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Uma das minhas respostas prontas a perguntas do género “Como estás?” é “Cansada” aí 90% das vezes. E, na maioria das vezes, é um cansaço psicológico e até emocional, mais do que um cansaço físico.
E a maioria das pessoas não entende isso.
Eu sinto que estou constantemente cansada, com alguns vislumbres em que me sinto bem e enérgica, mas maioritariamente cansada. Também sei que o facto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, a profissão escolhida, as viagens/deslocações, a vida familiar e a maternidade atípica não abonam muito a meu favor. E é aí que quero chegar. Não podemos comparar cansaços. A minha mãe não entende bem por que ando sempre cansada mas percebe que o meu cansaço é diferente do da minha irmã; eu percebo que o meu cansaço é diferente do do marido; eu sei que o meu cansaço não é nada como o de outros pais atípicos. Comparar cansaços é como compararmos as nossas crianças: não dá e dá sempre mau resultado. Estamos cansados e pronto, é isso.
Mas, no fundo, o que me custa mais é o cansaço emocional. É gerir situações imprevistas e adversas a nível pessoal e familiar, das piolhas; é antecipar comportamentos, ações, aulas, estudo, saídas, aprendizagens, brincadeiras, etc; é saber lidar com a ansiedade de como vai ser mais um ano letivo, desta vez com exames nacionais; é sentir o coração pequeno por não saber como serão os nossos horários a partir de setembro; é tomar mil e quinhentas decisões (como mãe e como professora) sem me aperceber disso; mas, acima de tudo, é saber que nunca saberei o que é a maternidade típica. E isto ocupa espaço no pensamento, no coração, nos sentimentos. E não vai embora, fica sempre ali a pairar.
É preciso dar tempo para descansar de todos estes cansaços e recuperar ânimos e forças. A energia virá depois. Mas é preciso também perceber que, até aqui, somos todos diferentes e não há nada de errado nisso.
E, sim, estou muito cansada.
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Não há perfeição na maternidade. E não há nada de errado nisso.
Quando nasce um filho, nasce uma mãe ou um pai. E, por muita experiência que tenhamos com bebés ou crianças, estamos a aprender tudo de novo, a viver tudo como se fosse a primeira vez – e, em alguns casos, é mesmo a primeira vez.
Não há uma receita milagrosa, um livro de instruções, uma indicação universal em como lidar com aquele(s) ser(es) minúsculo(s) que acaba(m) de entrar nas nossas vidas. E depois começam, quase no mesmo instante do parto, as pressões sociais e até familiares de perfeição, as comparações entre membros da família ou conhecidos, as opiniões e palpites.
Ai a culpa, esse sentimento tão incapacitante quanto tenebroso. Tudo é culpa dos pais, em especial da mãe, claro. O parto foi de cesariana? A culpa é da mãe. Não tem leite? A culpa é da mãe. A criança tem soluços? A culpa é da mãe. A criança não dorme? A culpa é da mãe. A criança tem um problema de saúde? A culpa é da mãe. Não esqueçamos a velha causa de autismo nos anos 50 em que as culpadas eram as mães por serem frígidas no seu amor aos filhos e daí o termo “mães-frigorífico”, que, pasme-se, alguns ainda hoje usam, volvidas tantas décadas de estudos e análises.
A culpa é-nos intrínseca, é-nos ensinada desde logo cedinho, “culpa” da nossa tradição hereditária judaico-cristã. Temos sempre de nos sentir culpados de algo ou não estaremos a desempenhar corretamente o nosso papel. Em especial, se formos mães ou pais.
Porque há a hereditariedade, porque há a genética, porque aconteceu isto ou aquilo na gravidez ou no parto, porque porque porque…
Não tem de haver culpas.
Surgiu. E dói. Mas, agora vamos avaliar a situação e saber do que se precisa para lidar com isso, desde apoios, a tratamentos, a medicação, a avaliações, a técnicos, a médicos, a abordagens terapêuticas. A culpa não pode ter lugar nesta enumeração de trabalho a fazer porque desgasta, deprime, desmoraliza, não traz benefícios. Não é negligência.
Ser mãe ou pai é difícil, caramba, é mesmo muito difícil. Podia ser mais intuitivo, mais “user-friendly”, mais simples! Mas não é. Mas também não há nada de errado nisso. Quero acreditar que todos damos o nosso melhor para fazer um excelente trabalho no nosso papel de pais e educadores. A culpa só vem atrapalhar e não traz nada de novo a esta equação tão complexa.
