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Um dia, a Educação implodirá

por t2para4, em 04.07.22

Um dia, mais cedo do que se possa imagina, a Educação implodirá. Este é um texto muito longo mas verdadeiro. E cru.
Do número excessivo – dizia-se, na altura – de cursos universitários voltados para a educação, turmas cheias e imensos alunos – a ponto de se encherem auditórios -, com o passar dos anos, alguns fecharam, outros desapareceram, veio o Bolonha, os novos alunos universitários não querem ser professores.
Do número excessivo – dizia-se, na altura – de candidatos ao concurso de professores, com o passar dos anos, vejamos o que veio afinal a acontecer para que, hoje, neste momento, não haja número suficiente de professores para colmatar as falhas sentidas e há, pasme-se, alunos que não tiveram uma única aula durante todo o ano letivo a algumas disciplinas (o futuro dirá o que colheremos dessa falta).
- temos de começar, obviamente, pela emigração sugerida por um Governo há anos. Professores a mais em Portugal  - > solução simples = mandá-los embora.
- cursos de ensino a mais  - > solução simples = terminar tudo ou quase tudo e limitar o ensino a quem tem mestrados ou semelhantes.
- aumento geográfico dos QZP (Quadro de Zona Pedagógicas) e mudança constante de regras de inserção nestes quadros que impacta diretamente no acesso de docentes aos QE/QA (Quadros de Escola/Quadros de Agrupamento).
- mudanças constantes e regras dúbias no acesso à Mobilidade por Doença, o que faz com que muitos professores não possam concorrer a determinadas escolas ou, pelo contrário, aproveitem alguns buracos na lei e concorram desmesuradamente para onde querem, apesar de estarem afetos a outros locais.
- congelamento na progressão da carreira, com acessos quotizados aos escalões e com um 10º escalão praticamente inalcançável.
- alteração do preçário e regras em relação ao ensino noturno.
- aumento salarial pouco significativo face às restantes profissões e ordenado mínimo nacional.
- duas tabelas salariais + dois horários (25h vs 22h) que discriminam educadores de infância e professores do 1º ciclo em relação aos restantes.
- reduções de horário (por idade, por artigo, por outros motivos) diminuída, número de dias de férias atribuído diminuído ao longo destes anos, possibilidade de utilização do artigo 102 diminuída ao longo dos anos também.
- proporção de trabalho relativo a exames vs dias de férias atribuídos
- calendário escolar completamente desfasado por ciclos
- estágios profissionais não remunerados e de apenas alguns meses, ao invés de um ano letivo e remunerado, como se fazia até ao início dos anos 2000.
- (não)renovação de contratos de professores contratados e injustiça criada com medidas como a Norma-Travão.
- concurso externo complicado, moroso, burocrático, desfasado que dura quase um ano letivo a concluir, onde ainda se verificam erros, ultrapassagens injustas, etc.
- alteração injusta na declaração de dias à Segurança Social para horários incompletos (abaixo de 15h, menos dias são declarados, ao invés de um mês inteiro como se fazia há pouco mais de 3 anos), o que, impacta diretamente no direito à atribuição de subsídio de desemprego;
- intervalo de horários a concurso injusto: são apenas 3 intervalos (8h-14h; 15h-21h; 22h) que diferem como o dia da noite em termos de remuneração e tempo de serviço e, obviamente, impactam diretamente na forma como um professor concorre.
- não atribuição de direitos a professores contratados com descendentes/ascendentes com deficiência (aproximação à residência, meia-jornada, baixa médica por deficiência, etc.)
- desconto salarial de quase 50% do ordenado em caso de atestado médico e sem esquecer os 3 primeiros dias sem qualquer retribuição.
- número de crianças inscritas na escola a diminuir, o que em algumas escolas, se traduz indubitavelmente em horários incompletos porque, simplesmente, não há alunos suficientes para que se possa ter um horário completo.
- profissão que trabalha fora do seu horário de 35h/semanais (22h são letivas) a preparar aulas e materiais ou reuniões para usar essa preparação na aula e depois volta a trabalhar fora desse período para correções, textos, etc. Horas extra, serviço excessivo que não é pago. E que é maioritariamente feito em casa, pois os recursos de que o docente necessita estarão em sua casa.
- quezílias eternas entre professores do quadro e contratados (“A menina é colega ou estagiária?” foi-me perguntado numa sala de professores)  -> desunião de classe
- sindicatos numerosos e, alguns, incompetentes.
- estratificação desnecessária e injusta: os professores de AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular) são técnicos, o seu tempo de serviço não é contabilizado para efeitos de concurso no caso de docentes não profissionalizados e o ordenado é miserável; alguns docentes do Ensino Profissional trabalham anos, na mesma escola, a recibo verde e a fórmula de cálculo de tempo de serviço é injusta.
- programas excessivamente complexos e longos, repetitivos e que obedecem a uma série de documentos que vão mudando consoante os ministros da educação e que assentam, maioritariamente, numa visão de empinanço de matéria para a vomitar em testes e exames, ao invés de verdadeiramente ensinar e preparar o aluno para o futuro.
- burocracia desmesuradamente inútil e excessiva em todos os aspetos que envolvem a escola, desde a avaliação dos alunos até aos projetos que são impostos às escolas.
- Avaliação de Desempenho Docente completamente inútil, quotizada, injusta e desnecessária sem qualquer impacto na vida ou carreira ou carteira de um professor contratado mas que impede a justa progressão de um professor do quadro porque há listas e quotas e não há vagas...
- trabalho de secretaria atribuído aos professores: matrículas, impressão de documentos, preenchimento de campos nos programas de gestão escolar, preenchimento de mapas (leite fruta, AECs, EMRC, devolução de manuais, etc.).
- escolas como depósitos grátis de crianças devido aos seus horários alargados e calendários letivos extensos
- existência de ameaças à integridade física e moral do professor (para não falar dos seus pertences).
- a tragicomédia que envolve atestados médicos, substituições e juntas médicas.
- ADSE – motivo de inveja para uns, motivo de horror para outros mas que pagamos por 14 vezes (12 meses, 1 subsídio de Natal e 1 subsídio de férias)
- outros (seguramente mais haverá mas já não consigo elencar e não vou falar sequer de motivação ou (in)disciplina de alunos)

Posto todos estes motivos, sejamos honestos, quem quer ser professor? Quem quer ingressar nesta profissão? Quem vier, virá definitivamente por gosto e vocação e, isso, lamento, não é valorizado. Eu não quero que as minhas filhas sejam professoras, apesar de eu adorar o que faço.
Um dia, e esse dia estará para breve, o ensino em Portugal implodirá e teremos soluções de pensos rápidos a tapar rachas em barragens, veremos a qualidade elogiada no estrangeiro do nosso ensino a desaparecer, teremos um acréscimo da indisciplina, um cada vez maior incumprimento de direitos dos alunos (alunos com necessidades específicas serão os primeiros alvos), veremos pessoas não qualificadas a fazer serviço especializado e teremos cada vez mais alunos sem aulas e profissionais de atestado médico.
Entristece-me um país que não valoriza a profissão que faz todas as outras profissões e que, constantemente, me maltrata, me agoira, me sobrecarrega, não desvaloriza, me arrasta durante anos sem vínculo. Entristece-me um país que sofrerá amargamente com as suas atitudes para com os professores e, até ao momento, navega à toa, sem um plano correto, justo e adequado para professores, alunos e pais.

 

 

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publicado às 10:29

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