Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
É a panaceia que se quer atribuir aos atuais sistemas, sejam eles de saúde, educativo ou até social. Promover a inclusão, falar de inclusão, proporcionar meios de inclusão é muito discutido e fica bem em qualquer documento - principalmente em relatórios ou atas de reuniões escolares. É, assim, tipo, chique, sei lá.
Mas, vamos começar do início, sim?
Comecemos pela definição mais básica, aquela que qualquer dicionário conteria:
(gosto particularmente, da origem "encerramento" - leia-se a ironia)
Portanto, é basicamente aceitar, abranger, incorporar como se de uma receita se tratasse, do género, "agora inclua os ovos e mexa. Ta-da! É só levar a massa ao forno, et voilà, l'inclusion parfaite".
Avancemos, agora, para um conceito do que é inclusão. Também é algo que fica bem num trabalho de secundário quando os alunos precisam de falar de algo muito abstrato e complicado e saem coisas assim:
http://conceitos.com/inclusao/
(inclusão por oposição a exclusão, nunca teria pensado nisso... Ironia, again)
Agora vejamos este artigo, na minha opinião, muito bem escrito e que mostra o lado perverso da inclusão tal como nos parece imposta nos dias que correm.
https://www.publico.pt/2014/03/17/sociedade/noticia/o-que-e-a-inclusao-1628577
E, agora, as minhas considerações:
De vez em quando, vou espreitar as piolhas à escola, nas horas do intervalo. E o que vejo são duas crianças perfeitamente incluídas na rede escolar e na turma. O que também vejo são duas crianças a passear sozinhas pelo recinto escolar porque não se sentem incluídas nas brincadeiras ou nas atividades dos colegas, embora estes as aceitem como são, ainda que com dificuldade em entender o patamar de desenvolvimento em que estão - uns e outros. A realidade é que, se, na sala de aula, as piolhas até podem estar mais à frente na compreensão imediata e direta dos conteúdos - esta é outra coisa que o nosso sistema gosta de perverter, como se o escolasticamente adquirido fosse alguma vez aplicável e aplicado no contexto da vida real sem sermos professores -, naqueles momentos de amostra real do que é a vida social, elas estão bem atrás dos colegas. Ainda não estão na fase parvinha mas normal das meninas apaixonadas pelos coleguinhas ou com conversas tolinhas mas normais sobre a família, as roupas, o drama que é ser-se criança nesta idade. E, honestamente, por muito que me doa vê-las sozinhas naquela escola enorme - e que seria o mesmo numa escola pequena -, até prefiro que assim seja pois não sofrem com a pressão do ter que estarem incluídas à força num grupo onde todos os sinais sociais são difíceis de interpretar e para os quais não possuem filtros, maturidade, leitores e lhes causaria uma ansiedade incontrolável.
Neste momento, na minha ótica, a verdadeira inclusão passa por uma coisa tão simples quanto básica e fundamental: a aceitação. A aceitação de que não podemos nem devemos ser todos iguais, de que há determinados apoios - nomeadamente terapias - que são necessários como de pão para a boca e não deveriam ser alvo de cortes cegos, de que a escola deveria ser bem mais do que apenas um poço de despejo de conteúdos e conteúdos onde não há tempo para mais nada a não ser livros e papéis e folhas e programas e metas e reuniões. Não há espaço nem aceitação pela diferença no criar, pela diferença do que é estar alheado daquele lugar mas ainda assim capaz de perceber o que se pretende aprender, pela diferença que é sermos quem somos, por estarmos mais atentos hoje do que alguma vez estivemos a direitos básicos .
Eu não quero crianças formatadas, zombificadas, incluídas sei lá em quê só porque há uma suposta norma do que é socialmente aceita fazer agora; eu quero crianças felizes e tolerantes, capazes de perceber que todos somos humanos, que todos temos direitos, capazes de respeitar e tolerar, de compreender o ser-se ou não parte integrante e incluída de um grupo, de um contexto, do que quer que seja.
De forma simplista, é esta a minha versão de inclusão. Não pretendo panaceias nem desdéns nem coitadinhices. Só pretendo que nos aceitem como somos. Simples, assim.
-------------- Estamos também no Facebook --------------------