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Um feliz dia para todas aquelas que perderam o nome próprio e ganharam um novo no momento em que apareceu um risco extra no pauzinho.
Se tiverem muita sorte, deixam de ser apenas "mãe" para passarem a ser "mãe das gémeas" ou algo assim do género.
É assim há 13 anos. Não o trocaria por nada (embora, às vezes, gostasse de ouvir o meu nome corretamente, vá. Não me parece que a Conservatória do Registo Civil aceite "mãe" como nome próprio - mesmo que o seja...)
Bónus: imagem do momento em que ambas tagarelavam sobre o assunto, já às 12 semanas. Isto já foi tudo combinado com muita antecedência, obviamente, não nos iludamos.
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Há quase 13 anos, depois de semanas a dormir sentada e rodeada de almofadas, farta de estar grávida e de mal conseguir mexer-me em condições, com dores excruciantes nos rins, ganhei uma viagem alucinante até à maternidade. Ninguém nasceu nesse dia, nem no seguinte, nem no a seguir. Ainda foi preciso esperar uma semana para o grande acontecimento do ano.
As partes mais loucas de que lembro dessa noite é de exigir vestir uma túnica branca - que basicamente era das pouquíssimas coisas que ainda me servia sem eu ficar a parecer um barril - e das luzes de aviso dos travões do carro que entraram em sobreaquecimento (memo to myself: há anos que o marido deseja secretamente um curso de condução evasiva e defensiva, mas sinceramente, só se for por causa do papel pois ele mete muito condutor profissional a um canto. Um dia ofereço-lhe essa prenda).
O diagnóstico foi simples de fazer: as duas bebés sentadas estavam a fazer demasiada pressão nos meus rins, o que complicou ali a coisa e fez voltar as contrações que estavam mais ou menos controladas desde as 32 semanas. Estávamos nas 34 semanas e uns dias.
Não fiquei no mesmo quarto onde ficara nos internamentos anteriores.
Lembro de estarmos na pausa de temporadas do Lost mas de conseguir ver o novíssimo filme dos "Piratas das Caraíbas: nos confins do mundo" e de ficar impressionadíssima com o grafismo visual do que seria o fim do mar representativo do fim do mundo, qual pintura medieval. Refugiava-me nos vídeos que levava no computador e no fórum em que participava e devorei todos os livros de Isabel Allende que uma grande amiga me emprestara. E fazer palavras cruzadas aos molhos. A minha colega de quarto era cheia de teorias da conspiração que me exasperavam. Ela assustava-me, porra.
Lembro-me ainda de tomar bastantes relaxantes musculares (que acabaram por me causar uma pequena reação alérgica), de fazer milhentos toques durante o dia (e amaldiçoar essa técnica de despiste de dilatação), de fitas apertadas em volta da barriga e dos habituais "carregue aqui sempre que sentir o bebé" e de estar constantemente a carregar pois havia sempre uma com soluços, o que significava voltar a repetir aquilo tudo mas sem marcar os soluços.
E, lembro-me de querer ver as pequeninas trigémeas minhas companheiras de barriga que haviam nascido um mês antes mas não poder sair da cama...
Lembro-me distintamente de outras questões relacionadas com trabalhos que só chateavam. E de ter as malas da maternidade prontas a usar.
O resto é tudo confuso e enevoado. E nem acredito que já se passou todo este tempo. Estávamos tão perto - tão perto - de embarcar na maior e mais louca aventura das nossas vidas. E sem nenhum livro de instruções ou páginas web úteis.
Memórias que surgem
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A culpa primordial de todos os males da Humanidade recai sobre a mulher. E há imensos exemplos disso na Mitologia, na História, na vida real. Provada que esteja ou não essa alegada culpa. Temos Eva (que não resistiu ao encantamento diabólico), Pandora (que não controlou a sua curiosidade), as bruxas de Salem, a mulher comum que não consegue engravidar ou tem filhos com deficiência. E já dei exemplos religiosos, mitológicos, históricos e reais.
A culpa é sempre da mulher. E, quando passa a ser mãe, a culpa é sempre da mãe.
