Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
À medida que o tempo passa e saem cada vez mais artigos científicos e estudos sobre diversos assuntos - linguísticos, clínicos, médicos, etc. -, sou levada a crer que, na verdade, a maioria das pessoas não quer saber - no sentido de ler, perceber, questionar em caso de dúvidas. O primeiro instinto é por regra a desconfiança, seguido de um ror de argumentos pseudoplausíveis a justificar a atitude. Ou seja, um bocadinho aquilo que se vive neste momento em relação à doença covid, vírus recentes, se a Terra é plana ou redonda, antivaxxers (pessoas contra vacinas), se o Homem foi mesmo à Lua, etc. Basicamente, todos os temas fracturantes que suscitem imensas teorias da conspiração. E gente que as defende. É o efeito Dunning-Kruger (ai pensavam que isto não tinha nome? Tem, pois! Um nome mais pomposo e bonito do que "estupidez").
Isto para dizer que tenho cada vez menos vontade, paciência e tolerância para me justificar enquanto mãe e para provar por a+b+c tudo o que envolve as piolhas, a outros, a terceiros. Não tenho de o fazer, não tenho de provar nada e, definitivamente, não tenho de ouvir conversas que comecem com "no meu tempo" ou "se fosse comigo".
Como dizia a nossa médica ontem, uma coisa é uma condição clínica com possível causa genética que não é nem defeito nem qualidade; outra é a estupidez que é um defeito incurável porque a pessoa assim o quer.
Avizinham-se tempos extremamente trabalhosos com escola à distância e toda a gestão pessoal e familiar e dificuldades que isso acarreta (não se iludam porque antes da Páscoa não volta ninguém à escola, dados os números em relação a contágios, infeções e internamentos de crianças de faixas etárias cada vez mais baixas) .
Noção precisa-se. E os pais atípicos não precisam de estar sempre a levar com a falta dela.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
A escola não é apenas um lugar de aprendizagem, de ensino, de experiências. Sabemos - ou deveríamos saber - que, em muitas situações - situações até demais, infelizmente, e que deveriam estar totalmente identificadas e resolvidas - funciona como centro de apoio, como porto de abrigo, refúgio até. Sim, muitas vezes, é na escola que algumas crianças têm as únicas refeições decentes do dia.
Mas, atenção quando se escreve dando exemplos generalistas descontextualizados como justificação do não encerramento atual das escolas face aos casos de covid! Fechar as escolas agora, parar as escolas no Natal, parar no Carnaval (sim, aqueles 3 habituais dias), parar na Páscoa e parar quase 3 meses para alguns anos de escolaridade vai manter as mesmas desigualdades, vai manter em risco algumas crianças, vai trazer problemas de violência e fome. Porque as escolas não funcionam 24h/dia! Mas também não fecham na totalidade! Não é só por conta do covid! Que não se use essa desculpa para não se proceder ao que deverá ser ética e medicamente mais correto neste momento!
As escolas não funcionam sozinhas. Há protocolos com juntas de freguesia, câmaras municipais, entidades (semi)públicas e privadas e mais, para que, nas pausas letivas, essas crianças não morram de fome, frio ou violência! Há CPCJ para os casos graves. As mesmas premissas que usam agora para justificar o manter as escolas abertas enquanto morrem aos Boeings cheios de gente por dia em Portugal! Estas situações manter-se-ão nas férias grandes, sabem? Ou nas férias grandes já não há problema de aulas+covid+desigualdades+etc e tal?
Para os ignorantes de serviço, tenho uma novidade: houve escolas que NUNCA fecharam de março até agora! E houve até crianças que tiveram SEMPRE aulas presenciais, com professores a sério, lá dentro de uma sala de aula! E havia SEMPRE refeições garantidas para crianças carenciadas! E havia comunicação estreita com as famílias na tentativa de se apurar se estaria tudo a correr bem - aulas à parte. E, pasme-se, as escolas sede NUNCA fecham nas férias grandes!
As escolas têm muitos defeitos mas, porra, por regra, não costumam deixar estes casos graves e sinalizados para trás, nem nas férias grandes.
Não me venham é usar esses argumentos mal usados, gastos, deturpados que até já cheiram mal como desculpa porque não há dinheiro para fechar as escolas. Assumamos que é isso! Não há! E eu percebo! Nem imagino a cratera fenomenal que a nossa paupérrima Segurança Social deverá ter. Mas não se invente que é a fome e a violência que impedem de fechar as escolas. Para esses, as escolas nunca fecharão. Terão sempre a sua refeição, terão a sua vigilância.
