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Não há perfeição na maternidade. E não há nada de errado nisso.
Quando nasce um filho, nasce uma mãe ou um pai. E, por muita experiência que tenhamos com bebés ou crianças, estamos a aprender tudo de novo, a viver tudo como se fosse a primeira vez – e, em alguns casos, é mesmo a primeira vez.
Não há uma receita milagrosa, um livro de instruções, uma indicação universal em como lidar com aquele(s) ser(es) minúsculo(s) que acaba(m) de entrar nas nossas vidas. E depois começam, quase no mesmo instante do parto, as pressões sociais e até familiares de perfeição, as comparações entre membros da família ou conhecidos, as opiniões e palpites.
Ai a culpa, esse sentimento tão incapacitante quanto tenebroso. Tudo é culpa dos pais, em especial da mãe, claro. O parto foi de cesariana? A culpa é da mãe. Não tem leite? A culpa é da mãe. A criança tem soluços? A culpa é da mãe. A criança não dorme? A culpa é da mãe. A criança tem um problema de saúde? A culpa é da mãe. Não esqueçamos a velha causa de autismo nos anos 50 em que as culpadas eram as mães por serem frígidas no seu amor aos filhos e daí o termo “mães-frigorífico”, que, pasme-se, alguns ainda hoje usam, volvidas tantas décadas de estudos e análises.
A culpa é-nos intrínseca, é-nos ensinada desde logo cedinho, “culpa” da nossa tradição hereditária judaico-cristã. Temos sempre de nos sentir culpados de algo ou não estaremos a desempenhar corretamente o nosso papel. Em especial, se formos mães ou pais.
Porque há a hereditariedade, porque há a genética, porque aconteceu isto ou aquilo na gravidez ou no parto, porque porque porque…
Não tem de haver culpas.
Surgiu. E dói. Mas, agora vamos avaliar a situação e saber do que se precisa para lidar com isso, desde apoios, a tratamentos, a medicação, a avaliações, a técnicos, a médicos, a abordagens terapêuticas. A culpa não pode ter lugar nesta enumeração de trabalho a fazer porque desgasta, deprime, desmoraliza, não traz benefícios. Não é negligência.
Ser mãe ou pai é difícil, caramba, é mesmo muito difícil. Podia ser mais intuitivo, mais “user-friendly”, mais simples! Mas não é. Mas também não há nada de errado nisso. Quero acreditar que todos damos o nosso melhor para fazer um excelente trabalho no nosso papel de pais e educadores. A culpa só vem atrapalhar e não traz nada de novo a esta equação tão complexa.
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