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Somos um povinho hipócrita e moralmente falível. Discriminamos - negativamente e até positivamente - e abusamos do "coitadinho". Aceitamos, toleramos e até desculpabilizamos uma deficiência qualquer, desde que se veja, que entre p'los olhos dentro porque, afinal, está ali, vê-se tão bem, valhamedeuscoitadinho. Achamos que perturbações neurológicas são resultado destes tempos tecnológicos e que entram todas no grande saco sem fundo das doenças mentais e enchemos a boca para voltar a sacar do "coitadinho" ou para acusar de má-educação o próprio, os pais, os avós e até o cão e o gato. Abusamos da inimputabilidade da nossa ignorância - mesmo quando, diariamente, há mensagens subliminares, indiretas, diretas e até espalhafatosas do que é autismo/epilepsia/incapacidade cognitiva/síndromas raros/etc. - porque, na realidade, ter de aprender, ao fim destes anos todos, uma coisa que todos os outros dizem "no meu tempo não havia nada disto" e "é só modernices", dá trabalho, obriga a pensar e, mais grave ainda, força-nos a mudar os nossos comportamentos e atitudes. Criticamos até ao tutano as atitudes e esforços de pais informados e preocupados que não olham a medidas para cuidar dos filhos e chamamos a isso "frescura" (como se uma alergia mortal o deixasse de ser porque "eu sempre comi disso e nunca morri"). Tratamos de igual para igual, sem pensar duas vezes, uma criança como se fosse um adulto e despejamos numa criança as nossas frustrações e arrogâncias de gente crescida (mas só crescida de corpo porque a mentalidade, essa, é pequenina pequenina como um grão de areia e não há graus académicos nenhuns no universo que confiram humanidade e humildade a adultos presunçosos). Somos tendencialmente juízes e carrascos do que nos escapa, do que é diferente e, indiretamente, de nós mesmos pois, sem nos apercebermos, acabamos enredados na mesma corda com que queremos enforcar os outros.
As minhas filhas não engolem sapos e falam, na hora, o que pensam, cedendo a algum impulso, talvez. Talvez o tenham aprendido com o pai, talvez tenham herdado o mau feitio da mãe, talvez sejam a ausência de filtros sociais e excesso de racionalidade associados ao autismo. Talvez seja isso e muito mais.
As minhas filhas são crianças em fase de transformação - a mesmíssima transformação por que todos todos nós passámos, há 20 ou há 150 anos - e ,nesse campo, são iguais a nós.
As minhas filhas merecem ser tratadas com o devido respeito, a devida moralidade, a devida ética em todo o lado, sozinhas ou acompanhadas, sem desvalorização da sua capacidade cognitiva e, nesse campo, são iguais a nós.
As minhas filhas continuam - e continuarão - a ter uma mãe e um pai que as defenderão acima e contra tudo e todos.
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