entrar pela porta principal mas tem de o fazer pelo portão das traseiras onde só há pó e lama? Há casa de banho adaptada? Mesas? Portas com largura suficiente?); ainda há escolas com docentes com mentalidades retrógradas (ai, este menino, não pode ir fazer um secundário. Eu já dou aulas há 40 anos e já apanhei muitos casos e não eram assim. Não tenho de aplicar medidas. Ele qualquer dia vive de subsídios. Ele nem o nome escreve!); ainda há agrupamentos que recusam aceitar crianças com deficiência (não há recursos humanos nem condições para receber crianças assim. Mas a lei... Sim, mas o ministério não coloca mais ninguém); ainda há balcões da segurança social a transmitir informações erradas e desatualizadas a pais de/a pessoas com deficiência; ainda há programas de televisão não acessíveis a todos; ainda não há o cuidado de a própria Assembleia da República também escrever as suas leis em Comunicação Acessível (e não falo de CAA ou uso de pictogramas mas sim de palavras simples e diretas, textos concisos e menos rebuscados); ainda tem de haver uma política de proteção da mulher (da mulher!!!!!) porque ainda existe violência doméstica; ainda há milhares de pessoas sem acesso a cuidados básicos de saúde (direitos que estão na Constituição, lembram-se?) nem médico nem enfermeiro de família; ainda existe bullying nas escolas, nos hospitais, nos locais de trabalho; ainda há a promoção descarada da meritocracia, o compadrio, a cunha; ainda há o "dar um borrego para passar", noutra descarada corrupção; ainda não há cumprimento de prazos nem orçamentos em nenhuma obra (mas ai do contribuinte que passe 1h que seja depois do prazo); ainda há discriminação de género, racial, social, etária, financeira, literária, física.
Podia continuar mas estou cansada. Farta mesmo.
E anda este país a divergir atenções para casas de banho mistas e a dar azo a uma série realista de potenciais problemas graves quando há tanto mas tanto mais grave para resolver? Por favor, bastava criar um espaço misto extra, nada de extraordinário! Mas não misturem inclusão nisto!


Quando for altura de ir às urnas, pensemos no amanhã. Eu já tive de lutar por tantos direitos que são alienáveis. Vamos continuar nisto até quando?

 

E que não me venha ninguém chatear a moleirinha porque ah e tal mas és contra trans e comunidades tal? Não, não sou. Mas antes de viajarmos na maionese a pedir direitos que essas pessoas já têm e ninguém lhos tirou, pensemos nos direitos que outros também têm mas já foram - ou são - negados.

 

EDIT: Há a referência a que deve ser assegurando o bem-estar de todos, procedendo-se às adaptações que se considere necessárias. E todos, são todos aqueles que frequentam a escola. Pelo que não é aceitável que a solução encontrada pela escola sejam casas de banho mistas e não o acesso a uma casa de banho fechada, não partilhada com outros colegas.
Aguardemos.
 
 

 

