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Hoje não trago mulheres importantes na/da História; trago as minhas filhas.
Hoje homenageio as minhas filhas e parabenizo-as por tudo o que são. As minhas filhas (feminino plural) são neurodivergentes - são autistas - e, contra muitas das expectativas mais negras que as foram acompanhando até ao presente, têm lutado contra o estigma e essas expectativas, provando, todos os dias, a todo o momento, que são muito mas muito mais do que umas palavras duras escritas num relatório e que não deixam que as tais palavras duras, as pessoas que as rodeiam de uma forma ou de outra ou a sociedade lhes imponham limites, lhes digam que não são capazes. São sim. Aprenderam desde cedo a não ter limite de horários porque precisaram de trabalhar "n" vezes mais do que os seus pares, a ultrapassar as dificuldades que foram surgindo nos seus caminhos, a mostrar que são grandes, que podem e conseguem aprender, que não são diminutas nem querem ser diminuídas.
As minhas filhas serão as mulheres do amanhã. E eu confio cegamente no seu apurado sentido de justiça, no seu discernimento ingénuo mas leal, no seu carinho, no seu respeito por tudo o que as rodeia, no seu mau feitio terrível que pode vir a protegê-las de dissabores, na sua amizade única uma para com a outra. Porque elas foram educadas para isso. São o nosso orgulho e são um grande orgulho. Hoje, acima de tudo, também assinalamos todas as suas conquistas. E que muitas foram. E que muitas serão. Não duvidamos nem deixamos que elas duvidem.
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Chegámos àquela fase da revisão editorial do que se fez ao longo do ano - mas sem a vantagem (ou não) de se poder fazer alterações.
Ora bem, depois de me despistar no gelo, enfiada num local para lá de onde Judas perdeu as botas e o resto da roupa, sem rede de telemóvel, começou o medo, a ansiedade e o pânico que me levariam, em agosto, a pedir ajuda à minha neurologista. Pensando bem, muito aguentei eu, sem que quase ninguém se apercebesse.
Depois, duas semanas apenas, avançámos para um segundo confinamento logo em janeiro - depois de eu sempre ter dito que o ideal seria continuar as férias de Natal por mais uma semana ou duas - e, desta vez, avisei logo as escolas que não iria ter as piolhas - ou eu - a trabalhar noite e dia e muito menos a aceitar trabalhos de alunos via Facebook ou Messenger (como uma Encarregada de Educação insistia). Acabei por trabalhar o triplo por causa da restruturação dos horários do secundário (aulas práticas vs aulas teóricas) mas tudo correu lindamente. Os meus alunos assitiam às aulas, faziam os trabalhos todos e raramente entregavam material fora do prazo. O meu forno, actifry e cooki trabalharam arduamente, a máquina do café (oh meu deus, oh meu deus, isso não!!!) e a picadora avariaram. Voltei a poupar no combustível e no desgaste do carro, acordava cerca de 45 minutos antes das aulas, arranjava-me maravilhosamente só da cintura para cima, voltei a usar os meus batons. Mas foi intenso. Tinha aulas todo o dia. Regressámos pouco depois da Páscoa... A medo, novamente, sem saber bem o que nos esperava.
Vieram as vacinas. Os professores lá foram considerados trabalhadores essenciais e blá blá blá. Andei quase 3 meses a bater mal. Tensão arterial extremamente baixa, uma falta de ar tremenda, um cansaço atroz, uma viagem de INEM com saída da escola... Ponderei seriamente não levar a 2ª dose, afinal, o meu corpo tinha simulado ter tido covid. Mas lá fiz o plano aconselhado. No caminho descobri que o meu coração tem uma válvula mitral abaulada em fase II e que as minhas tensões arteriais de passarinho vêm daí. Quer o cardiologista quer a neurologista aconselham-me café (quase) sem restrições - o que foi coisa que me deixou muito triste, como devem calcular ;)
Descobri que tenho PHDA, o que trouxe imensas respostas e uma sensação de closure. Faz todo o sentido, até a minha mãe sentiu esse mesmo sentimento de closure porque ela sabia que o meu comporatmento não era típico. Pobre mãe: levou com uma maria-rapaz e outra tão sossegada que era preciso ir ver se respirava. Viva a neurodiversidade porque, tal como eu, ela levou com isso. E nos anos 80 e 90 do século passado, isso era dose.
Continuámos a participar em projetos e estudos relacionados com a Perturbação do Espectro do Autismo e consegui fazer dois cursos em francês, apesar de todo o trabalho e vida agitada. Ultrapassei o meu objetivo de leitura de 20 livros e acabei por ler cerca de 23 ou 24. Nada mau!!! E a leitura foi coisa que se manteve obrigatória cá em casa - para todos.
O Verão foi nosso amigo. Fizemos férias fora de casa!!! Pode parecer tão simples para outros mas para nós isto é gigantesco. 5 dias com as piolhas fora de casa, completamente entusiasmadas e a pedir mais? Jamais imaginaria que pudesse ser possível. Ia já de férias outra vez.
Setembro foi nosso amigo e começou com um horário mais que completo para mim (apesar de eu estar em 3 escolas diferentes) e suavemente para as piolhas. O seu último ano do 3º ciclo decorre sem incidentes - ao contrário de anos anteriores que até pensei em apresentar queixa nas autoridades policiais - e elas têm notas fantásticas. Ao longo destes anos de apoio e presença da mãe, aprenderam a saber como desenvolver hábitos e métodos de estudo autónomos e hoje só precisam de mim para lhes encontrar testes ou fichas ou exames de treino.
