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"É importante observar que ter ‘autismo leve’ não significa que a pessoa seja “praticamente não-autista”, pois isso não é verdade. A classificação de leve-moderado-severo é em comparação a pessoas autistas entre si, e não em relação à comparação entre autistas e não-autistas.
Essa é uma confusão muito comum nas escolas e na população em geral, pois os sintomas menos óbvios e severos acompanhados de traços de inteligência que costumam causar admiração, dá às pessoas a impressão de que a criança não tem nada, enquanto seu mundo interno silenciosamente entra em colapso pela falta de apoio e entendimento necessários."
Por Audrey Bueno
Psicóloga-pesquisadora e tradutora especializada em neurociências e psiquiatria.
Fonte: Blog: sindromedeasperger.blog – Publicado em: 05/02/2018

Muito resumidamente, a síndrome de Asperger é um funcionamento neurológico diferente do padrão (ou seja, “atípico”), que gera algumas dificuldades no comportamento, na socialização e na habilidade de comunicação. Ocorre em menos de 1% da população mundial.
Existem vários tipos de autismo, em diferentes níveis de gravidade. Quando há menos comprometimentos das capacidades funcionais da pessoa, ou seja, não há prejuízo da fala ou intelecto, por exemplo, dizemos que trata-se de autismo de “alto funcionamento”, ou “autismo leve”. Quando os prejuízos são mais extensos, como, por exemplo, dificuldade na fala ou algum déficit no intelecto, dizemos que trata-se de autismo de “baixo funcionamento”, ou “autismo moderado a severo”. A síndrome de Asperger é classificada como um tipo de “autismo de alto funcionamento”.
As causas do autismo são predominantemente genéticas. O sistema neurológico se desenvolve de maneira diferente, alterando o padrão de comportamento social, a percepção de 1 ou mais dos 5 sentidos da pessoa (audição, paladar, tato, olfato e visão) e a habilidade do cérebro de regular a necessidade de repetição das ações. Embora costume haver melhora de algumas das dificuldades da infância na vida adulta, devido ao amadurecimento natural do cérebro, o autismo é considerado uma condição para toda a vida, e certas dificuldades sempre irão existir, pois foram determinadas durante a formação do feto.
Como a infância é o período em que a síndrome é mais evidente, e também o período da vida em que as pessoas mais necessitam de esclarecimentos, principalmente por conta da vida escolar, a descrição desse resumo terá como foco as crianças com a síndrome, lembrando, porém, que o autismo não é um transtorno da infância, e sim vitalício, ou seja, as crianças de hoje serão os adultos de amanhã com a síndrome.
O diagnóstico é fornecido por neurologistas, psiquiatras ou neuropediatras, e não por psicólogos, como muitos acreditam, pois o autismo é um problema com componentes neurológicos e psiquiátricos, e não psicológico. Não é causado por traumas emocionais ou falhas na criação dos pais.
Crianças com a Síndrome de Asperger geralmente apresentam dificuldade no relacionamento social, especialmente com os colegas da mesma idade, interesses pouco comuns para uma criança (podem gostar de postes de iluminação, mapas, sinais de trânsito, placas, utensílios domésticos, etc., dando pouca importância a brinquedos), sensibilidades acentuadas em um ou mais dos 5 sentidos (incomodam-se com barulhos, cheiros, toque, sabor ou textura dos alimentos, luminosidade), além de apresentarem comportamento repetitivo e obsessivo, falando e brincando sempre das mesmas coisas por um longo período de tempo, que pode durar meses ou anos. Elas costumam ser bastante inteligentes e é frequente que apresentem quadro conjunto de superdotação intelectual (alto QI), ao que se denomina “dupla excepcionalidade”. A Síndrome de Asperger raramente ocorre sem a presença de outros transtornos associados (comorbidades), sendo os mais comuns: Ansiedade, Depressão, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Opositivo-Desafiador, Transtorno do Déficit de Atenção (com ou sem Hiperatividade), Transtorno Bipolar e Síndrome de Tourette.
Como o autismo se manifesta em diferentes níveis de gravidade, do mais leve ao mais severo, os profissionais, hoje em dia, quase não dizem mais que a criança “tem autismo”, e sim que esteja “no espectro do autismo”. A palavra “espectro” significa “variação, diversidade”, e foi emprestada da ideia do “espectro das cores” (foto abaixo).
Este é o espectro de cores que o olho humano pode ver:

Assim como as cores variam e se modificam conforme avançam e se distribuem pelo espectro, o autismo também vai assumindo novas formas e apresentações conforme o caso. Ainda usando o exemplo das cores, poderíamos imaginar que casos leves de autismo estivessem mais próximos da extremidade esquerda, ou seja, da área azulada, casos moderados estariam mais concentrados na área verde-amarelo-alaranjada e casos mais severos estariam mais próximos da extremidade direita do espectro, na porção avermelhada. Nenhum tipo é igual ao outro, mas são todos formas de autismo, assim como o azul, o verde, o amarelo, o laranja e o vermelho são diferentes entre si, mas são todas cores. Autismo é o termo genérico, assim como a palavra “cor”. Sem determinar de qual cor estamos falando, não saberemos a qual das infinitas possibilidades de cor estamos nos referindo, assim como no autismo: sem determinar qual tipo e nível de severidade, não saberemos a qual das infinitas possibilidades estamos nos referindo. Pessoas na parte azulada do espectro muito provavelmente não terão comprometimento da fala ou intelecto, mas pessoas na parte avermelhada provavelmente sim.
É importante observar que ter ‘autismo leve’ não significa que a pessoa seja “praticamente não-autista”, pois isso não é verdade. A classificação de leve-moderado-severo é em comparação a pessoas autistas entre si, e não em relação à comparação entre autistas e não-autistas. Essa é uma confusão muito comum nas escolas e na população em geral, pois os sintomas menos óbvios e severos acompanhados de traços de inteligência que costumam causar admiração, dá às pessoas a impressão de que a criança não tem nada, enquanto seu mundo interno silenciosamente entra em colapso pela falta de apoio e entendimento necessários.
Mesmo na extremidade leve do espectro, a criança terá necessidades especiais em relação a uma criança sem o transtorno e suas dificuldades podem apenas ser menos evidentes, mas tão existentes quanto as de alguém que tenha algum outro tipo de condição de saúde que não é menos importante simplesmente porque não podemos ver somente de olhar para a pessoa, como o diabético que precisa de insulina, por exemplo. Você não diz que alguém seja diabético “só de olhar”, mas nem por isso a pessoa deixa de ter uma condição que exige cuidados especiais.
Como crianças com Asperger costumam ser muito inteligentes e terem boa fluência verbal, suas dificuldades costumam passar despercebidas num primeiro momento, ficando mais evidentes somente com a convivência diária. Cerca de apenas 5% dos casos de autismo são de síndrome de Asperger.
Nenhuma das formas de autismo apresenta sinais físicos que identifiquem a condição, como é frequente observarmos em outros tipos de síndromes, como a síndrome de Down. Todo o transtorno está ‘escondido’ no funcionamento mental do indivíduo. Quando há sinais físicos presentes, estes se devem a outros transtornos associados.
Para compreender melhor a complexidade da síndrome, acesse: sindromedeasperger.blog
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