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Sempre falámos de História, cá em casa. Sempre envolvemos as piolhas na História e contextualizávamos de acordo com a idade. Obviamente que se falamos de História Mundial, com impacto direto ou indireto no nosso país, que falaremos da nossa História. E falaremos - em plena liberdade - do dia de hoje, do que impulsionou o dia 25 de Abril de 1974 que, começou tantos meses antes e tinha tanta coisa para correr mal.
Somos uma pequena amostra de liberdade pura: escrevo, trabalho, professo a minha não-religião, voto, não careço de autorização para fazer o que me der na real gana, critico abertamente o que me parece estar incorreto, valorizo o que me parece estar correto, faço parte de associações de mulheres ligadas diretamente à política municipal e nacional, estou sindicalizada atualmente, estudo, saio à noite com amigas, bebo bebidas alcoólicas socialmente, tomo cafés ou almoço com homens que não o meu pai ou marido, conduzo, sou mãe de crianças com uma deficiência neurológica.
As piolhas, quase na maioridade, estudam e podem prosseguir estudos, escrevem, desenham, ouvem música/veem filmes de intervenção ou reacionários, conduzem, podem andar sozinhas na rua, não precisam de autorização para fazer parte de determinadas associações nem para trabalhar, são acompanhadas pelos diversos departamentos de educação e saúde, têm um diagnóstico estabelecido, não vivem escondidas, têm liberdade de expressão e não conhecem censura, podem indignar-se contra a injustiça e o incorreto, podem escolher o melhor caminho para o seu futuro, podem fazer ainda mais do que tudo aquilo que a mãe (e o pai!) fazem, podem usufruir em plenitude da(s) liberdade(s) que foi conquistada no tempo dos seus avós.
O marido/pai vê a certeza de que não irá lutar numa guerra que não lhe diz nada, sabe que não será um prisioneiro político ou um deportado/expatriado por se recusar a concordar com determinadas questões, pode estudar sem ser discriminado ou impedido ou censurado, pode questionar a autoridade sem represálias ou retaliações, pode ver as suas filhAs ser cidadãs plenas com os seus direitos de deveres assegurados por uma Democracia.
Vimos, em família, muito recentemente o filme/documentário "A hora da liberdade". Recomendo fervorosamente a todos. A liberdade, a democracia, aquilo que temos agora é tão frágil, é tão delicado, é tão precioso e custou tanto... Preocupa-me que a tomemos por garantida e nos seja, dissimuladamente à conta de tanta injustiça e de tanto descrédito e desvalorização, surripiada... Que não tenhamos que nos lembrar que há 3 estados e que um deles seja o "estado a que isto chegou" e contra o qual tenhamos de lutar... Que as vitórias de abril, depois de 50 anos (porra! meio século) de ditadura não se esfumem no tempo em Democracia, quase tantos anos depois quantos os de amarras.

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