E, aviso desde já que se começarem os insultos, vierem mimimis desagrados ou teorias da conspiração, vão logo àquele sítio com três cestos - serão banidos e bloqueados e até denunciados. Não tenho a mínima pachorra para aturar gente acéfala quando se morre às centenas em hospitais, quando faltam ambulâncias, quando se escolhem vidas como se estivéssemos numa guerra civil do século XIX, quando há enfermeiros a alimentar doentes em ambulâncias que esperam horas para entrar nos hospitais. Querem acreditar que a Terra é plana é lá convosco mas não neguem que está a ser cada vez mais difícil escapar a um vírus que existe. E que está cientificamente provado.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
Este é um post sobre educação, sobre escola, sobre defesa da escola pública, sobre a defesa do acesso universal à educação.
Sim, seguir a máxima - concordemos ou não, apesar da burocracia inerente - "escola de todos para todos". E isso, meus caros, inclui mesmo todos. Todos até aqueles que têm deficiência, que são neurodivergentes. Isto é sermos "todos".
Um determinado candidato presidencial e dirigente de um partido extremista - o mesmo candidato que se incomoda e faz uma birra por causa do baton vermelho de uma oponente, do que se compra no estrangeiro sobre outra, que insulta idosos (esquecendo que é para essa faixa etária que caminha) e traz à baila o que pior havia num Portugal profundo e ostracizado nas décadas de 40-50-60-70, apresenta, na sua proposta eleitoral, o que se transcreve abaixo:
"Educação: à cabeça surge a ideia de extinguir o Ministério da Educação, mantendo também aqui o governo meras funções de regulação e inspecção. “As instalações escolares passariam, num primeiro momento, para a tutela da Direcção Geral do Património que, de seguida, as ofereceria a quem nelas demonstrasse interesse, dando-se prioridade absoluta aos professores nelas leccionando nesse momento”. Seguir-se-ia a “instituição do cheque-ensino”, subsídio directo ao estudante, permitindo a este optar pela escola da sua preferência."
Ou seja, apesar de todos nós - gente do terreno, não doutores de gabinete - sabermos que o MEC tem muitas falhas, no entanto, sabemos que o MEC ainda é o que nos rege e, em algumas situações, põe mão e travão a verdadeiras atrocidades legais aos direitos dos alunos nas escolas. Uma proposta destas a concretizar-se iria traduzir-se na hora - não tenhamos dúvidas!!!!! - num regresso aos anos negros da ditadura, sem escola para todos, se lugar para aprender, sem lugar para as crianças com deficiência, com necessidades específicas.
Não nos iludamos que muitas perturbações como dislexia, défice de atenção, autismo, défice cognitivo iriam desaparecer dos decretos-lei e as deficiências mais profundas, as doenças raras nem seriam previstas. As unidades multideficiências seriam fechadas e desmanteladas, as unidades de ensino estruturado seriam reconvertidas em salas de aula típicas, os recursos humanos usualmente dedicados à área da educação especial seriam dispensados. A Educação Especial seria extinta. Extinta! Porque, à semelhança do que já fazem algumas instituições privadas, a escola, que deixaria de ser pública e de todos e para todos, privatizada, passaria a dar-se ao luxo de recusar determinados alunos, passaria a usufruir em pleno esplendor da reserva do direito à admissão.
A escola pública tem muitos problemas e não é perfeita. Mas a escola pública portuguesa é das únicas no mundo onde existe algo semelhante à inclusão, a caminho dela, num espaço de apenas 40 anos (o post que escrevi sobre isso aqui).
Política à parte, partidos à parte, vontades à parte, confinamento à parte, pensem bem se é isto que querem para os vossos filhos - típicos e atípicos-, se querem voltar a ver o nosso país - independentemente dos seus defeitos e problemas - não só mergulhado numa crise profunda mas também numa obscuridade medonha, com medo até da própria sombra. Pensem bem se vale a pena desistir do direito do voto ou não votar porque estamos zangados com o atual Governo. Pensem bem se é dar cabo do pouco bem que temos em busca de uma coisa atroz, inconstitucional certamente (artigo 43 da Constituição da República Portuguesa) e contra os direitos humanos (Declaração dos Direitos Humanos, artigo 26). Pensem bem se nos interessa ter um povo cada vez mais acéfalo, incapaz de pensar por si e sem oportunidades educativas justas de todos e para todos. Pensem bem se querem que se mexa na nossa Constituição para alterar direitos básicos que devem ser alienáveis.