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publicado às 16:23

Se as piolhas estivessem no 2º ano, não o fariam. Ponto. E ponto assente e ponto final.
Porquê?
Porque eu tenho estado a treinar com os meus alunos e posso assegurar que isto, para esta faixa etária que ainda mal domina a coordenação óculo-mental-motora da escrita manuscrita, fazer uma prova (uma, não! 2!!!!) extensa a computador onde, ainda por cima, têm campos de escrita, é doloroso como punhais. Quem se lembrou de aplicar isto para crianças tão tenras, nunca viu nenhuma em frente a um computador, a realmente utilizá-lo para trabalho e não para jogos ou redes ou vídeos. Pelo amor da santa!!! A média de escrita de alunos que até dominam a acentuação e o shift e o caps lock é de 10 palavras em cerca de 15 minutos!!!! A prova tem a duração de 90 minutos... Estão a ver a maravilha do ratio, certo?
Entre outras parvoíces técnicas (como não haver opção de salvar/gravar entre etapas ou não haver audio ou o refresh apagar as respostas daquela etapa ou a lentidão do sistema - imagine-se agora centenas de alunos AO MESMO TEMPO a usar a mesma plataforma - ou o botão direito do rato mostrar a correção sugerida para o erro assinalado), a maior imbecilidade é pôr estes alunos a escrever num pc em dia de prova. Alunos com 7 ou 8 anos. Repito: alunos com 7 ou 8 anos.
Senhores sei-lá-quem-se-lembra-destas-coisas lá da tutela dinossaurica wannabe-moderno da capital: alguma vez estiveram sentados ao lado de alunos com estas idades a trabalhar com eles? Alguma vez pensaram minimamente nestes alunos? Acham mesmo que isto é evolução tecnológica? Acham mesmo que a ansiedade acrescida quando chegar a altura de escrever um texto cheio de linhas vermelhas sem que percebam como corrigir é algo benéfico? Acham mesmo que fazer contas num pedaço de tela é pedagógico? Isto é avaliação? Principalmente, numa prova que conta zero para a avaliação formal do aluno? Poupem-nos.
Filhos meus não fariam a prova. Ponto. E faria uma exposição ponderada do porquê para envio a quem de "direito".

 

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publicado às 12:22

Não sou um saco de pancada

por t2para4, em 20.10.22

As aulas começaram há um mês e uns dias. Estamos em meados de outubro e já li tantas tantas tantas notícias sobre agressões a professores que começo a perder-lhes a conta.
Eu não sou um saco de pancada.
Eu não sou o bode expiatório de ninguém.
Eu não um poço de descarga de frustrações alheias.
Eu não sou a culpada desta sociedade doente.
Eu não sou a super mulher.
Eu não sou mãe de centenas de alunos.
Eu não sou um saco de pancada.
Não sou nem tenho feitio para isso. Não admito a ninguém que me levantem a mão. Ou me ameacem. Ou me danifiquem propriedade. Eu dou muito de mim, todos os dias, todas as horas ao meu público presente mas jamais admiti ou admitirei faltas de educação, faltas de respeito ou ameaças tentadas ou concretizadas.
E não me venham com os blá blá blás do costume "ai só foste para professor porque quiseste" e "tu é que escolheste". Já falaram assim de um médico? Ou engenheiro? Ou advogado? Pois é. Critica-se o professor porque ganha bem (ahahahhahahaahahhahahahhahaha), tem 3 meses de férias (um dia, trocamos. Troco os meus 3 meses de férias por 1 mês de férias em época baixa), não trabalha (ahahahhahahahahah, vamoláaver: ontem tive 2 reuniões online e uma terminou às 20h; há conselhos de turma a serem marcados aos sábados; as secretarias cada vez empurram mais trabalho administrativo para professores, etc e tal), as editoras até dão prémios (ahahahhahahaah se derem uma pen que funcione com o livro interativo, já é uma sorte), não gastamos o nosso dinheiro em material (um dia, hão de falar com o meu marido. Ele vos dirá como eu faço com o material para a escola. E quanto gasto.) e mais um par de botas.
Eu não quero levar no focinho.
Eu não sou saco de pancada de ninguém, nem miúdos nem graúdos, nem sozinhos, nem em manadas.
Se não se desrespeitasse a classe docente (muitas vezes, a começar pelos próprios professores. Sim!!! Já este ano fui acusada de ser demasiado nova e não saber o que era a vida por um "colega", pouco mais velho que eu); se o Governo, em vez de fazer disparates atrás de disparates a querer ganhar opiniões públicas ignorantes e a querer fazer da escola um verdadeiro colégio interno público grátis e a desvalorizar as habilitações para a docência, governasse como deve ser e trouxesse de volta o respeito perdido, talvez, talvez, não se ousasse levantar a mão contra um professor ou injuriar um professor. Não precisamos de voltar ao tempo da "senhora professora" quase tão sagrada como o padre mas eu cá gosto muito de respeito pela minha pessoa, pela minha profissão e pelo que faço.
Eu não sou saco de pancada. Nem eu nem nenhum professor.
E escusam de vir com outros blá blá blás de "ai mas os professores também abusam". Certo. E para os abusadores existem mecanismos de contenção e de apuramento de responsabildades, ou não? Os médicos não abusam, são sempre certinhos, acertam nos diagnósticos todos, são todos muito humanos e maravilhosos, é isso? E os advogados também ganham sempre as causas todas e vão acabar com os crimes de pedofilia e violência doméstica em Portugal. E os engenheiros aeronáuticos vão colocar um satélite português em Júpiter só para rivalizar com a NASA. Ai não? Não é assim? Mas devia. Se eu tenho que fazer papel de progenitor na escola, de ser enfermeira e auxiliar, por que o médico não o faz também? Ou o engenheiro? Ou o farmacêutico? Não pode? Mas podem ser professores, não é? Ai isso, já podem? Ah, está bem. Mas têm habilitação para a docência? hã... o Governo diz que há uns créditos. Ok, e fizeram disciplinas educacionais ou estágios ou deram aulas assistidas avaliadas? Não? Mas podem ser professores... Eu sou mãe de duas meninas autistas. Posso ser médica do neurodesenvolvimento e autismo? Não? Mas porquê?? Tenho tantas formações e até tirei 3 cursos pela Universidade de Genebra! Não posso? Que coisa... Mas o neuropediatra pode ser professor (se estiver louco e desesperado, claro)? Está bem, então.
Minha gente. Eu não levo pancada. E, se, eventualmente, isso acontecer, ou eu estarei outra pessoa ou algo de muito grave e sério se passará a seguir.
Eu quero e exijo respeito. Podem não gostar de mim, mas têm de me respeitar. E com isso acresce a minha escolha profissional. Porque, no dia - e asseguro que falta muito muito pouco - em que todos os professores se fartarem de apanhar e desistirem, deixará de haver educação. E aí entraremos naquelas distopias orwellianas e o poder estabelecido rejubilará porque um povo burro é um povo controlado e obediente. Só não quero é as minhas filhas metidas nessa carneirada.

