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Esta noite, antes de adormecer, o meu adorado cérebro decidiu ir buscar uma série de memórias e afins, sei lá com que intuito. Mas, no meio daquilo tudo, apercebi-me que já passámmos por muitos tipos de pessoas de quem deveríamos ter fugido logo no dia em que no Hospital Pediátrico nos disseram que as piolhas poderiam estar no Espectro do Autismo.

Assim, aqui vai um apanhado de fugir: temos as devidas identificações e as respetivas habituais perguntas ou frases mais utilizadas.

 

1. A Opositora

"Não pode ser, foi engano."

"O teu avô também era assim e não tinha nada disso".

"Tu também eras assim e os médicos disseram que isso era normal"

"O filho da vizinha da avó do cunhado da filha do padeiro também é assim e ninguém lhe disse nada"

"Mas não parece nem se nota nada"

 

Este tipo de pessoa não questiona, não pergunta com o intuito de aprender ou compreender, apenas se limita a disparar o exato oposto do que um médico possa diagnosticar. Fujam.

 

 

2. A Espalha-coitadinhos

"ohhh, coitadinho... tão novo..."

"Ohhh, e agora? Coitados de vocês..."

"ohhh, mas não parece nada... coitadinhas..."

 

Da boca deste tipo de pessoa, todas as frases têm de ter um adjetivo complacente, uma interjeição no início ou no fim e ser pontuada por suspiros profundos e arrebatadores, doloridos mesmo. Fujam.

 

 

3. A wannabe médica

"Isso não é nada. Passa com um castigo/palmada".

"Tu é que as pões doentes".

"Isso não é doença nenhuma"

"Agora é tudo moda, é tudo autismo e hiperatividades"

"Isso passa com a idade"

 

Este tipo de pessoa passou ao lado de uma carreira de medicina que culminaria com o cargo de Professor. Infelzmente para ela, felizmente para nós. Fujam.

 

 

4. A Farmacóloga

"Este medicamento é recomendado para casos assim."

"Este suplemento alimentar vai fazer milagres e vais ver logo diferenças"

"Experimentar dar este emdicamento e elas vão acalmar"

"Dá-lhes isto e elas vão dormir" 

 

Este tipo de pessoa ansiava trabalhar numa multinacional na área da farmacologia e fazer milhões. Infelizmente para ela, ficou-se pelo ansiar. Felizmente para nós, só pode mandar bitaites. Fujam.

 

 

5. A Palpiteira

"Eu cá, fazia assim e assado"

"Se fosse comigo, eu iria abordar esta e esta aborgadem"

"No teu lugar, eu comprava isto ou aquilo ou experimentava esta ou aquela terapia"

 

Este tipo de pessoa é bom para vos auxiliar com os números do Euromilhões. De palpites percebe ela! Fujam.

 

 

6. A Cientista

"Já experimentaste a terapia da hipnose não sei quê?"

"Sabias que existe uma nova técnica para tratar de casos assim?"

"Descobriram uma nova causa do autismo. Se calhar foi de lá que veio o vosso"

 

Este tipo de pessoa não quis ir para medicina ou farmácia; ciências é que era a cena. Mas não passou do 9º ano e pronto, virou cientista de sofá pelo Google. Fujam.

 

 

7. A Hippie-zen-paz e amor ao bicho

"A tua criança é uma criança especial, é um cristal índigo que te escolheu como mãe"

"Foste escolhida para seres mãe destas crianças tão especiais aos olhos do universo"

"Ouçam a natureza. Voltem-se para a natureza"

"Sigam uma dieta livre de tudo e vivam de ar, engarrafado, porque o outro está poluído"

"O autismo é uma benção."

 

Este tipo de pessoa anda ali na borderline entre o nosso mundo e o mundo do autismo porque, honestamente, não parece que viva no mesmo planeta que nós. Sempre cheia de boas intenções e de voz pausada e melodiosa, enerva porque existe. Fujam.

