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2 - 2023
5*
É tão mesmo a minha cena :D "O lixo na minha cabeça" é a compilação em livro das tirinhas satíricas, críticas, literais, patetas e divertidas a que Hugo van der Ding já nos foi habituando nas redes sociais. A literalidade das piadas, dos dizeres, dos provérbios é extraordinariamente bem posta em imagens. E, para além de ser ler de uma assentada só, quem não (sor)rir não pode certamente ser boa gente.
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Os temas de que muito poucos querem falar na adolescência e que, no entanto, tão necessários são: bullying, orientação sexual, identidade sexual, amizades, namoro, relação com os pais/tutores, escola, exames, aulas, viagens de estudo, doenças mentais (distúrbios alimentares, automutilação).
Fui apresentada a esta série, em BD, pelas minhas filhas, ativistas por um mundo onde não sejamos discriminados por não seguirmos o que alguém/alguéns denomin(ou)aram como norma. Nick e Charlie são um casal que se vai conhecendo, que vive o seu namoro como qualquer outro casal e que não impõem a sua relação a ninguém, que têm um grupo de amigos, famílias, professores. Apesar de algumas reações homofóbicas e bastantes deceções, acaba por conseguir levar a sua relação a sério e viver sem se martirizarem com o que os outros poderão pensar. É mais difícil do que se pensa perceber quem somos, mostra-nos Nick. E é verdade.
Temos uma visão de uma sociedade onde a inclusão pode existir se nos esforçarmos: é possível respeitar a comunidade LGTBQ+, é possível ajudar alguém com uma doença mental, é possível sermos quem somos só por respeitarmos os que nos rodeiam.
Acabo por entender porque o livro 1 foi incluído no nosso Plano Nacional de Leitura. Há muito mais do que a vista alcança na adolescência e esta série é escrita pelos olhos do adolescente, das suas vivências, dos seus medos, das suas relações, das suas reações.
Gostei e recomendo. Lê-se de uma assentada só e acaba por ensinar algo.
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É uma narrativa forte, bastante emotiva e que revela uma realidade pós 2ª Guerra Mundial, nos gulag soviéticos, na Sibéria. São realidade diferentes e, ao mesmo tempo, semelhantes - afinal "o trabalho liberta"...
Cilka já aparece no anterior livro "O tatuador de Auschwitz" e aqui, na sua viagem, vemos o que se passou depois da libertação dos campos de concentração nazis. Cilka faz o que precisa para sobreviver, tem fogo de vida, não quer morrer. E viajamos com ela nos comboios até ao campo, estamos com ela nos barracões, vêmo-la a aprender mestrias novas para compensar ter sido uma mão na ajuda da morte "naquele outro lugar", vêmo-la a ter a vida que merecia, sabemos que é capaz de amar.
Não vou entrar em detalhes pois tem de se ler para se sentir, para aprender, para apreender e evitar que a História se repita. É inconcebível seres humanos serem tão desumanizados de essência para com os seus semelhantes. Apesar do final feliz, é uma história real, com pessoas reais, num momento histórico real. A ler, sem dúvida.
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Duas - talvez três - estórias paralelas:
- Freud visita, pela primeira, última e única vez, Nova Iorque (a Nova Iorque do início do século XX, ainda a receber centenas de imigrantes europeus), com os seus discípulos, para uma série de palestras sobre psicanálise. Temos, pois, tudo o que a Freud diz respeito: interpretação de sonhos, repressão sexual para explicação de quase todo o distúrbio mental e complexo de Édipo a rodos.
- Depois de enxotado do Instituto Legal pelo médico legista, o detetive Littlemore decide investigar mais a fundo o assassinato de uma jovem e o ataque a outra que são idênticos: chicotadas nas pernas e nádegas e asfixia com uma gravata de seda branca.
- as sessões de psicanálise a uma jovem da alta sociedade americana, atacada na sua casa, que perde a voz e a memória e cujos traumas que desencadearam estes sintomas, o jovem dr. Younger terá de analisar.
É um livro com muitos turn-twists que dão uma sensação boa de suspense e nos faz querer saber o porquê daquele comportamento, o contexto daquele ataque, a visualização da ponte de Manhattan em construção, a saída sub-reptícia de prisioneiro da cadeia de Sing Sing. Também rebolamos os olhos com as visões de Freud mas é muito interessante tentar perceber onde estão os factos e onde está a ficção.
Gostei da leitura, gostei da viagem rápida à sociedade da Golden Age americana e gostei da resolução final do crime e de como as três estórias, afinal, estavam todas interligadas desde o início.
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Spoiler alert: Não tem nada a ver nem com autismo nem com Covid-19
Voltamos à personagem principal, o médico legista com laivos de investigador forense, Jack Stappleton e a sua esposa (agora diretora do OCME, o Instituto de Medicina Legal de Nova Iorque) que, recentemente recebem o diagnóstico de autismo da sua filha Emma, de três anos e não sabem bem como gerir tudo isso, em especial depois de passarem por algo já tenebroso com o filho mais velho. Infelizmente, o autismo não tem cura e eles aprenderão a lidar com isso. Há referências breves ao estudo muito desacreditado de que autismo é causado por vacinas e que há terapias milagrosas e explica-se sucintamente a possibilidade genética e/ou epigenética do autismo.
