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É incrível como as nossas reações mudam. Inicialmente pensava mesmo que seria prejudicial para as piolhas se fossem logo sinalizadas como NEEs e levar com esse estigma e haver a possibilidade de troça. Felizmente caí em mim, como mãe e profissional. Quantas vezes, não fosse a minha sensibilidade, haveria casos de NEE a passar ao lado? Sinalizei algumas crianças (para avaliação pelo psicólogo da escola) e no 1º ciclo, sem ninguém me dizer, lá vou juntando as peças e descobrindo as tais necessidades especiais até que mo seja confirmado quando confronto quem de direito. Não é justo e é difícil trabalhar assim pois não conseguimos dar uma resposta correcta àquela criança. Não seria nada justo para com a educadora nem para com as piolhas que poderiam ter um tratamento diferente ou um diagnóstico errado.
Apesar de ainda só terem passado 2 meses, não é fácil gerir tanta coisa porque o nosso estado de espírito muda tantas vezes quantas as horas do dia. Felizmente, lá nos temos aguentado racionalmente e posto mecanismos a funcionar.
Por muito que me diga, que há casos piores e eu os veja, talvez por ter trabalhado com crianças com deficiências graves isso me seja difícil de gerir. Claro que as piolhas serão sempre a E. e a B., independentemente de serem autistas. No entanto, não bastavam já os desafios e bofetões que a vida nos deu antes? Não precisava de mexer com as nossas filhas… Seja como for, pelo que li e pelo que algumas psicólogas com quem falo off-record me dizem, é normal eu sentir esta montanha-russa de emoções. É a tal história que tenho posto na minha cabeça todos os dias, que o marido descobriu num blog:
Bem vinda à Holanda!
"muitas vezes me pedem para contar como criamos uma criança especial, para ajudar as pessoas que não têm essa experiência única a entendê-la. A comparação que sempre me ocorre é a seguinte: esperar um bebé é como planejar a fantástica viagem com que você sempre sonhou para Itália. Você compra um monte de guias e faz planos maravilhosos: o coliseu, o David de Micheangelo, as gôndolas em Veneza. Você pode aprender frases úteis em italiano. Tudo é uma festa.
Depois de meses de expectativa, finalmente chega o dia da viagem. Você entra no avião e algumas horas depois a aeromoça diz: bem vinda à Holanda. Holanda?! Como assim, Holanda? Você se espanta. Meu voo era para Itália, sonhei a vida inteira em ir para Itália! Mas houve uma mudança no plano de voo. Aterraram na Holanda e este é seu destino agora. O importante é que não te levaram a um lugar horrível e desagradável, cheio de epidemias, fome e doença. É só um lugar diferente. Então você tem que sair e comprar novos guias. E aprender uma língua nova. E conhecer pessoas que você jamais teria conhecido. O ritmo é mais lento que o da Itália; a luz menos brilhante. Mas depois de estar lá por algum tempo, toma fôlego, olha em volta e começa a notar que a Holanda tem moinhos... E a Holanda tem tulipas. A Holanda tem até Rembrandt. Mas todo mundo que você conhece foi e voltou da Itália contando maravilhas do tempo passada lá. Pelo resto da vida você dirá: era para lá que eu deveria ter ido. Era isso que eu tinha planejado. E a dor do seu coração nunca, nunca mesmo, irá embora completamente... Porque, afinal, a perda desse sonho é muito significativa. Mas se você passar a vida inteira lamentando o facto de não ter ido a Itália, talvez não possa descobrir e aproveitar o que existe de tão especial em todas as coisas adoráveis que há na Holanda".
Emily Perl Kingsley
Vou aproveitar a minha estadia por tempo indefinido na Holanda. Não quero perder isso. E é a tal coisa: uma vitória de cada vez.