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Às vezes, penso que algo de errado se passa comigo, só pode. Sempre fui de estudar. Aliás, deve ser das poucas coisas que sei fazer relativamente bem e que me dá aquela injeção de dopamina de que o meu cérebro tanto gosta. E, mesmo prometendo a mim mesma que vou levar as coisas com mais calma, acabo por nunca cumprir bem essa promessa...
Quando as piolhas andavam no 2º ano de escola, decidi aproveitar uma oportunidade única, assim, meio em piloto automático, e tirar a minha especialização. Se, para muitos colegas, foi a walk in the park, para mim foi terrível pois aproveitava cada minuto, contado pelo relógio, com as piolhas fora de casa para fazer os trabalhos, os exercícios, ler aquela bibliografia toda e ainda preparar as minhas aulas, porque, apesar de, na altura, ser professora de AEC (professora e não técnica, independentemente do que dissesse o contrato), eu sempre preparei materiais, planificações, avaliações e relatórios. E, porque o ordenado era escasso, ainda dava aulas por fora, no final do dia. Portanto, estudava, trabalhava e continuava a ser a mesma mãe atípica que já era. Correu bem. Tive uma boa nota, consegui a certificação e obtive a especialização que me permitiu abrir horizontes e ficar colocada desde pouco tempo depois.
Entretanto, fui fazendo vários cursos, alguns online outros presencialmente. Tudo, com imenso para ler (obviamente...) mas sem grande problemas com as notas, até me ter lembrado de fazer um curso tripartido pela Universidade de Genebra... Alguns testes, deuzmalibre, não eram nada fáceis e o mínimo exigido eram 85%, portanto, ou era mesmo à séria ou não terminava.
Este ano, meti na cabeça que iria voltar a estudar pela faculdade... E aprender a nadar... As piolhas já não precisam tanto de mim como antes, estão muito autónomas nos estudos, só pedem ajuda para adquirir ou encontrar alguns materiais específicos, estão mesmo por conta delas, com o nosso apoio em background. E lá fui eu toda lampeira. E sobrevivi a dois rounds de aulas e avaliação (o meu primeiro 16 na faculdade de letras de Coimbra - in the house!!! - cotas, como eu entenderão :P ), estou a caminho de mais um e já consigo nadar, sem apoios, na parte em que tenho pé, e só com placa na parte funda. Nada mau, portanto! E continuo a estudar outras coisas (inscrevi-me numa série de workshops - para quê, porquê, meu Deus????), a trabalhar e a ser a mãe atípica que sempre fui.
Estou, portanto - e passo a redundância de "portantos" - estoirada... Mas, interiormente e lá no fundo, muito orgulhosa de mim mesma e do que tenho aprendido. E de mostrar às minhas filhas - e aos meus alunos quando lhes digo que também tenho um teste para o qual preciso de estudar - que, mesmo em adulto e com uma vida formada - é possível continuar a querer sempre mais e a investir em nós mesmos, por muito irrisório que possa parecer. Aprender a nadar é apenas mínimo para muitos mas, para mim, aos 42 anos, é imenso. E a idade já não ajuda em muitas coisas, acreditem!! Mas é compensador porque é possível, é exequível e é muito bom!
Custa muito mas vale a pena. Há um tempo para tudo, poderão alguns dizer. E qual é esse tempo? Eu decido ;)
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Quem passou pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra nos finais dos anos 90 e inícios dos 00s nos cursos de Línguas e Literaturas Modernas com as várias variantes de estudos, apanhou, de certezinha absoluta, aqueles "professores" que guardavam a nota 20 para si mesmos e jamais avaliavam acima do 15, dizendo que este era o seu 20. Eu tive, na realidade, 10s que souberam a 20s, portanto, nada, naquela altura me espantava - a não ser a tremenda injustiça que grassava por lá. Tolerância nenhuma, inclusão pouca... outros tempos, não é verdade?
