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Falemos de enxaquecas

por t2para4, em 20.05.22
Começa com uma moinha incómoda e persistente na testa, perto dos olhos, a luz incomoda. Segue-se um crescendo das dores de cabeça, os olhos começam também a doer e até podemos ou não ver pontinhos brilhantes. Vem aquela sensação de náusea e de enjoo e de fome, tudo ao mesmo tempo. E uma enorme falta de paciência e de tolerância e o anseio pelo escuro e pela posição horizontal, pelo sossego e pelo silêncio. Tudo incomoda: o som dos passos no corredor, o cheiro a algo indecifrável que vem da cozinha, o antecipar da habitual pergunta “estás bem?”, o anseio irracional e supersónico de que a medicação faça efeito imediato. Tomam-se paracetamol e triptanos nas doses limite nos horários limite e deseja-se, do fundo do ser, que não seja uma crise de vários dias e que, depois de fechar os olhos por umas horinhas, tudo esteja melhor e que a tensão arterial não desça demasiado e não atrapalhe mais do que ajuda e que não se repita por mais dias e que não seja necessário fazer mais 6 meses de profilaxia.
Olá, eu sou a Mara e sofro de enxaquecas desde os 7 anos. E, habituada a um determinado perfil – demasiado violento e agressivo mas cujos sinais precoces eu já conseguia identificar – há um ano que as minhas crises mudaram e foi necessário todo um reajuste. E esta sou eu, acabada de chegar a casa, já de paracetamol tomado há horas e de triptano ingerido no momento, vestida e maquilhada, no final de um dia de aulas e deslocações de km, a cheirar a suor e a chulé, prostrada em cima da cama com colcha e tudo, a tentar fazer o mundo menos luminoso e a ansiar por menos dores.
 

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Foi muito complicado acertar na medicação. Desde a infância que todas as minhas dores de cabeça eram desvalorizadas e, graças a isso, acabei por desenvolver uma enorme tolerância à dor. Sou capaz de andar com uma dor de cabeça persistente todo o dia durante dias e continuar no mesmo ritmo de vida porque sei que não me abate nem é uma enxaqueca. Uma enxaqueca é debilitante. E, com dores extremas, cheguei a desejar que o meu cérebro rebentasse porque assim teria algum alívio. Cheguei a colocar botijas de água quente ou sacos de gelo em cima da cabeça, sem qualquer resultado. Na minha adolescência, foram tantas as tentativas de medicação em forma de experiência, com efeitos secundários horríveis (incluindo o quê? Isso mesmo, dor de cabeça) que, a certa altura desisti e deixei-me ficar com o velhinho e confiável paracetamol e idas às urgências para medicação intravenosa quando já não aguentava mais. Um dia, já depois de ter sido mãe e ter tido uma crise violentíssima às 10 semanas de gravidez, fui para as urgências encolhida de dores e um médico muito jovem disse-me “vou receitar-lhe algo que vai acabar de vez com essas crises e será o seu SOS.” Eu nem queria acreditar. E foi mesmo. Não acabou com as minhas crises mas ajudou imenso a superá-las, durante alguns longos anos, até ao dia em que deixou de funcionar porque eu não identifiquei os gatilhos de imediato e deixei assoberbar a crise. Consultei, então, uma neurologista especialista em enxaquecas, fiz logo um RM e descobrimos que tantos anos de dor extrema acabaram por me causar danos cerebrais. Fiz um tratamento agressivo, recuperei um pouco mas já não o que seria suposto se tivéssemos agido antes. Desde então, sensivelmente, de 2 em 2 anos, preciso de fazer meio ano de profilaxia para a enxaqueca e é um bálsamo milagroso.
Ainda estou dentro do timing. Este novo perfil foi, possivelmente, causado pela vacina do covid e questões hormonais. Ainda não sei identificar muito bem os gatilhos nem alguns dos sinais mas sei o que fazer em caso de crise. Habituada a crises violentíssimas e tão galopantes, estas são meninas de coro, embora me deixem mais cansada e afetem a minha visão.
As piolhas não sofrem deste mal, felizmente e abençoadas. Mas estou atenta. Enxaquecas não são frescura, nem chiliques femininos, nem maleitas benignas que passem com café e gotas de limão. São questões de saúde que devem ser levadas a sério para evitar perdas graves e irreparáveis a nível neurológico e cerebral e deve haver um acompanhamento da pessoa para que seja bem medicada, bem tratada e saiba como deve agir em caso de crise, evitando tratamentos mais fortes e agressivos. É uma situação real e impactante. E deve ser respeitada e falada.
 
 
 
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publicado às 15:48

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