 

 

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publicado às 13:50

Falta muito para as férias?

por t2para4, em 12.06.22

Não tenho memória de um ano letivo tão exigente e exaustivo como este. Talvez pelas acumulações, talvez pelo trabalho, talvez pelo excesso de burocracia.
São avaliações, rubricas, provas de equivalência à frequência, provas extraordinárias de avaliação, critérios de correção e critérios de classificação, informações-prova, provas orais, cotações. E repete a preparação das provas não uma, não duas, mas três ou quatro vezes porque as coisas não batem certo logo à primeira e há toda uma formatação excessivamente formal para manter.
São grupos de trabalho, aplicações, vigilâncias, correções, impressões, autoavaliações, grelhas, plataformas.
São festas e ensaios e poemas e desenhos e palcos e público.
São horas de downloads no IAVE para impressão de provas de treino para as piolhas e áudios e correção. E vai mais uma voltinha que, apesar de as provas não contarem para nada, sei lá eu o que o futuro nos reserva e se elas quererão fazer exames nacionais no secundário.
São conteúdos para terminar e é aquele velho malhar em ferro frio: eu já não aguento, os miúdos, então, estão de todo. Só me apetece fugir. Aulas? Rua. Todos, eu e eles. Jogos.
Almoços, jantares, lanches, café. E há almoço no frigorífico, liguem se tiverem alguma dúvida, está aqui uma lista de tarefas para fazer. Ficam sozinhas em casa mas já sabem as regras todas, em última instância, peçam ajuda aos vizinhos ou lojas ali da frente porque toda a gente vos conhece. Vão dando notícias durante o dia. E, no final das aulas, 45 km = 40 minutos.
E viroses. Puta que pariu. Eu já estou tão cansada... E ranhos e vómitos e bílis e alergias e viroses e dores de garganta e um calor que parece que estamos todos na menopausa e febre, a puta da febre, que não deixa ninguém dormir.
Estou exausta. É isto quando chego a casa. Preciso mesmo de parar um bocado, fechar os olhos, descansar a cabeça antes de me atirar ao trabalho, aquele que não se faz na escola, que não se vê, não se valoriza, ninguém conhece (a menos que seja prof) e não é, de todo, pago.
Tenho tentado acompanhar o ritmo e até pus aquele artigo para poder fazer tudo o que estava em atraso.
A coisa vai, só preciso de descansar um bocadinho.

