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Não têm sido dias fáceis. Agradeço todas as respostas ao post anterior e darei o respetivo feedback assim que me for possível.
A nossa casa, a nossa vida, é muitas vezes similar a um circo. Ao contrário. Em vez de ser suposto os palhaços fazerem-nos rir e divertirmo-nos, sentirmo-nos satisfeitos com o nosso papel, a verdade é que os "palhaços" - com a aquela entoação "palhaaaço" e sentido pejorativo - somos nós.
Porque ainda damos ouvidos a quem não quer aprender.
Porque ainda insistimos em tentar, não em mudar o mundo, mas em fazer dele um lugar mais compreensível e tolerante.
Porque ainda se comparam birras autistas/crises por causa de um imprevisto com birras por causa do gelado que a mãe não comprou. Uma dura 40 minutos, a outra dura 5...
Porque ainda somos parvos ao ponto de tentar fazer aniversários em família, mostrar às piolhas que os avós ainda podem ser melhores pessoas. Mas não atendem o telefone, não respondem a sms, não nos abrem a porta. E nós 4 no carro e à porta de casa, à espera, com uma prenda numa mão e um bolo de aniversário na outra. E as piolhas, qual disco riscado, a perguntar "mas não cantamos os parabéns ao avô?".
Porque pintamos a cara de preto e voltamos para casa com as piolhas no banco de trás a chorar e a não ouvir a nossa explicação para aquele raio daquele imprevisto.
Porque, mal chegados a casa, o marido faz das tripas coração e brinca tanto tanto tanto com elas, das formas mais disparatadas possíveis, desviando com sucesso o foco de atenção e evitando uma crise. Aliás, duas... E fazemos da sobremesa uma razão para cantar os parabéns a nós mesmos, apagar as velas e cortar o bolo.
Porque, por muito que tente, não consigo explicar às piolhas que os avós são pessoas más. E não sei como fazê-lo.
Porque a minha capacidade de reação já passou muito para além do perdão.
Porque, tal como os avós das piolhas, ainda há pessoas incapazes de interagir com a diferença, fazendo da ignorância o seu estandarte de comportamento e valores.
Porque não me parece de todo concebível que não se faça o mínimo dos esforços para evitar sussurros, comentários, comparações erradas, etc.
E o nosso dia acaba com a casa virada de pantanas, o marido a trabalhar no turno da noite, a mãe a terminar trabalhos e as piolhas entretidas com algo que seria suposto fazer parte das suas descobertas aos 3 anos e não aos 6...
E esta brincadeira durou horas.
E hoje, mal chegadas a casa da escola, voltou a ser interessantíssima. E relaxante. Hoje foi o dia do magusto na escola. Quando cheguei para as ir buscar, senti-as perdidas e desorientadas. Imagino que o barulho de mais de 300 pessoas no recreio, a confusão, os cheiros e o sol não tenham sido fatores muito simples de gerir. Por isso, hoje tudo é permitido: poneis, brincadeiras com caixas vazias como se fossem tesouros, youtube, jogos.
E eu, orgulhosa do esforço diário que as piolhas fazem para que esta porcaria desta sociedade as aceite tal como são, as deixo serem crianças à sua maneira. Felizes. Quantos se podem gabar disso?