Por isso, volvidos quase os equivalentes aos anos das bodas de prata, quando algum tenrinho (como, carinhosamente chamo, à geração seguinte - sem ironias, ok?) me diz que adora a faculdade que delira com as aulas, que as notas são maravilhosas, eu, sinceramente, sinto que falamos de outro local.
A minha geração sofreu horrores naquelas salas e corredores. E sim Coimbra, teve mais encanto na hora da despedida. Fiquei muito desiludida, dececionada e magoada com a FLUC. Havia excelentes professores, não duvidemos, mas eram uma percentagem quase mínima... E poucos tinham vagas...
A minha nota mais alta, na FLUC, foi um 15 - o tal equivalente a um 20. Nem queria acreditar que seria possível. Mas chumbei 3 ou 4 vezes, à mesma disciplina, com 9. Sempre com 9. Definitivamente, Psicologia Educacional não era para mim. E chumbar sempre com 9 foi marranço puro da docente para comigo. Quando repeti a disciplina - com outro professor -, terminei com 15, mas adiante.
Consegui, no presente ano letivo, pela primeira vez, na FLUC, uma nota acima dos 15, justa e verdadeira. E sabe muito bem. É coerente, é real.
Tenho feito as pazes com o meu passado naquela instituição. Não tive sorte com a minha década de estudo nem com a escolha de alguns professores (eu ainda sou do tempo das noites dos horários e, estando aquele horário pretendido cheio, lá íamos nós para as opções seguintes... Desgraçado de quem chegasse na 2ª fase. Como eu...). Hoje a FLUC é uma instituição inclusiva, onde estudam pessoas com deficiências visíveis e invisíveis (há vários autistas ingressados num curso superior); adaptada à realidade do dia a dia e não presa num conservadorismo inexplicável; com um gabinete de apoio ao estudante e uma vontade de alargar a experiência universitária a todos. Hoje, a FLUC é a faculdade que eu desejava ter frequentado no final da década de 90; hoje a FLUC é a faculdade com que sonhei em adolescente; hoje é bom estar de volta à FLUC. Hoje, gostaria de apagar aqueles traumas, bullying puro de alguns docentes que já lá não estão (e ainda bem): a vergonha do meu nome ou da minha nacionalidade (eu que sou portuguesa sentia vergonha de não ser tratada da mesma forma que eram os meus colegas estrangeiros), de ter mais aptidão para uma área do que outra, do ser gozada por adorar estar num instituto de volta de livros ou trabalhos, do chorar desalmadamente na casa de banho, do quão difícil era conseguir estar à altura das expectativas de alguns docentes (nunca estava), da humilhação gratuita que nos faziam quando errávamos algo ou não tínhamos o mísero 10 ou de ainda hoje sonhar que me falta fazer uma disciplina para terminar o curso ou pagar a última prestação das propinas. Não me venham cá com mitos de que estudar por lá foi tudo rainbows and butterflies porque não acredito. Cruzei com dezenas de colegas assim. E, quando anos depois, nos encontramos por lá para fazer formação, todos falam disto. Não sou a única...
Hoje, estou feliz por estar na FLUC. Hoje gosto de ser alumni, de ser estudante na Universidade de Coimbra. Hoje sim, sinto-me integrada, incluída, respeitada e ensinada com pedagogia e respeito. Hoje, a FLUC é a "minha" FLUC. E é bom melhorar o passado e vivê-lo com carinho no presente. E eu estou feliz com a minha nota :D
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No âmbito da Dissertação de Mestrado de uma seguidora a desenvolver o estudo "Motivações e Perceções acerca do Acolhimento Familiar em Portugal" que pretende analisar as motivações para se ser família de acolhimento e as perceções da população portuguesa sobre o acolhimento familiar e, desta forma, contribuir para a validação científica de instrumentos de apoio à formação, avaliação e seleção de famílias de acolhimento em Portugal. Este estudo é promovido pelo ProChild CoLAB, pelo Iscte-IUL, pela Universidade Católica do Porto e pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
O Acolhimento Familiar é uma medida de caráter temporário que consiste em integrar, no seio de uma família ou pessoa singular, uma criança que foi separada da sua família biológica por se encontrar numa situação de perigo.