 

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publicado às 13:36

Onde está essa aldeia?

por t2para4, em 23.05.22

Dizem que é preciso uma aldeia para criar uma criança.
Onde está essa aldeia quando surge uma família atípica - tantas vezes que essa família é apenas um progenitor e a sua prole?
Onde está essa aldeia quando uma família atípica se vê sozinha?
Onde está essa aldeia quando uma família atípica não tem absolutamente ninguém no mundo?
O meu maior medo, enquanto as minhas filhas foram não verbais, era este: desmaiar ou morrer e elas não saberem o que fazer ou como pedir ajuda até aparecer alguém.
Infelizmente, para esta mãe, o seu pior pesadelo concretizou-se. E o filho esteve não um, não dois nem três dias, mas 12 (doze!!!!!!!) dias, quase 2 semanas sozinho com a mãe morta. E ninguém apareceu.
Onde está essa aldeia?

 

https://www.publico.pt/2022/05/23/impar/cronica/crianca-autista-ficou-12-dias-sozinha-casa-mae-morta-2007041

 

 

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publicado às 20:35

A tendência para a História se repetir

por t2para4, em 27.02.22

Falamos muito de História cá em casa, pois é tema que nos fascina. E vêm-se muitos episódios sobre acontecimentos históricos. Mas também se fala muito de realidade por cá. As piolhas sabem que já trabalhei com alunos de nacionalidades israelita, síria, ucraniana, russa, e, mais recentemente, de PALOP. À exceção destes últimos, todos os restantes tinham algo em comum: eram refugiados de guerra. Fugiram, deixando tudo para trás, do barulho e perigo das bombas, dos ataques, da vida em bunkers, da morte.
Sempre que algum desses alunos deixava escapar uma memória (lembro-me de um que fugiu da Síria para o Egito antes de ir para França e depois para Portugal), a minha mente fazia um esforço gigantesco para tentar sequer visualizar como teria sido essa provação e o meu coração encolhia até quase não bater. Nenhuma criança merece passar por isto, nenhuma. Nenhum ser humano merece fugir de uma guerra que nunca pediu e não fez nada para a despoletar.
No dia em que a Ucrânia foi invadida, eu nem conseguia imaginar a dor com que uma amiga devia estar por ver o seu país a ser destruído (vamos deixar as razões para os verdadeiros entendidos), ou tentar contactar a família. E eu deixei as piolhas na escola, no meu país seguro, na minha vila segura onde conheço quase toda a gente e todos nos conhecem e ia olhando para todos aqueles miúdos e pensava com dor como seria termos todos de fugir à pressa, no meio do caos. E fui trabalhar com o coração apertado, a imaginar cenários dantescos e a agradecer estarmos neste cantinho.
Os meus alunos não estavam muito melhor que eu... A minha aula de Inglês foi substituída por uma aula de História recente e de Cidadania. Copiei descaradamente a ideia de um professor meu amigo sobre o que faríamos, sentiríamos, colocaríamos em menos de 5 minutos numa mochila antes de fugir na direção oposta ao avanço do inimigo. Todos os nossos pensamentos foram para a família. É o mais importante.
Não devíamos ter de vivenciar estas experiências, nenhum destes conflitos bélicos. Lembro-me da Guerra do Golfo e sentia medo de que, sei lá como, cá pudesse chegar. Jamais pensei que, em pleno século XXI, ainda houvesse cenários de guerra, fosse onde fosse.

