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22/05/2023
5*
“Invisible women” – Caroline Criado Perez
Começo com uma citação do livro: “ Women all over: always the exception, never the default”, o que, por si é logo uma perceção óbvia da grave lacuna que existe entre géneros, tendo em conta cerca de metade da humanidade. Se pensarmos na evolução humana, que imagem nos surge imediatamente? A do homem e não a da mulher. Porquê? Porque vivemos o masculino por defeito, o que chamamos de masculino universal, muito comum e presente em muitas línguas com as suas inflexões e acordos gramaticais em género e número.
A obra aborda as diferenças de género em várias esferas e considera que, possivelmente, a lacuna de perceção de trabalho doméstico não pago seja a maior diferença de género de todas. Assim, abordam-se áreas como:
- vida diária: atividades sexistas como limpar a neve (uma mulher tende a limpar áreas de acessos a passeios, por exemplo); urinóis e wc (os wc femininos deveriam ser em maior quantidade devido ao tempo e posição natural, sem esquecer menstruação, mas, na verdade, há mais urinóis que sanitas); o peso do trabalho doméstico e outro não pago (as mulheres tendem a ser cuidadoras – filhos ou familiares) e a (im)possibilidade de conciliar com uma profissão; o efeito Henry Higgins (“por que uma mulher não pode ser mais como um homem?) em que se espera que atinja um padrão definido para um homem
- trabalho: condições não cuidadas ou levadas em consideração em trabalho maioritariamente feminino (utilização de químicos em trabalho pago e não pago, por exemplo); relação trabalho-saúde
- design: utensílios e ferramentas feitas à medida e imagem masculina que nem sequer foram adaptados para mulheres: arados (quando a agricultura é função, em alguns países, das mulheres), coletes à prova de bala, cintos de segurança para grávidas, botas de trabalho, etc.; alteração na arte (teclado de piano mais pequeno) quando é um homem que não se adapta ao padrão; dificuldades de vingar num mercado capitalista masculino não preparado para questões femininas (bombas de tirar leite, apps de controlo menstrual, etc) – feito por mulheres
- medicina: farmacologia não adaptada ao corpo feminino, hormonas, etc, por graves lacunas de mulheres em ensaios e estudos clínicos; poucos dados de estudo e farmacologia para doenças especificamente femininas; síndroma de Yentl, ou seja, ausência de ou mau diagnóstico para condições cardíacas em mulheres por serem diferentes das dos homens
- vida pública: estudos imparciais acerca dos dados de trabalho doméstico/cuidador não pago que podia impactar positivamente o PIB de um país; controlo do dinheiro; direitos das mulheres (seriedade na recolha de queixas de todo o tipo de assédio e discriminação) Hillary Clinton disse “Human rights are women’s rights and women’s rights are human rights”
- quando tudo falha: em caso de catástrofes naturais, a taxa de mortalidade feminina é bastante mais alta que a masculina por fatores atribuídos a família, cultura, religião, cuidados prestados durante e depois, etc.; não é a tragedia em si que mata mais mulheres mas tudo o que a envolve: a reconstrução não prevê espaços geralmente destinados a mulheres, há mulheres cuidadoras ou profissionais na linha da frente; abusos de vários tipos em campos de refugiados, etc. Os exemplos dados referem o surto de Ébola, o furacão Katrina, o tsunami de 2004 ou a guerra da Síria.
Termino com outra citação onde podemos ter uma proposta de melhoria: “there is a better way. And it’s a pretty simple one: we must increase female representation in all spheres of life.”
Nos dias que correm e com tantas ameaças à liberdade e direitos da mulher, esta obra deveria ser de leitura obrigatória.
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