Tirem o cu do sofá, façam o vosso passeio higiénico e vão votar. Quanto mais não seja para afastar "pessoas" destas de lugares aos quais não pertencem.
Hoje é um baton vermelho e um avô bêbedo, amanhã são escolas privatizadas com ensino discriminatório e elitista.
Nem eu nem as minhas filhas merecemos isso. Não é para isso que pago os meus impostos e continuo a dedicar-me à profissão, sabe lá muita gente com que sacrifício.
Concluo, repetindo-me e retirando a premissa do Decreto-Lei 54/2018: escola de todos para todos.
#escolapública #defesaescola #direitoàeducação #direitoàdiferença #neurodiversidade #deficiência #proteçãodaeducação #apeloaovoto #t2para4
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
Até podia escrever sobre um confinamento geral "muito, muito rigoroso" (sic - não o canal, mas uma citação textual) mas com escolas abertas, usando, como argumentos contra e a favor referindo o estado da economia, as ações preventivas de outros países da União Europeia, o colapso do nosso SNS, o medo pessoal, os riscos, etc etc etc.
Não o farei. Toda a gente já leu, em locais bem mais instruídos do que este; pressupõe-se que todos sabem bem o que se está a passar; sabemos que por causa do pecador paga o justo. Também já sabemos - se não sabemos, ficamos agora a saber - que já se fazem "escolhas impossíveis" (sic, de novo) nos hospitais portugueses.
Só tenho a dizer que um aluno que não aprenda a fazer frações no 2º ano não ficará com handicap desse conteúdo para o resto da vida nem os exames nacionais deixarão de se fazer caso as escolas, numa remota e hipotética hipótese, fechem.
Somos todos uns dramáticos e uns mimimis. E sim, a situação está dramática. Mas acho que os mimimis ainda não acordaram. Creio que poucos pararam ainda para pensar que se tivermos um acidente grave no caminho de casa e precisarmos de uma cama ou de um médico ou de um ventilador pode não haver. E nós não temos covid mas sim um fdp de um acidente de viação.
E, por mim, acabou-se esta conversa do confina-mas-não-tudo e ai-meu-deus-a-economia. Há de vir fome e miséria mas se o vírus tivesse surgido há uns 8 anos, acho que passaríamos a fazer como os europeus na 2ª Guerra Mundial e até de urtigas faríamos sopa e dos jardins uma horta.
Tenhamos cuidado, sejamos cívicos, façamos a nossa parte e cumpramos as regras de saúde mínimas exigidas. Um dia de cada vez e vários dias se farão.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram ------------
Início da semana.
Manhã.
Estão 0,5 graus numa aldeia remota do interior do país, num vale no meio da serra. Os acessos são duros, cheios de curvas, curvas com gelo que só derrete na primavera e onde o sol não toca o dia inteiro. Na escola, quase à beira de uma ribeira, o aquecimento não está ligado porque há uma avaria. Está um gelo húmido e vê-se o vapor a sair da boca dos alunos pequenos. Estamos todos de gorros e casacos, abotoados até ao cimo. Peço um aquecedor. O único aquecedor daquela escola veio, um pouco a contragosto, para a minha sala e lá conseguimos trabalhar com os dedos mais ou menos quentes, embora os pés e os joelhos gelados.
A manhã esteve sempre cinzenta, com nevoeiro e fria, fora a humidade.
Tarde.
Estão cerca de 5 graus numa escola a meio metro de distância de um rio. A humidade é tal que se entranha na roupa, nas botas, nos ossos. A sala, desocupada desde há quase 3 semanas, está um gelo sepulcral. Desencantei um aquecedor elétrico de uma colega. O aquecimento, pouco e antigo, só fica ligado durante a manhã. Se, com sorte, os radiadores de parede estiverem a funcionar. Veio sol por cerca de 20 minutos e depois, a encosta da montanha, tapou e ficou escuro e frio.
Meio da semana.
Manhã.
