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As coisas mais parvas que já ouvi por causa da roupa:
- mas ainda usas esse casaco do tempo da faculdade?
- andas sempre com esse casacão preto, está todo coçado
- as tuas miúdas vestem roupa usada? Não posso!
- não vais pôr essas roupas no contentor?
- roupas usadas podem provocar cancer (sim, eu ouvi isto mesmo, assim)
- andas sempre com as mesmas roupas
- ai é? Por cada roupa que se estraga ou dás, só substituis por outra peça ou nem isso?
- mas o teu marido anda sempre com o mesmo género de roupa?
E sei lá mais o quê.
Não quero saber, não estou para me chatear, palavras leva-as o vento, compro o que quero - caro ou barato, fast fashion ou não - mas estimo o que tenho e uso até ao máximo. E uso até estragar ou não fazer sentido. E dou muita coisa a amigos, familiares ou levo para as minhas escolas. O marido usa as roupas queimadas do sol para trabalhar na garagem e eu uso as t-shirts que já alargaram, as leggings até abrirem buraquinhos e as camisolas desportivas que me deram.
Incito as minhas filhas a fazer o mesmo: a t-shirt que está feia demais para ser usada no dia-a-dia pode ser usada em casa ou no jardim dos avós; as leggings demasiado reveladoras ou curtas podem servir como pijamas de meia-estação ou para andar por casa; os vestidos de inverno sem manga que fcaram curtos dão túnicas giríssimas; os casacos (ou outros) em bom estado que deixam de servir vão para as minhas escolas; t-shirts demasiado gastas, esticadas e velhas servem de desperdício para a garagem; os lençóis e toalhas desbotados ou envelhecidos servem de panos de limpeza na garagem e resguardos para as associações de animais; o calçado é usado até não ter mais solução segura ou deixar de servir.
Não minimiza o impacto que o consumo tem no planeta mas sempre é algo que fazemos para evitar que o nosso desperdício acabe no cemitério de roupas, lá do outro lado do mundo (ou quase)...
Não seguimos modas mas não andamos remendados ou sempre de igual; há inúmeras formas de criar diferentes looks com algumas peças básicas chave. Não é forretice - é saber onde gastar o dinheiro de forma mais acertada e evitar ao máximo cair na tentação do impulso ou do "vou comprar uma blusinha para me sentir mais feliz porque o dia correu mal"; é evitar ter imensa roupa que mal se usa e deixa logo de servir; é apostar em algo mais intemporal até porque as modas são cíclicas: as filhas das minhas amigas vestem-se como eu me vestia há 20 anos...
Este cemitério pesa-me um pouco na consciência. Não quero que pese na consciência das piolhas.
Este artigo é muito interessante e um abre-olhos.
https://nationalgeographic.pt/natureza/grandes-reportagens/3748-fast-fashion-o-que-acontece-quando-chega-ao-deserto-de-atacama?fbclid=IwAR2YG_GlfL3oOcvAFwFUa-L4YwK3QeqxWAaFpcUnyXRun7VN1hRipTqGq9E
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