 

 

8. A Religiosa

"Deus só te dá as batalhas que consegues travar"

"Tens de as batizar e isso passa"

"Volta-te para Deus, Ele vai ajudar"

"O Demónio tenta-nos, isso são coisas do Demónio..."

 

Esta pessoa leva-nos, de graça e com guia, ao século XVII ou até antes!, onde Deus está no centro do Sistema Solar e é a causa mas também cura de todos os nossos males. Filosoficamente falando, a vossa cabeça fica em água pois tudo nela é contradição. Fujam.

 

 

9. A Advogada de Acusação (também conhecida por Acusa-Cristos)

"A culpa é toda tua!"

"Se tivesses feito isto e isto, na gravidez, elas não seriam assim!"

"Isso são coisas dos teus lados da família"

"Se não as tivesses posto na creche, elas não teriam ficado assim!"

 

Este tipo de pessoa faria um figurão em tribunal, se a deixassem. É direta, desprovida de emoção, acredita piamente nas suas afirmações acusatórias e o seu tom de voz demonstra isso mesmo. Outra que passou ao lado de uma carreira estonteante. Fujam.

 

 

10. A Modernaça

"A culpa é das vacinas"

"Esta dieta, desprovida de tudo (até de comida), é milagrosa"

"Comprei um cão/rinoceronte/pterodáctilo e o meu filho curou-se"

"O meu filho vive numa redoma de vidro: não saímos nem vamos à escola."

"A escola é um antro de perdição. O país não presta. "

"Parei com isto e isto e isto e o meu filho foi curado"

 

 

Este tipo de pessoa é o mais perigoso e ignorante que existe. Numa tentativa de demonstração da sua liberdade democrática, coloca a liberdade e saúde de todos os outros em risco, acredita em estudos desacreditados, rejeita a medicina para os seus descendentes - embora ela própria recorra à medicina para si -, acusa todos os sistemas de um país de estarem desgraçados sem se informar das alternativas ou dos casos de sucesso nesses mesmos sistemas, todos os casos são menos graves que os dos seus filhos mas há sempre uma cura derivada de um ato deliberado da sua parte como não vacinar ou não medicar ou não matar os piolhos. Fujam.

 

 

 

Acho que poderia considerar mais 2 ou 3 tipos de pessoas de quem fugir - o que, inevitavelmente incluiria até membros da própria família - mas fiquemos por aqui. Algumas pessoas são até um mix de tudo isto e eu até me espanto de quanta estupidez e ignorância cabe num único ser humano. Nunca deixamos de aprender.

Por isso, nestes casos, fugir é uma coisa inteligente de se fazer. Física ou metaforicamente falando.

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 09:51

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17 comentários

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De Margarida a 06.09.2018 às 10:17

Se me permite a pergunta, e sem qualquer ironia, o que é então suposto dizer perante uma situacão semelhante? Pergunto porque eu própria diria umas quantas coisas citadas acima, sem qualquer intencão de ofender/magoar. 
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De t2para4 a 06.09.2018 às 13:07


Na via das dúvidas e se sentir desconfortável com o que vai perguntar ou dizer, o ideal é não dizer nada e oferecer-se para apoiar no que puder ou souber (um artigo que tenha lido, um médico que conheça, um centro de terapias, etc. Algo que conheça na 1ª pessoa e não do filho do vizinho do primo do padeiro).
Há coisas que nunca devem dizer-se, tais como, frases ou perguntas que ponham em causa do médico ou os pais da criança. Um diagnóstico não é dado de ânimo leve  - ou, pelo menos não deveria ser, mas isso já são outros quinhentos. 
Coisas extremamente pessoais como a vida familiar ("não vais ter mais filhos com esses assim, pois nao?"), religiosa ou clínica não devem ser ditas... São demasiado pessoais. 
Eu prefiro a via da honestidade: "Não sei muito sobre essa desordem/patologia/doença. Em que consiste?", "Posso ajudar em alguma coisa?", "Precisas de alguma coisa em especial: um terapeuta, médico, medicamento, etc.?". 
Uma pequena parte das pessoas não o faz por mal, acredito, mas, nos dias que correm, muitas vezes, muitas coisas soam a desinformação e a ignorância. E isso condiciona logo a atitude e o comportamento dessas pessoas perante nós. 
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De Mena a 06.09.2018 às 13:07