Estão -1 (sim, um grau negativo), numa escola nos arredores de uma cidade capital de distrito (quando digo arredores refiro-me aí a uns 5km da artéria mais movimentada daquela cidade). Não há aquecimento central, nem local, nem individual nem coletivo, não há nada. Não podemos fechar as portas porque temos de cumprir com as regras da DGS e, nos intervalos das aulas, temos de abrir as janelas. Pela 1ª vez em 17 anos de aulas, tive de trabalhar de gorro porque tremia com arrepios de frio. Os meus alunos estavam todos de luvas, mantas nos joelhos, casacos de capuz, gorros, cachecóis. São alunos, na sua maioria, já adultos e que toleram melhor o frio que uma criança pequena. Com toda esta parafernália e ainda máscaras, já é uma sorte eu conseguir ver-lhes os olhos.
Saímos às 14h, com cerca de 6 graus na rua mas enregelados, de pés gelados (e reparei que, como eu, muitas alunas traziam collants por baixo das calças) e a tentar aproveitar o sol, qual lagarto no deserto, aos primeiros raios de sol.
A realidade das piolhas, aqui ao lado de casa, é muito semelhante apesar de haver aquecimento e este estar ligado: alunos super agasalhados, uma coleção de mantas nos joelhos, professores encasacados e de pontas dos dedos geladas a escrever nos quadros porque há portas (e janelas) abertas porque tem de haver circulação de ar. Por causa do vírus - aquele vírus apenas, não outro. Noutras escolas, por causa desse mesmo vírus, aquecimento desligado ou avariado...
Estas escolas não são escolas decadentes, não são escolas com problemas estruturais na sua construção - apesar das suas muitas décadas de vida -, algumas destas escolas são até modernos centros educativos. Mas nenhuma destas escolas oferece condições de trabalho a alunos e professores, horas enfiados numa sala gelada, sentados no mesmo lugar de hora a hora, saindo para um intervalo/recreio igualmente gelado. Não há capacidade intelectual que aguente pensar, trabalhar, escrever com frio. Alunos e professores sofrem com os dedos gelados e as frieiras voltam a aparecer.
Critico audivelmente a falta de manutenções básicas que deveriam ser feitas no verão e este tipo de condições criadas porque estamos a ultrapassar a barreira da noção.
Não somos um país nórdico habituado a trabalhar ou a dormir ao frio ou a brincar na neve. Não somos um país nórdico com ar condicionado até nas paragens do autocarro para nos aquecermos. Não somos um país nórdico onde, desde pequenos, sabemos lidar com temperaturas extremas e como agir em conformidade. Não somos um país nórdico com condições para trabalhar e estudar com temperaturas demasiado baixas. E mesmo assim, não me venham já com "na Finlândia ou na Suécia ou no Luxemburgo ou na Bélgica" porque há lá uma coisa chamada "intempéries" que é basicamente uma licença em que o trabalhador é dispensado do trabalho e pago a 80% ou 100% por causa das condições meteorológicas, durante um determinado espaço de tempo, aplicável a certas profissões. O meu pai, pedreiro, passou por situações assim. Ou era destacado para serviços de interior ou ia para as "intempéries".
E não está aqui ninguém a pedir para ir para casa, não se vá de ler o que não está aqui escrito.
Em algumas escolas - essas sim sem condições - já era duro lecionar e aprender no pico do inverno. Neste momento, é absurdo impor essa dureza gelada, fria e calculista em todas as escolas. Os nossos alunos - porra!, os nossos filhos - não apanham covid mas ficam com um risco acrescido de ter uma gripe séria, uma inflamação na garganta ou ouvidos, uma pneumonia? E já alguém parou 5 minutos para pensar como estão as condições nas unidades de ensino estruturado ou multideficiências? Já alguém parou 5 minutos para pensar como será a reação de uma criança/jovem com deficiência grave que precise de ter uma fralda mudada ou uma roupa trocada? Já alguém parou para pensar que temos aqui 2 pesos e 2 medidas: ar condicionados a bombar de tal forma no supermercado que até transpiramos e tudo desligado numa escola? Alguém acha isto normal?
Eu não acho. Está frio e este frio não é psicológico. E é triste estarmos em 2021 (em 2021!!!!!!) com estas (faltas) de condições e, correndo o risco de desrespeitar algumas regras, um professor ter de levar o seu próprio aquecedor para ter um mínimo de conforto mínimo (sim, é repetido de propósito).