 

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publicado às 20:47

Deixem o Queiroz em paz

por t2para4, em 07.03.21

Desafio(s) para interpretantes pessoais que insistem em ler obras, estudar quadros/pinturas/frescos à luz de um contexto atual e sem a mínima consideração pelo devido enquadramento histórico, político, social e geográfico da obra em mãos:
- não faltem às aulas de Português (ou outras línguas) nem de História;
- verifiquem em que ano a obra foi escrita/pintada/produzida;
- verifiquem em que país se enquadra essa obra/autor;
- leia-se, veja-se, aprecie-se às luzes desse prévio trabalho;
- aprenda-se com o que se lê/vê/observa.


Querer reescrever a História (mesmo que se recorra a disclaimers) é, no mínimo, uma cena muito orwelliana e nada, nada, absolutamente nada saudável - além de que não se aprenderia nada com isso.
Querer contaminar os artistas de outrora com as visões da sociedade atual é isso mesmo: contaminação.
Haja o mínimo de noção e vejamos as coisas como elas são, no tempo em que surgiram, sim? Menos, minha gente, muito menos.

 

 

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publicado às 15:38

Novo texto em https://uptokids.pt/opiniao/cronicas/o-estado-falha-e-nao-da-o-exemplo/?fbclid=IwAR2LyAuDIosEIMk9kNNim8e2ttwcSj-SZqfJ3Mj7XGblIANn9NzP7wiu_IM

 

O Estado falha e não dá o exemplo. Mas se eu estiver à espera, quem falha sou eu.

 

O Estado falha e não dá o exemplo. Mas se eu estiver à espera, quem falha sou eu.

Quando, em 2010, aquando do diagnóstico nos foi dito que as piolhas precisavam de “terapia da fala para ontem” (sic), a primeira coisa que fizemos foi tratar do assunto e questionar a intervenção precoce nesse sentido. Acontece que, como nos fomos habituando a ouvir ao longo destes anos, há casos mais graves (apesar de elas não serem verbais na altura), a lista de espera é grande, só nos puderam dispensar uma educadora de educação especial e depois uma psicóloga – e não em simultâneo.

Ou seja, face à falta de resposta do Estado – apesar do direito das piolhas a este serviço – fomos procurar fora o que precisávamos desesperadamente – e pagámos do nosso bolso. Sem apoios, sem subsídios, sem ajudas. E não foi por falta de tentativas. Os tempos eram outros, alguns dos apoios que há agora não existiam na altura, para os que há não éramos elegíveis.

Passou-se o mesmo com terapia ocupacional.

E passou-se o mesmo com reforço de terapia da fala.

E passou-se o mesmo com psicologia.

Procurámos fora a resposta de que precisávamos e pagámos. Apesar de a legislação em vigor prever um apoio.

Passa-se o mesmo, embora numa escala profissional e um pouco difícil de ver a comparação, com o trabalho de um professor.

E eu até arrisco a dizer “professor contratado”, o tal que, apesar de fazer a mesmíssima coisa que um professor do quadro, ganha menos, não progride, não é avaliado justamente (sim, eu nunca tive um Muito Bom apesar de quantitativamente o merecer), não usufrui em pleno dos direitos previstos no Estatuto da Carreira Docente e mais uns quantos diplomas legais. Por exemplo, não posso tirar uma licença para ficar com as minhas filhas, em caso de necessidade. Uma baixa, uma licença sem vencimento, por aí, ainda vá. Não posso concorrer para ficar colocada no cu de judas e pedir aproximação à residência por motivos de deficiência/apoio a descendentes. Mas adiante. São as opções que tomo e não me arrependo. No entanto, estas minhas opções acabam por me lançar em duas vertentes: a de professora com contrato por conta de outrem e a de trabalhadora independente.

Ora, para eu sentir e saber com toda a certeza de que estou a trabalhar com as condições a que me proponho e que proponho oferecer aos meus alunos com a preparação do meu trabalho, eu preciso de material. Logo, preciso de computador/es, projetor, monitor, tablet, smart pen, manuais técnicos de apoio, programas de tradução, impressoras, internet, etc. Ou seja, eu preciso de material para preparar e apresentar as minhas aulas, com base no que eu ambiciono ter como resultados.