Neste turbilhão, ocorrem mortes surpreendentes no metro e, mais tarde, algures em vários países da Europa. Pensa-se numa pneumonia citogénica, semelhante à da epidemia de 1918 e teme-se que o mundo esteja à beira de uma nova pandemia... Acabamos envolvidos numa rede poderosíssima de transplantes de órgãos onde a genética desempenha um papel crucial e onde, mais uma vez, a ética é varrida para debaixo do tapete em busca de mais dinheiro, mais glória, mais respostas rápidas - se possível, contornando a legislação e protocolos legais. E é "a brincar" com a genética que se fazem sabotagens virais sem se pensar ou antecipar consequências... O futuro? Quiçá bem mais próximo do que pensamos (ou antecipamos).
Robin Cook, médico e escritor, publicou "Pandemia" em 2018, sem imaginar que, um ano depois, o mundo entraria em lockdown e o cenário seria bem pior do que o imaginado no livro.
Nota: li em formato edição de bolso porque é leve, prático e, acima de tudo, bem mais barato.
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Victoria Hislop traz-nos a continuação de "A Ilha" com este seu recente "Uma noite de Agosto". Centra-se, mais uma vez, nas personagens centrais da sua última obra: Anna, Manolis, Maria e personagens alargadas: Nikos, Andreas, Giorgios, por exemplo.
A ilha de Spinalonga acaba de perder os seus habitantes, aí enviados, não para morrer, mas para viver com a lepra. A cura foi descoberta, as pessoas exiladas recuperaram e voltaram às suas terras natal. Alguns com marcas, outros sem nada que denuncie a condição curada mas todos o estigma.
A lepra não é uma epidemia, nem uma praga bíblica e pode estar dormente durante décadas. Erradicada na Europa e países desenvolvidos, é ainda muito frequente em países mais pobres e subdesenvolvidos, onde ainda grassa a vergonha e toda a ostracização associada, o que impede o rápido e correto acesso ao medicamentos que, de facto, curam.
Maria, curada, regressa à sua aldeia, Plaka, de onde se vê a ilha onde esteve exilada, deveria estar agora pronta para retomar a sua vida, ao lado do médico que a salvou. Mas, quis um crime passional ditar-lhe uma mudança radical na sua vida e ela terá de se adaptar e tomar uma decisão muito difícil.
Manolis, amante da sua irmã, sai de Creta e recupera do seu coração partido no continente, antes de embarcar de vez e para sempre, para a Austrália, onde já vive uma grande comunidade grega.
De vivências da ocupação nazi, às anteriores invasões otomanas, à lepra, temos uma panóplia de temas que são abordados de forma humana e quase palpável. Porque as memórias ainda vivem.
Uma escritora notável. Recomendo.
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Qual a linha que separa a ética da evolução científica e genética? Até que ponto, o ser humano pode manipular genes e fazer experiências entre humanos e animais em troca de qualidade de vida, de salvação humana?
O cromossoma 6 constitui cerca de 6% do genoma humano, está relacionado com o complexo de histocompatibilidade (muito necessário, por exemplo, em transplantes de órgãos) mas também é o responsável pelo desenvolvimento e evolução humana. Quer isto dizer que, se transferirmos o cromossoma 6 para um, digamos, bonobo (uma espécie de chimpanzé muito semelhante ao humano), há a possibilidade real de podermos vir a assistir a uma evolução de milhares de anos em apenas algumas gerações...
Ficção? Realidade? As personagens principais, de duas histórias paralelas intrinsecamente interligadas, vão descobrir o objetivo desta experiência e o seu resultado real...
Recomendo. É o tipo de livro que nos prende, nos ensina e nos faz pensar que a ficção pode ser realidade e que talvez não estejamos tão longe quanto isso de experiências deste género, se já se fazem xenoenxertos (geralmente válvulas cardíacas de porco) com sucesso... Fica a recomendação.
"Chomossome 6" de Robin Cook, médico e escritor.
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"Estavas linda, Inês, posta em sossego..."
Poucas serão as pessoas que não conhecem a história de amor de Inês e Pedro, em terras de Coimbra, os namoros e beijos na Fonte das Lágrimas, as suas gotas de sangue, a vingança terrível de D. Pedro contra os assassinos de Inês, a rainha que foi Inês depois de morta.
Isabel Stilwell traz-nos uma visão mais completa de Inês: a mulher bela que foi espia, amante (barregã) e rainha. A sua história está intrinsecamente ligada à de Pedro de Portugal e os pormenores das suas vidas esculpidos no túmulo de D. Pedro, no Mosteiro de Alcobaça onde encontrava refúgio e aconselhamento (e compreensão) devido à sua perturbação da comunicação, uma vez que D. Pedro tinha gaguez.
Romance histórico de extrema qualidade, com aquele sentimento de pertença, em especial para quem vive na zona de Coimbra. Inês, a galega que é tão portuguesa e tão trágica, Inês, a protagonista de uma historia de amor que não deveria ter terminado de forma tão cruel... A roda da fortuna não para de girar...
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Leitura leve, sem grande aprofundamento histórico, embora bem contextualizado e que nos dá uma noção do que se poderá ter passado. Peca por não desenvolver toda a trama que levou à Restauração da Independência e passa muito pela rama.
D. Sebastião, se vivo na altura já seria idoso, é constantemente invocado, tal é o desejo de liberdade, de reconquista da coroa portuguesa.
É uma boa leitura de férias para quem quiser perceber minimamente o que se passou ao longo de 60 anos de subjugação espanhola até à independência mas não é um tratado histórico. Fica a sensação de que falta ali algo mais.
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