Temos muitas realidades a nível nacional. E o interior, muitas vezes, esquecido, também ainda tem escolas... E, no interior, faz muito frio , caso alguém tenha esquecido. E o raio do aquecimento faz falta. Ajuda a ter qualidade de vida, qualidade no trabalho. Ainda que tenhamos um ou vários vírus à solta.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram ------------
Há gente que, certamente, não dorme de noite para as fazer de dia. E, com esta introdução, refiro-me a um qualquer iluminado que, não vá o Governo mudar de repente, precisa de mostrar um qualquer serviço lá nos gabinetes do Ministério da Educação. Então, de uma assentada só, alguém se lembra de mexer nos exames nacionais e, também!, criar uma nova aferição (que é como quem diz, mais um exame da treta).
Portanto, as notas dos exames nacionais de 2020 foram demasiado boas, logo, vamos complicar a coisa em 2021. Um sistema perfeitamente retrógrada e anti-escola, quando temos um DL 55/2018 a falar especificamente em flexibilidade e flexibilização. Mas, está bom de ver que, a pedagogia ideal é aplicar um exame padronizado a nível nacional porque, como todos sabemos, somos todos exatamente iguais.
Temos alunos sem terem tido uma única aula de determinadas disciplinas desde setembro (porque, como toda a gente também sabe e aqui se vê, há professores a mais - ironia) e alunos em isolamento profilático ou em quarentena mas o importante é mesmo avaliar as aprendizagens de março a junho porque estivemos em casa. Se não fosse tão sério, até dada vontade de rir à gargalhada. Esta "diretriz" vem do mesmo local que indicou 5 semanas de revisão e consolidação de conteúdos no início do 1' período ou a possibilidade de o ir fazendo ao longo do ano.
O nosso ministério gosta é de aferir e examinar. Esqueceu-se do mais importante: lecionar. Porque um dia, esta "simples" ação de passar e transmitir conhecimentos e afins vai fazer falta, porque, para já, tudo é importante exceto dar aulas. Se não fosse Natal, juraria que era uma piada. Mas nem fake news é, é mesmo a realidade. Triste.
Mas calma que ainda há manobra para piorar. Ainda falta resolver como serão lecionados os conteúdos das disciplinas sem professores há meses (e consequente avaliação, pois claro), que medidas surgirão para colmatar a falta de professores. Só para nomear estas. Oxalá me engane muito mas cheira-me que, muito em breve, vamos ter técnicos com o 12' ano a dar aulas e a serem tratados por "professor". Vá, mandem-nos emigrar agora, vá.
Esta é mesmo a realidade. Triste.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
Aproximamo-nos aceleradamente daquela fase em que, em anos ditos típicos, começaria a loucura dos jantares e das festas e das celebrações - escolares ou não - de Natal.
Este ano, esta mãe horrível e sem princípios, regozija-se de NÃO haver festas, festinhas, celebrações, celebraçõezinhas, jantares, jantarinhos de Natal com trocas mais ou menos simbólicas de prendas e prendinhas, a cujos eventos "temos" de ir porque fica bem, parece bem e cai bem. E temos de usar uns modelitos vestuários que não combinam nada com o tempo atmosférico e eu ando sempre com frio. Ou fico quentinha ou fico sexy, as duas não dá.
Eventos sociais que eu de-tes-to.
Este ano, pela primeira vez, não preciso de justificar por escrito pela enésima vez que as piolhas não participam nestas coisas porque têm desregulação sensorial, porque são dias confusos e sem rotinas, porque há demasiada confusão. E ter de fazer uma mini palestra sobre autismo porque "não parece nada, elas andam tão bem na escola".
Este ano não há nada para ninguém e eu não estou absolutamente nada triste com isso. Na verdade, sou até gaja para brindar a isso.
Diz-se que hoje é o dia daquele ser que tem uma profissão estranha porque nunca saiu da escola desde que começou a estudar.
Aquele que trabalha na escola e em casa.
Aquele que usa os seus materiais, desde as canetas ao computador.
Aquele que usa feriados e fins de semana e até mete uns 102 para corrigir testes e preparar aulas.
Aquele que dizem que tem mais de 3 meses de férias.
Aquele que lida com mais papelada e burocracia que qualquer repartição pública do país.
Aquele que começa a concorrer em março e só em agosto sabe para onde vai - se tiver sorte.