Era precisamente isto que ia perguntar, com a mesma intenção de apenas aprender o que dizer.
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De t2para4 a 06.09.2018 às 13:08

É ser honesta e dizer isso mesmo: quer aprender, desconhece e quer poder ajudar de alguma forma. 
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De Mena a 06.09.2018 às 14:00

Isso é sempre a melhor opção, sem dúvida.
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De Anónimo a 06.09.2018 às 17:44

O MAGANÃO: "Olhe menina, uma foda por dia nem sabe o bem que lhe fazia".
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De t2para4 a 07.09.2018 às 10:08

O melhor conselho de sempre ahahahhahahahahha
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De Sandra Prudencio a 06.09.2018 às 18:08

Sou mãe de uma menina autista de 3 anos e já ouvi um pouco disso tudo. É triste porque ao invés de encontrarmos algum apoio e conforto, nos sentimos impotentes e desamparados. Em todas as vezes, era por falta de informação mas foi desagradável da mesma forma. Adorei o seu blog e a maneira honesta e direta que vc trata esse assunto que é tão delicado. Muito obrigada 
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De t2para4 a 07.09.2018 às 10:09

Não tem que agradecer. Já estamos há uns anos neste barco e já ouvimos muita coisa, muitas vezes. No início doí amuito e enervava; agora estamos mais couraçados. Ainda magoa mas já não choca. As pessoas falam por falar, para evitar um silêncio, embora muitas vezes nem meçam o que dizem.
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De A Eficiente a 06.09.2018 às 20:45

O pior é quando há pessoas que têm várias dessas. Pessoas que conseguem de alguma maneira ter várias dessas frases sobre o mesmo assunto. Fuja mas para longe...
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De t2para4 a 07.09.2018 às 10:10

Sim, eu também digo isso no post: há pessoas que conseguem ser um mix de todos os tipos... tenho assim algumas na família...
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De Paula Alves a 07.09.2018 às 02:28

Adorei! É mesmo de fugir...eu sou mãe de uma jovem adulta com 20 anos ...e aquelas pessoas que chegaram a perguntar...autista..mas não ouve...valha a nossa paciência.
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De t2para4 a 07.09.2018 às 10:11

Por isso, prefiro a abordagem sincera. Prefiro mil vezes que me digam qu enão sabem do que se trata e me façam perguntas do que se ponham a debitar clichés e sabedorias saídas sei lá de onde...
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De Anónimo a 07.09.2018 às 09:11

Ja fostes🤔a lista é  tao extensa que raramente alguem escapa. Só alguem como "eu"que aprendeu sozinho que o melhor é cagar para os problemas dos outros, como da minha boca nao sai uma palavra as pessoas penso que sou um emocionado reservado...lindo.
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De t2para4 a 07.09.2018 às 10:14

Não há mal nenhum em ser sincero e reconhecer que não se sabe em que consiste esta ou aquela doença, este ou aquele síndrome. Faço isso todos os anos quando chego a uma escola pois não sei o que me espera do outro lado. Prefiro assumir que pouco sei em relação à necessidade especial de uma criança ou adulto e estudar sobre ela. 
A extensão da lista tem unicamente a ver com o que já ouvimos até agora e sempre de forma maldosa - vá, tirando a zen que até tem boa vontade mas parece que vive noutro mundo.
Até em relação a si as pessoas assumem algo, vê? Como não opina, é reservado ;)
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De Calimero a 07.09.2018 às 10:20

Adorei o seu post!
Nunca me revi tanto como nas suas palavras ..
Sabe,,com o passar do tempo vamos conhecendo todos esses tipos de pessoas..
E quando já temos o nosso caminho feito e a nossa mente em self defense :)
até nos rimos de tao tristes e poucochinhas que essas pessoas são..


beijinhos
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De t2para4 a 07.09.2018 às 12:25

É um bocadinho isso mesmo.
Beijinhos

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