À semelhança do ano passado, não correu nafda mal. Dentro do possível, houve saúde, tivemos trabalho, mantemos os nossos empregos, a situação financeira é estável, conseguimos cumprir as metas a que nos propomos todos os janeiros. Continuamos uma família unida, segura e sólida. E não há nada de que me orgulhe mais. Todo o ano.
Agora é deixar vir 2022 e desejar que nunca pior ;)
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Gosto de fazer anos.
Gosto de ir somando os anos e de festejar mais um aniversário.
Gosto de pesquisar imagens de bolos e de escolher decorações, recheios e sabores.
Gosto de receber prendas, telefonemas, mensagens.
Gosto de sol no meu dia de anos.
Gosto de dias pacatos, sem chatices e sem complicações.
Gosto de refeições simples com a família e de cantar "parabéns a você".
Gosto do arroz-doce da bivó a acompanhar o bolo de aniversário.
Gosto de balões, bandeirolas, fitinhas, guirlandas e decorações em geral.
Gosto das coisas simples, com sentimento.
Gosto de fazer anos.
E, este ano, somo 41.
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Um feliz dia para todas aquelas que perderam o nome próprio e ganharam um novo no momento em que apareceu um risco extra no pauzinho.
Se tiverem muita sorte, deixam de ser apenas "mãe" para passarem a ser "mãe das gémeas" ou algo assim do género.
É assim há 13 anos. Não o trocaria por nada (embora, às vezes, gostasse de ouvir o meu nome corretamente, vá. Não me parece que a Conservatória do Registo Civil aceite "mãe" como nome próprio - mesmo que o seja...)
Bónus: imagem do momento em que ambas tagarelavam sobre o assunto, já às 12 semanas. Isto já foi tudo combinado com muita antecedência, obviamente, não nos iludamos.
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Conversas em viagens de combóio, leituras, amizades em comum. Um desespero com lágrimas porque risquei um carro com o espelho do carro da minha mãe, ao ser perfecionista demais para o estacionar. Um pagode na resposta dele porque já entrara uma escada pelo carro da mãe adentro. Uma amiga de infância de um e amiga de faculdade de outro, mas uma amiga para a vida, ali a ver que estava a passar-se algo. Horários de idas e vindas para a faculdade combinadas. Ele da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra, ela da Faculdade de Letras - o engraçado era ser ali que ele passava mais tempo. Idas ao cinema para aproveitar que se estava em Coimbra, baldas às aulas mais chatas onde não passava o papel das assinaturas. Histórias de encantar pelo meio com misturas de sonetos de "Sonho de uma noite de verão" de Shakespeare. Papel de carta com joaninhas nos envelopes. Horas de espera comigo para fazer uma simples matrícula no Palácio dos Grilos. Decisões que se foram tomando sem nos apercebermos ("se calhar, estudar e trabalhar nem é muito complicado. Aqueles seguranças ali não me parecem qu etenham uma vida complicada"). Um traje vestido anos depois só para fazer a vontade dela para as fotografias e cortejos de Queima das Fitas sui generis. Pequenos arranjos num computador que foi mais caro do que alguns carros que já comprámos. Esperas melosas entre aulas nos bancos dos corredores do São Jerónimo, no Jardim Botânico, no Parque, nos Departamentos de Física e Química, no novíssimo a estrear Polo II para onde se apanhava o autocarro (hoje é o 38 mas, na altura, ia jurar que era o 32). Idas às urgências dos HUC por causa de pequenas maleitas que surgiam durante o dia de aulas. Muitas ideias empreendedoras e de como começar uma vida. Planos a longo prazo. Casar, por que não? Um anel lindo. A idealização de compra de casa. A concretização de compra de casa.
Divido a minha vida em a.M. e d.M - antes do M. e depois do M. E é uma vida feliz, apesar de tudo. Tudo começou há 20 anos. Não mudaria nada. Talvez antecipasse uma vida conjunta. O meu d.M. tem sido uma viagem fantástica na qual não me arrependo de embarcar, nem por um minuto.
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É aquela altura do ano.
É aquela altura de colocar na lareira as nossas tradições familiares mais antigas - os postais elaborados, desenhados e coloridos pela Ester e Beatriz.
É aquela altura de imprimir, cortar na guilhotina, escrever e enviar por correio. Ou colocar dentro do saco das prendas. Ou enviar via messenger para todos.
É aquela altura do ano de partilhar o postal de Natal de 2020 da família do t2para4.
É aquela altura do ano em que desejamos umas festas felizes, plenas e iluminadas.
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Aproximamo-nos aceleradamente daquela fase em que, em anos ditos típicos, começaria a loucura dos jantares e das festas e das celebrações - escolares ou não - de Natal.
Este ano, esta mãe horrível e sem princípios, regozija-se de NÃO haver festas, festinhas, celebrações, celebraçõezinhas, jantares, jantarinhos de Natal com trocas mais ou menos simbólicas de prendas e prendinhas, a cujos eventos "temos" de ir porque fica bem, parece bem e cai bem. E temos de usar uns modelitos vestuários que não combinam nada com o tempo atmosférico e eu ando sempre com frio. Ou fico quentinha ou fico sexy, as duas não dá.
Eventos sociais que eu de-tes-to.
Este ano, pela primeira vez, não preciso de justificar por escrito pela enésima vez que as piolhas não participam nestas coisas porque têm desregulação sensorial, porque são dias confusos e sem rotinas, porque há demasiada confusão. E ter de fazer uma mini palestra sobre autismo porque "não parece nada, elas andam tão bem na escola".
Este ano não há nada para ninguém e eu não estou absolutamente nada triste com isso. Na verdade, sou até gaja para brindar a isso.