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Fiquei sem a minha ferramenta de trabalho mais importante. Não posso substituí-la, nem pedir emprestado, nem arranjar outra. Fruto do tempo ou das -ites e -oses características desta altura, a verdade é que me faz muita falta. E sem ela não posso trabalhar.
Estou sem voz.
Consegui, sabe-se lá como, ter uma faringite vírica e uma laringite bacteriana, tudo num só, o que me deixa aqui as vias aéreas completamente feitas num 8. E escusam de vir as piadolas sem piada nenhuma "agora lá em casa é um sossego" como se lá em casa mais ninguém falasse 😕
Na impossibilidade de falar - e porque tenho indicações médicas para descanso absoluto da voz -, tive de encontrar outras formas de me expressar e comunicar. A quantidade de entraves é fenomenal. Desde usar gestos básicos, a sussurrar, a escrever no bloco de notas do telemóvel, o que notei, de um modo geral, apesar das estratégias diversificadas, foi pressa. Enquanto eu escrevia o que se passava, já tinha passado o momento... O que me levou a questionar várias vezes, ao longo destes dias, o que fará uma pessoa surda (profunda ou não) ou muda para se fazer entender. E como agem os seus interpelados.
Parece que tudo em catadupa: o nome que não é bem lido e sai errado, as indicações clínicas que já vão escritas mas precisam de ser repetidas mais vinte vezes nem sei bem porquê, o fazer a pergunta mas nem dar tempo de responder ou de seguir as indicações médicas, o pressuposto de que se somos professoras devíamos ter alguma especialização em saber como usar a voz sem ter voz, enfim. O que me voltou a despoletar as tais questões "como fará alguém que precise de comunicar efetivamente e não consegue se não dão tempo?". Acredito que se arranjaria uma solução e tudo se resolveria mas, às vezes, temo viver no país dos unicórnios.
Apesar da minha dificuldade em fazer-me entender (as máscaras não ajudam nada para se fazer leitura labial, por exemplo), considero que fui muito bem tratada e cuidada. Eu sei que há muitas queixas e muitos maus serviços mas também sei que há muito bons profissionais e pessoas incansáveis. E eu acredito que, apesar de doente, o nosso SNS ainda vai conseguindo fazer alguns pequenos milagres.
Afinal, as mães e as professoras também ficam doentes e precisam de algo com "poderes especiais" para ajudar. Eu ainda quero acreditar no nosso serviço de saúde. Agora é cuidar destas -ites e -oses.
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