Numa empresa – mesmo pública – teria esse material à disposição para uso profissional e faria todo esse meu trabalho no local. Requisitaria todo o material de que necessitasse. Não precisaria de fazer de casa a extensão do meu posto de trabalho.

E esse local chama-se “Agrupamento de Escolas de Unicornilândia”.

Num agrupamento de escolas do nosso país, na maioria das vezes, os computadores demoram quase 10 minutos a arrancar, não têm os programas de que necessitamos para ler um simples ficheiro audio, a conversão online demora mais de 20 minutos (se for autorizada pela rede e se a net estiver em dia bom), faltam canetas dos quadros interativos (se tiver a sorte de ter um na minha sala – coisa que não me acontece desde… bem, desde há uns bons 6 ou mais anos), o projetor está sempre ocupado e tem lista de espera, não há uma simples extensão elétrica, nem pensar em conseguir encontrar livros técnicos recentes na biblioteca escolar quanto mais programas licenciados de tradução ou educação e, não sendo eu de educação especial, desses muito menos, e do resto nem vale a pena falar. Tablets? Monitores auxiliares? É a gargalhada geral.

Pois bem, eu cá gosto pouco de ficar à espera e, tendo em conta a dualidade público-privada-desenrascada da minha profissão, eu tenho todo esse material. Mas é MEU. Comprado e pago por MIM, sem patrocínio ou apoio estatal algum. Pago inteiramente por mim. E, por isso, não empresto a ninguém (o que incluiu colegas) e reservo-me ao direito de usá-lo na sala de aula a meu bel-prazer, de acordo com o plano de aulas que tenho preparado.

Ora, mas agora estamos em teletrabalho e o Estado deveria comparticipar esses gastos ou, pelo menos, requisitar o teu material.

Sim, deveria. Mas eu sou uma mera professora contratada a quem foi atribuído um número gigantesco de identificação para efeitos de concurso, que ninguém conhece e de quem ninguém quer saber e que também trabalha por conta própria. E que não consegue lidar com as frustrações de não conseguir trabalhar com material obsoleto e não quer desconfinar à força. E que já usa todo este material para preparar as aulas e atividades e burocracias da sua atividade como trabalhadora independente.

Percebo, com toda a legitimidade, a posição de colegas que estão contra o uso da sua propriedade por parte do Estado. E também percebo, com toda a legitimidade, a posição de colegas que não estão para mexer num vespeiro.

Mas eu preciso destas coisas.

E preciso de um salário. Preciso de tempo de serviço. E não consigo deixar de me preocupar em não conseguir fazer as coisas minimamente quando, afinal, tenho tudo de que preciso. Meu mas ao serviço do Estado, é certo. Apesar de ser o mesmo Estado que me falha em relação aos meus direitos e aos das minhas filhas.

Do que eu não preciso é de críticas e de pseudosuperioridades por parte de colegas porque todos fazemos o mesmo: procuramos soluções quando não há.

Há quem, como eu, opte por investir e ficar com material que pode usar da forma como quiser; há quem opte por se sujeitar ao que o Estado tem – e não são os top do parque tecnológico escolar.

Se eu tivesse ficado à espera do Estado e não tivesse pago por fora, as minhas filhas nunca teriam passado de não verbais para verbais; se eu me recusasse a usar o meu material neste momento, teria de voltar à escola e deixar de as apoiar (professora contratada, remember?) e sofreria penalizações por ter trabalhar como independente mas não como contratada. Nada é fácil neste retângulo à beira-mar. Mas esta é a minha posição. Não me importa o que pensam os outros. O Estado falha.

O Estado falha e não dá o exemplo. Mas se eu estiver à espera, quem falha sou eu. E isso eu não suporto.

 

 

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publicado às 16:21

Dia #1 - E@D versão 2021

por t2para4, em 09.02.21

É só o primeiro dia.
Mas só agora desliguei o computador.