Até há não muito tempo, no nosso país, a mulher que não casasse virgem – com ou sem o homem com quem tivesse tido essa primeira experiência – era uma desavergonhada; já do homem, não se diz o mesmo, pelo contrário, incentivava-se a essa experiência de forma quase pública, afinal, ia tornar-se um homem; se a mulher casada não engravidasse, a culpa era dela pois não servia o seu propósito de vaso recetor e fecundador do marido, independentemente de haver a possibilidade de essa dificuldade ou infertilidade poder ter causas masculinas; se nascia uma criança do sexo feminino, a culpa era da mulher pois ela é que tinha parido – ainda que a ciência tenha vindo explicar que, afinal, a determinação do sexo é feita pelo homem pois é ele quem possui os cromossomas XY; se uma criança nasce com uma deficiência, mesmo que seja uma anomalia genética única não presente no pai ou na mãe, a culpa é da mãe pois não terá seguido o indicado para uma gravidez segura, ela é quem carrega o bebé, ela é quem dá à luz, logo, ela é a culpada.
Sempre a culpada, sempre a acusada, sempre a ré – sem julgamento, sem defesa, só com acusação.
Quando começaram a surgir os primeiros casos diagnosticados sob o nome de autismo, a primeira resposta à pergunta “qual a causa”, foi a teoria das mães-frigorífico. Esta teoria, cunhada por altura dos anos 1950, defendida por alguns psicanalistas (o autismo esteve durante muito tempo ligado à psicanálise e avaliado, analisado e tratado sob o ponto de vista desta área), sugeria que o autismo era causa direta da falta de calor humano, amor e carinho por parte das mães. Leo Kanner, o autor da teoria, através da observação direta de alguns casos, referia haver uma frieza, distanciamento e alheamento dos pais – em especial da mãe, sobre quem recaía a função de educação dos filhos – e uma atenção quase mecânica, causando a ausência de um vínculo correto. Mais tarde, esta teoria foi descartada e revogada e desacreditada mas já era tarde demais. Estamos na segunda década do século XXI e ainda há membros clínicos, familiares e pessoas comuns que acreditam nesta teoria. E, mais uma vez, a culpa é da mãe. Repare-se que o nome da teoria é “mães-frigorífico” e não “pais ou avós frigorífico”.
Não há culpas a atribuir num diagnóstico, jamais aos progenitores. Nenhum progenitor entra numa gravidez a desejar que o seu bebé tenha um problema de saúde ou uma perturbação neurológica. A hereditariedade, a genética, o ambiente ou até mesmo todos estes fatores combinados – quando possível – podem dar uma resposta para a causa de uma doença, condição ou perturbação. E essa resposta pode ser rápida, lenta ou nunca chegar... Esses mesmos fatores, combinados ou não, podem ser A causa dessa doença, condição ou perturbação… Mas, na minha ótica, mais importante do que uma possível causa, é o que podemos fazer no “durante”: que tratamentos há, que trabalho pode ser feito, que cursos terapêuticos podemos seguir, que medicação é ou não adequada e se existe, etc. Pode haver uma cura. Pode não haver cura. O que não pode haver é a atribuição de culpas aos pais, em especial à mãe.
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1. "Vê se te despachas a comer que tens de ir ver televisão às 14h"
2. "Está aqui o horário das vossas aulas na RTP memória. Quero-vos em frente à televisão a tirar notas"
3. "Podem ir às gravações rever a aula da televisão"
4. "Uma tarde inteira em frente à televisão? Ah mas são aulas... Vá, vão lá, não se atrasem"
5. "É para estar em frente ao computador às 8:30."
6. "Linux é mais rápido que Windows nas vídeo chamadas, muda lá de sistema operativo"
7. "Obrigada marido por teres insistido em meter uma TV no quarto das piolhas"
E é isto. Vou morder a língua e pôr o cérebro de molho.
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"Mattias: My father [...] taught me to never take the good for granted. He’d say, “Be prepared. Just when you think you found your way, life will throw you onto a new path.”
Anna: What do you do when it does?
Mattias: Don’t give up. Take it one step at a time, and…
Anna: Just do the next right thing?
Mattias: Yeah. You got it."
Este diálogo faz parte do filme Frozen II e marcou-me. Fiquei a pensar naquilo porque esta é uma realidade que nos assenta que nem uma luva.
Desde sempre que tivemos que aprender a não tomar as coisas dadas como garantidas. E isso foi-nos ensinado de forma crua, dura.
Desde sempre que nunca pudemos traçar o nosso caminho com régua e esquadro ou inserir coordenadas num GPS. Qualquer que seja o mapa, qualquer que seja o sistema operativo do GPS, qualquer que seja a marca ou o modelo do aparelho, a verdade, a realidade é que, a vida atira-nos para um novo caminho. E nós até estamos a seguir as instruções e as placas e as coordenadas. Mas lá vamos nós. Mais uma moedinha, mais uma voltinha. Mas num caminho diferente.