Em Portugal, das crianças acolhidas, a maioria encontra-se em Casas de Acolhimento e apenas uma minoria em Famílias de Acolhimento. Considerando que o Acolhimento Familiar é uma alternativa de cuidados globalmente mais protetora do desenvolvimento da criança comparativamente ao Acolhimento Residencial, torna-se urgente recrutar e formar mais famílias de acolhimento em todo o país. Para isso, é necessário sensibilizar a população portuguesa para esta necessidade, conhecer as suas perceções sobre o acolhimento familiar e, ao mesmo tempo, validar cientificamente instrumentos que possam auxiliar a formação, avaliação e seleção de famílias de acolhimento.
Se tiver uma idade igual ou superior a 25 anos e NÃO for família de acolhimento, pedimos a sua colaboração através do preenchimento de um questionário online, anónimo, de duração prevista de 15 a 20 minutos, e disponível através do seguinte link: https://bit.ly/3sIU0Pr
Muito obrigada! A sua participação e colaboração serão muito valorizada.
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1. "Vê se te despachas a comer que tens de ir ver televisão às 14h"
2. "Está aqui o horário das vossas aulas na RTP memória. Quero-vos em frente à televisão a tirar notas"
3. "Podem ir às gravações rever a aula da televisão"
4. "Uma tarde inteira em frente à televisão? Ah mas são aulas... Vá, vão lá, não se atrasem"
5. "É para estar em frente ao computador às 8:30."
6. "Linux é mais rápido que Windows nas vídeo chamadas, muda lá de sistema operativo"
7. "Obrigada marido por teres insistido em meter uma TV no quarto das piolhas"
E é isto. Vou morder a língua e pôr o cérebro de molho.
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De acordo com este novo estudo, o autismo será tendencialmente genético, potencialmente hereditário, residualmente causado por outros (ambiental, trauma, clínico, etc).
Envolveu, maioritariamente o estudo genético de mais de dois milhões de indivíduos (cerca de 50% de sexo masculino), de vários países, nascidos entre um determinado período de tempo, vindo a validar um outro que envolveu gémeos idênticos e fraternos. Deste universo, estimadamente 1% tinha diagnóstico de PEA.
Aqui? Aqui, creio, à luz deste artigo cujo link para a revista está abaixo, que nós somos um verdadeiro cocktail que potenciou tudo isso: gémeos idênticos, peso genético hereditário via linha materna (não tenho autismo mas o meu lado está pejado de casos diagnosticados) e exposição de agentes intrauterinos (infeção, medicamentos, traumas, etc.).
Não vou falar de supostas culpas. Já dei para esse peditório há muito. No meio destes números e do preto e branco cru que os artigos, grelhas, tabelas e relatórios mostram, o importante é seguir em frente e trabalhar, apostar em terapias fidedignas e criar uma equipa que fale a mesma linguagem. O resto são restos e de restos ninguém vive.
https://jamanetwork.com/…/jamapsyc…/article-abstract/2737582
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Nas nossas últimas consultas, já havíamos falado deste estudo/pesquisa/investigação e da possibilidade de recolha dos dentes molares das piolhas para estudo. Em último caso, se não houvesse hipótese de usar os molares (que começam agora a abanar para cair em breve), faríamos a recolha pelos dentes do sizo (o que acabaria por envolver uma ida ao bloco para se fazer a recolha, coisa que, de pacífico e tranquilo, nada teria - a não ser a anestesia).
Na nossa mais recente consulta no dentista, vimos que as raízes dos dentes molares das piolhas estão praticamente absorvidas e muitos deles já a abanar. Os dentes definitivos estão a nascer perfeitamente saudáveis e na correta posição. Assim, depois de já termos enviado alguns dentes de leite para análise no Instituto Ricardo Jorge (ler aqui em que consiste esse estudo), vamos agora enviar estes para análise para o Centro de Neurociências e Biologia Celular
Universidade de Coimbra. Para já, na nossa arca congeladora, estão dois tubinhos de ensaio fechados com um cocktail de células vivas e com a etiqueta "kit dentário" para que, assim que caia um dos molares das piolhas, possamos guardá-lo lá dentro (mesmo que tenha ainda restinhos de sangue, gengiva, saliva - quanto mais matéria biológica, melhor), telefonar ao médico, vir um estafeta e levar o kit.