Aquele que tem uma profissão com horários que vão das 2h às 28h letivas semanais.
Aquele cuja profissão foi queimada, desvalorizada, usada como experiência louca, desrespeitada, mal tratada, atacada nos últimos anos e governos e que ninguém quer seguir.
Aquele de quem já se sente a falta e ainda nem temos um mês de aulas.
Aquele que dizem que ganha muito bem ao fim do mês.
Aquele que é bestial e besta ao mesmo tempo.
Aquele a quem, num engano delicioso, um aluno mais pequeno chama de "mamã" ou "papá".
Aquele que papa quilómetros e encontra um sorriso para família e alunos.
Aquele que cuida dos nossos maiores bens e em quem confiamos.
Aquele que, se for por vocação, por paixão, não tem dificuldade em dar aulas.
Aquele que aguenta todas estas críticas e exigências e ataques e opta por valorizar o pequeno mimo dos alunos.
Aquele de quem todas as outras profissões dependem.
Aquele que poucos "obrigado" ouve mas insiste no seu percurso.
Aquele que, todos os anos, insiste em fazer formação, tenha ou não tempo para isso.
Aquele que, como eu, ainda não desistiu.
Aquele que, como eu, ainda adora o que faz.
Hoje é o dia do professor.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
Por que (ainda) é tão difícil mudar mentalidades, chegar a todos, aceitar a diferença e a diversidade (a vários níveis, seja diversidade física, neurológica, de género, sexual, etc.)? Por que ainda se fala em surdina daquela rapariga que coxeia porque tem paralisia cerebral ou daquele rapaz com uma tatuagem grande? Por que se critica o tamanho daquela saia ou as calças rasgadas no joelho? Por que se ponta o dedo com esgar de coitadinhice ao indivíduo com deficiência? Por que se critica uma mulher por ganhar muito dinheiro e ter uma carreira mas um homem não? Por que se empurram todas as obrigações parentais para a mãe e se desculpabiliza o pai? Por que é tão difícil falar (aceitar, até!) da diversidade?
Porque todo um passado fechado, pequeno, tacanho e atípico ainda nos persegue e porque, infelizmente, ainda temos pessoas que defendem determinados pontos de vista que abominam toda uma alteração social e, ali ao lado, a inclusão como ela deveria ser. É generalista, sim, mas é verdade.
Uma das coisas que gosto de fazer quando leio algum artigo é ler os comentários. Aprende-se muito com os comentários, acreditem. Faço parte de alguns grupos que mostram o que foi Portugal no passado e a aprendizagem que dali retiramos não tem valor. É História no seu verdadeiro sentido pois inclui também a história pessoal de quem publica. Mas, alguns comentários - a grande maioria dos comentários - é de levar as mãos à cabeça.
Uma grande percentagem aborda o tradicional cliché "éramos tão felizes com pouco" ou "éramos tão felizes e não sabíamos", geralmente associado a fotografias a preto e branco de pessoas do povo, descalças a ir buscar água à fonte ou de crianças descalças e esfarrapadas na escola. Em nenhuma daquelas fotos se vê um sorriso. Ou um pé calçado. Viver em sub-condições, sem wc próprio, sem água canalizada, sem eletricidade, sem comida, sem planeamento familiar, com violência educacional e doméstica devia ser uma felicidade do caraças. E, muitos - demasiados!!! - são defensores que sopas de cavalo cansado nunca fizeram mal a ninguém. Realmente, nada como uma vinhaça materlada com pão de uma semana para dar um boost de energia num cérebro infantil em desenvolvimento, logo pela manhã... Não admira que as taxas de mortalidade e de desenvolvimento infantil fossem assustadoras e a nossa população fosse mais baixa, mais magra e menos desenvolvida que as demais.
Alguns comentadores - mais jovens que eu e eu já faço 40 daqui a uns meses - conseguem até encontrar justificação para episódios de violência doméstica e de crítica para a emancipação feminina. Não resisto a partilhar aqui, ipsis verbis, a resposta dada por uma mulher, mais jovem que eu, sobre este assunto: "Não me parece que o mundo esteja melhor pelo facto das mulheres terem abandonado o cuidado do lar filhos e marido para se dedicar em a outras coisas..." porque, como toda a gente sabe, o papel da mulher - esse ser inferior e sugestionável, inútil até, à sociedade e que em nada contribui para a evolução humana - é no "lar", a cuidar do marido e dos filhos. Sim, não há opção: é para ter marido e filhos, independentemente da sua vontade. Há que ser submissa e obediente à figura masculina.
