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Numa série que sigo, um casal de alguma idade estava junto no hospital. Ela, doente oncológica em estado avançado e a precisar de cuidados 24/7 e ele, o marido, o seu cuidador, não a largava. A certa altura, é questionado pelo médico "Há quanto tempo não tem tempo só para si?"
Fiquei a pensar naquela pergunta. Sabem quantas vezes a ouvi estes anos? Nenhuma. E isso levou-me a outro fio condutor de pensamento: quantas vezes - ou quantas nenhumas vezes - esta pergunta foi feita aos cuidadores que há por aí espalhados? Quantos cuidadores (formais ou informais, a tempo inteiro ou não) já ouviram questionar se tiram tempo para si mesmos?
A célebre frase de que "é preciso uma aldeia para educar uma criança" vem à cabeça mas, na realidade, entre terapias, escola, casa, trabalho, apoios, atividades extra (que muitas vezes servem de reforço a terapias), a larga maioria dos pais não tem uma rede de apoio a que possam recorrer. E o tempo para si pode ser tão simplesmente dormir. Ou alimentar-se pausadamente. Ou tomar um banho demorado.
Creio que a noção de "cuidador" (de criança ou até adulto/idoso) é algo vago, que se ouve algures nas notícias e que se fala que até tem um estatuto. É preciso desmistificar e desromantizar a deficiência, a doença, o cuidado constante. É preciso respeitar e valorizar quem cuida, tornar o seu tempo precioso e ajudar a ter o tal tempo só para si.
Há estudos que referem que muitos cuidadores, em determinadas situações de cuidados, desenvolvem sintomas semelhantes ao Stress Pós-Traumático. Creio que dá para perceber o peso que esta função acarreta.
Hoje em particular, e em especial depois de ter lido a mãe do Gonçalinho (O Mundo do Gonçalinho) , penso em todos aqueles que "há quanto tempo não têm tempo para si". Hoje e amanhã e depois de amanhã. Porque esse apoio devia existir. Esse tempo devia ser real.
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