Ora, e para que serve isto e por que estamos a participar neste estudo?
Vamos começar pelo final da pergunta: é uma espécie de "altruísmo esgoísta", para usarmos as exatas palavras que usámos na consulta - ajudamos a que se busquem mais hipóteses da descoberta de uma causa para o autismo e recebemos, ao mesmo tempo, respostas. Neste momento, mais importante do que consciencializar para o autismo através de formação ou palestras e ter que levar com pessoas que não aceitam, mesmo quando o autismo lhes entra pelos olhos dentro (profissionais de várias áreas, pais e terceiros), virámo-nos para esta parte e que, não sendo tão pública, acaba por ser mais útil e sabemos que, pelo menos aqui, conseguimos, mesmo e de facto, contribuir com e para algo concreto e que nos pode dar respostas - a nós e aos outros.
Este estudo aborda, assim de forma simples e sucinta, as sinapses (as ligações/transmissões entre neurónios) e a sua biologia. Este grupo de estudo, que envolve o trabalho dos Drs Ana Carvalho, João Peça e Paulo Pinheiro, "está interessado nos mecanismos celulares e moleculares da função sináptica e da plasticidade sináptica, e em como disfunção sináptica e dos circuitos neuronais está na base de doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas."
Os nossos dentes irão parar às mãos do Dr. João Peça, que descreve resumidamente o seu trabalho em http://www.cnbc.pt/research/department_group_show.asp?iddep=1113&idgrp=1686&IdGrupo=1107&IdSeccao=&hash=39
A descoberta do uso de células estaminais dos dentes (em especial dos molares e sizos) não é recente (alguns artigos jornalísticos datam de 2012) e, nesta tese, podemos ler em que consiste, características, etc. Aqui, em concreto, não se pretende dar o uso que habitualmente se dá às células estaminais do cordão umbilical, por exemplo, regeneração de tecidos ou órgãos. A ideia é mesmo estudar alterações e regulações em possíveis recetores das/nas tais sinapses, em especial, associadas ao autismo. É claro que a genética está em todo o lado por aqui... É tudo muito complexo e tudo se interliga, desde o gene, à enzima, à molécula e aos processos bioquímicos que gerem tudo isto. E claro, o ambiental também poderá dar aqui uma mãozinha pois lembremo-nos que é a partir dos dentes que conseguimos traçar o nosso percurso de vida (tal como nas séries policiais, sim).
Portanto, vale o que vale, mas, para mim e na minha muito modesta opinião de alguém de Letras que muito pouco percebe de Biologia/Química/Bioquímica e afins, acho que todos estes estudos podem significar avanços. Não pretendo com isto prever ou augurar uma cura! Mas sim, para já, perceber o que causa o autismo; o que está no nosso corpo que causa, especificamente, o autismo; o que é o autismo, concretamente; se um diagnóstico de autismo, num futuro, poderá ser feito biologicamente e não apenas através da observação direta e de grelhas/escalas/questionários. E o que nos custa é só um dente molar de leite, mesmo, no nosso caso, desmineralizado e partido (mas há outros em melhor estado). Com a vantagem de podermos contribuir com dentes de dois sujeitos com um ADN igual (o mitocondrial não é para aqui chamado).
Não sei se outros hospitais do país (e fora do país) estão a participar neste estudo. Mas, em caso de interesse, é uma questão de perguntar ao médico da especialidade para saber.
E depois?
Depois, logo se vê. Para já, é aguardar que os dentes caiam, sejam enviados para o seu destino final e aguardar de novo pelos resultados do estudo. Demore o tempo que demorar.
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