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Não há regresso à normalidade. Seja lá o que isso for. Talvez seja mais coerente dizer "não há regresso ao que fazíamos antes". Não há de todo, é impossível.
Já começámos a aliviar algum do nosso confinamento no que respeita às visitas aos familiares: já fomos ver os avós, tocar bateria, passear no jardim, abraçar a tia.
E é só isso.
Não há o aviar recados com a mãe, não há o ir às compras com os pais, não há o comprar uma t-shirt nova só porque sim, não há o visitar uma loja para ver se compramos umas roupinhas novas, não há o passear na vila como antes, não há o ir tomar um café fora, não há o ir a um centro comercial. Não há um beijo aos avós ou à tia - e isso é o que é, de longe, o mais estranho...
Não são imposições da mãe! A mãe é que não vê necessidade nenhuma de espetar uma máscara nas caras das filhas só para as levar a algum lado sem haver necessidade absoluta disso. Agradeço aos céus o pior das nossas vidas já ter passado pois juro que não sei como iria colocar-lhes uma máscara se tivesse sido há uns anos. Agora, são elas próprias que sabem da segurança que a máscara proporciona, sabem como usar e retirar e sabem que usarão máscaras descartáveis. E sabem que serão postas à prova em breve pois teremos de nos deslocar ao hospital para uma consulta. A maturidade física e neurológica permitiu-nos dar um salto de gigante no que respeita à tolerância de toque e uso de acessórios na cara.
Temos uma pequena ideia do que faremos quando chegar o verão e de que estas serão as férias mais estranhas e adaptativas que teremos até ao momento. E não podemos chamar isso de normalidade. Uma nova normalidade, talvez, sim, faz mais sentido. Mas não o regresso ao que era antes, isso já não existe.
E, na minha opinião, esta nova normalidade é limitativa. Uma máscara abafa o som, impede a real discriminação auditiva de que necessitamos em alguns casos (a minha mãe é surda profunda de um ouvido e já ouve mal de outro, sem a proximidade e a leitura labial, é ainda mais difícil para ela descortinar sons - a mesma discriminação de que as piolhas precisam para identificar as palavras e os seus significados); o distanciamento social faz-nos ficar desconfiados de tudo e todos e, nos casos de amigos ou familiares, é muito complicado não ceder ao impulso de um abraço apertadinho ou de um beijo; o não tocar em nada que não se queira trazer - ou tocar apenas na cara - é um teste à nossa força mental. Não há terapias presenciais. Se, por um lado, me alivia o coração, por outro, faz-me perguntar se estaremos a perder algo... E nem vamos falar do volume de trabalho académico. Ou do medo que sentimos em relação a este e outros vírus. É isto regressar à normalidade? Não me parece.
É, sim, aceitar uma nova realidade e saber lidar com ela o melhor possível. Adaptarmo-nos - afinal, evolução é isso mesmo.
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