Hoje houve de tudo: lágrimas de frustração e de raiva; vontade de atirar PC janela fora; vídeochamadas que foram abaixo milhentas vezes; uma piolha no computador da mãe para perceber onde estava o problema; impressão de dezenas de páginas; envelopes gordinhos com materiais para enviar hoje para alguns alunos (da minha atividade paralela); reunião geral de professores com direito a fazer a ata; agendamento de várias salas de reuniões em plataformas diferentes; atualização de classrooms; elaboração de planos de trabalho para partilha obrigatória aos alunos; elaboração da atividade de S. Valentim para miúdos e graúdos com as devidas adaptações; preparação de material para as aulas; palavras de conforto para filhas, alunas lavadas em lágrimas e pais com dificuldade em colocar os dispositivos a trabalhar; preparação do almoço e jantar; máquinas a lavar e secar; análise das nossas dificuldades técnicas; redação de dezenas de emails; um ibuprofeno para as dores.

 

Somos 3 a usar rede de internet sem possibilidade de cabo; somos 3 a exigir aos PC que trabalhem em simultâneo em conferências e partilha de ecrã com documentos; somos 3 a recorrer ao telemóvel para nos socorrermos quando há algum problema; somos 3 em aulas diferentes. Todos os dias. Durante as próximas semanas (meses?).

Tem de haver alguma condescendência, dentro da segurança e aprendizagem dos alunos, claro. Tem de haver a perceção de que os equipamentos falham. E tem de haver noção de que isto não é uma extensão do ensino presencial.

E temos de aprender a ter calma. Mesmo. Ter calma. Senão, no final da semana, estamos todos no Sobral Cid. E eu não acredito que estejam a aceitar internamentos agora.

 

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publicado às 00:40

Das dúvidas que não são dúvidas

por t2para4, em 06.02.21

Creio ser seguro dizer que passei cerca das últimas 48h a responder às perguntas mais disparatadas, estranhas e até absurdas. E a fazê-lo de forma polida, educada e indubitável (mesmo que me sinta o Hulk a explodir de raiva).

 

“Lamento mas não podemos ter aula via Facebook. A escola tem uma plataforma para todos os intervenientes e será essa que eu irei também utilizar".

“Lamento mas não poderá enviar os trabalhos via Messenger. A escola tem uma plataforma para todos os intervenientes e será essa que eu irei também utilizar".

“Lamento mas não podemos criar um grupo no WhatsApp, não só pelas suas limitações na partilha de imagem e documentos em ecrã como também não pretendo disponibilizar o meu número de telemóvel. A escola tem uma plataforma para todos os intervenientes e será essa que eu irei também utilizar".

“Lamento mas os prazos de entrega estipulados são para cumprir. Receberei e corrigirei os trabalhos mas, como constará dos respetivos critérios de avaliação da atividade pedida, o incumprimento do prazo implica penalização na atribuição da nota”.

“Lamento a sua dificuldade de recursos materiais. Deve expor a situação à escola e, enquanto se analisa, o seu filho/educando deverá estar presente, no telemóvel, e enviar os trabalhos pedidos. Não será penalizado pela forma de envio, por isso, pode fazer no caderno e enviar fotografia”

“Lamento mas não há lugar a compensação de aula no caso de falta do seu filho/educando. No regime presencial tal também não acontece. Deve justificar com quem de direito e esclarecer as suas dúvidas da aula comigo, se for o caso”

“Sim, a disciplina continua a ser curricular no ensino à distância e continua a obedecer aos mesmos critérios de avaliação do regime presencial”

“Sim, será esta a plataforma a usar uma vez que a escola disponibilizou para todos os intervenientes e será essa que eu irei também utilizar".

“Se o seu email institucional não funciona deverá contactar a escola para perceber o que se passa. Lamento, mas não posso ajudar”

“Sim, tem de utilizar o email institucional disponibilizado pela escola pois a plataforma não aceita outras extensões”

 

Bem-vindos ao mundo real, onde isto existe mesmo.

Socorro.

Que os anjos vos protejam, coragem, boa sorte, namastê (ou a professora exausta que há em mim saúda o semelhante que há em ti), muita cafeína, um copo à refeição até é permitido, mais cafeína e que nos valha Santo E@D.

 

 

 

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publicado às 20:49

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