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O marido mostrava-me um pacotinho de açucar onde se lia "e se vivêssemos mais devagar?". Ficámos um bocado a pensar naquilo. Ele consegue, uma das piolhas consegue. Eu não consigo e a outra piolha não me parece que consiga.
Os espaços em branco, o tempo não preenchido faz-me confusão. Sinto a necessidade de o encher com uma atividade qualquer, nem que seja dormir ou ler ou ver um episódio de uma série. As piolhas, enquanto uma, mais racional, acaba por ir levando uma coisa de cada vez, a outra, mais distraída, já se perde e não tem bem a noção do espaçamento do tempo.
Sempre fui assim: despachada, direta, sempre a andar, rápida, a entregar as coisas bem antes dos prazos, a sair de casa bem antes do tempo para chegar a horas (e acabar eu por ficar à espera), a acelerar, a querer chegar a todo o lado, a ser perita em multitasking. Vieram as piolhas, gémeas ainda por cima, e multitasking passou a ser o meu nome do meio, com letras maiúsculas. E elas, sempre a lidar com esta mãe hiperativa e despachada, que só fica parada quando está para lá de exausta ou doente. Mas, se o corpo até para, a cabeça tem sempre muito que fazer, até durante o sono. Creio que as piolhas viverão um pouco depressa, com momentos em que andarão devagar, fazendo uma reverência às heranças maternas e paternas.
Importa-me muito que sejam miúdas despachadas, desenrascadas e capazes de saber lidar minimamente com os imprevistos. Já não há meltdowns mas há alguma ansiedade, frustração e posterior descompensação - maravilhas do nosso caríssimo -ismo. Mas são miúdas que já perceberam que podem pensar um pouco para além de, um pouco fora do que é típico e que não há nada de errado em fazer uma coisa de cada vez ou muitas ao mesmo tempo. Podem perfeitamente dominar o multitasking ou quererem ser perfecionistas e demorar o tempo de que precisarem.
O meu cérebro neurodiverso não me deixa ter essa experiência do devagar, do dolce far niente na sua verdadeira essência, mas não me importo com isso. Os 40 já me trouxeram alguma desaceleração, acredito que outros -entas me trarão esse "viver mais devagar".
Não me importo que assim seja. Sempre me conheci assim. Não me imagino de outra forma. Mas gostava de, realmente, não chegar ao final do dia com a sensação de bateria gasta. Mas é assim que sou. Além disso, a cafeína é minha amiga ;)
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