Outros comentários há que abordam, então, a forma como as mulheres se vestem hoje: sem brio, sem qualidade, sem simplicidade, sem beleza. Porque antigamente é que era bom. Ah, e éramos todos felizes, mesmo descalços e esfarrapados, de luto carregado mesmo na flor da idade.
Agora, façamos aqui um exercício de extrapolação: estamos em 2020, 20 anos depois de termos iniciado o século XXI, em plena era tecnológica, com exploração dos oceanos profundos e do universo para lá das suas costuras alcançáveis, temos coisas reais como a nanotecnologia e a medicina mais avançada com que alguma vez pudemos sonhar há uns anos (e não me venham com merdinhas, porque já ninguém morre de sida como se morria nos anos 80 e 90 e até temos doenças erradicadas) MAS não conseguimos ter uma mentalidade mais aberta, mais natural, mais flexível e criticamos a deficiência (o ideal era esconder todos num buraco negro), o vestuário libertino (o ideal era usar um hábito com capuz), a orientação sexual (o ideal era sermos todos uns sei lá o quê, nem tenho com que criticar isto) e mais uma meia dúzia de outras coisas que não deveria incomodar ninguém numa sociedade que se diz moderna e atualizada e inclusiva. Sabem o que isto quer dizer? Quer dizer que enquanto houver quem critique de forma saudosista um presente em prol de um passado ditatorial e deficitário em saúde, educação, valores, princípios, diversidade, pedagogia, etc. e houver quem defenda determinados crimes - violência doméstica é crime, discriminação é crime, segregação é crime - e se falar disto de forma leviana em forma de comentário a uma fotografia de miúdos descalços alinhados à frente da senhora professora porque "eram os mais atrasados na leitura e era assim que se ensinavam os mais burros" e se defenda que é com porrada, com insultos, com violência, com preconceito que se ensina, se defende, se apoia, se inclui, não evoluiremos enquanto sociedade. É triste mas é a realidade.
Quero muito acreditar que a amostra do que leio não é relevante em termos populacionais e desejo muitíssimo acreditar que a minha geração - e até a anterior - mais a geração seguinte serão capazes de transmitir às gerações seguintes que a diferença não é algo anormal, a diferença não é algo a recear, a diferença pode ser riqueza, a diferença é diversidade.
Não há problema nenhum em ter mulheres fortes e com carreiras incríveis, não há problema nenhum em não querer ter filhos ou em querer ter uma dúzia deles, não há problema nenhum na diversidade sexual, de género, neurológica.
Não somos todos iguais e não somos, de todo, todos um.
E a verdadeira riqueza social (talvez até humana?) está aí.
-------------- Estamos também no Facebook e no Instagram -------------
Das aprendizagens que se fazem e da realidade como ela é e até do papel dos pais.
As piolhas tiveram o seu primeiro ataque por um bot. Foi algo muito feio e cruel. Foram feitos screenshots de algumas das suas publicações e legendagens que incitam ao suicídio, em forma de hate mail. Elas, ensinadas e já prevenidas por nós e pelas palestras sobre net segura da escola, desconfiaram que poderia ser um bot ou um troll, mas que, seria, à partida, mesmo um bot e aquilo basicamente seria linguagem de programação feita para ser assim mesmo. Então, o que fizeram? Fizeram print do que encontraram e das mensagens enviadas e um post sobre o assunto, denunciaram à rede social em causa, bloquearam a personagem e apagaram os posts visados e as mensagens enviadas.
E, mais importante, apesar de se ter passado isto, não se sentiram tristes ou ameaçadas ou ansiosas. E souberam o que fazer. E, desenrascadas como são, até o fizeram sozinhas.Não andamos a criar florzinhas de estufa nem, ao contrário do que dizem algumas pessoas, elas não têm entendimento. Têm sim. Sabem que o mundo não é uma nuvem de algodão doce. São inteligentes, sabem em quem confiar e tiraram lições importantíssimas das suas vivências - mesmo as más. São miúdas incríveis que se ultrapassam todos os dias.
Por isso, bots ou não bots, pessoas de carne e osso ou não, em relação a este assunto, tomem lá, in your face.
-------------- Estamos também no Facebook -------------------