Gaita. Fomos enganados. Não conhecemos este caminho. temos de voltar para trás. Não dá para virar aqui. Não podemos fazer inversão de marcha. Então? Bem, vamos andando e vendo. Um passo de cada vez e logo se verá, um dia de cada vez, e cada dia uma nova etapa e uma parte de caminho percorrida.
E depois? Depois? Bem, depois continuamos ao caminho e fazemos o que achamos o mais adequado... E adaptamo-nos. E moldamo-nos. E tornamo-nos versáteis.
É isto que nos faz fortes e nos enfraquece ao mesmo tempo.
É isto que nos enrijece o coração mas nos faz amar.
É isto que nos faz viver em ansiedade mas usufruir a viagem.
É isto que nos enerve mas nos faz valorizar as pequenas coisas.
É isto que nos difere das outras pessoas. Que podem ser como nós.
"Don’t give up. Take it one step at a time, and…Just do the next right thing."
Esta "the next right thing" pode ser algo tão simples como apenas um sorriso para uma mãe cansada, um olhar simpático para uma mãe com uma criança em birra, um sms com um simples bom dia ou fica bem, um gif engraçado no messenger ou no whatsapp, um beijo, um convite para um café, uma ajuda com os TPC dos miúdos, sei lá, há tantas TANTAS pequenas grandes coisas que podemos fazer e tornar na "next right thing".
Porque a vida, às vezes, muitas vezes, muda-nos o caminho...
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"Mães Cansadas Precisam de Ajuda e Não de Palpites"
Possibilidades ínfimas de enfiar este motto p'los olhos 'adentro' de algumas pessoas:
- impresso em t-shirts
- ímans de frigorífico
- distribuição viral e exaustiva nas redes sociais
- outdoors (desde os habituais de papel aos iluminados estilo Lefties em centros comerciais)
- cartões de visita
- pequeno merchandising do estilo réguas, porta-chaves, blocos de notas, autocolantes
- faixas luminosas
- suportes de matrículas para carros
- carimbos
- mensagens em talões de supermercado
- tatuagens
- etc etc etc
Portanto e como se vê, as possibilidades são inúmeras.
Já a minha paciência não é assim tão extensa.
#ohhajapaciência #raiospartam #palpiteirosdeserviço #gentesabichonasemnadasaber #euquerovivernumabolha #paremomundoquerosair #eujánascicansada #anotemeparemdemechatear #t2para4
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Contexto: há uns anos fui a uma reunião de pais/mães de crianças com PEA. Saí de lá podre. A certa altura, uma mãe dizia que não conseguia controlar o filho de 2 anos porque ele gritava e esperneava quando o punha na cadeirinha. Então, para evitar isto, a senhora deixava-o ir sem cintos, apenas e somente sentado. Como o menino tinha "problemas", coitadinho, deixava-o ir... Fiquei escandalizada, horrorizada, chocada, estupefacta. Nunca mais me meti em ajuntamentos desses. Prefiro ser "autista" também. As minhas filhas são crianças. São tratadas como as outras crianças, independentemente do seu autismo.
Hoje, à minha frente, ia uma carrinha mini-van com crianças. Uma delas ia à solta dentro do carro a fazer o que bem queria e ainda lhe sobrava tempo. Ninguém parou para a sentar e colocar os cintos (ou fazer como eu: ou te sentas e pões os cintos ou estás aqui estás a levar no focinho e ai de ti que eu sonhe sequer que mexeste nos cintos). E lá ia a criança aos pinotes dentro do carro, a passar de lugar em lugar sem questionar, e o carro sem parar.
Meus senhores e minhas senhoras: a maternidade/parentalidade não é uma democracia, as crianças não mandam nem têm quereres, as regras são para cumprir e até a parvinha da Dora, a Exploradora sabe que a segurança vem em primeiro lugar. Isto não é parentalidade assim e assado; é irresponsabilidade pura e dura.
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Eu acho que este é O clássico e deveria ter sido logo o primeiro, mas pronto, está no top 3.
Perante a recusa sistemática da nossa cria /aluno/criança em relação a qualquer coisa, colocar o ar mais sério deste mundo, semicerrar os olhos (acho mais assustador do que abri-los e isso assuta-me pois lembra-me uma colega que tive há uns anos que tinha uns olhos enormes saídos das órbitras. Quando ela se enervava e abria ainda mais os olhos, até eu me escagaçava toda...), levantar a mão e dizer bem alto e com firmeza:
Eu vou contar até 3. Um.... Dois...
O truque aqui é ser-se tão firme que não há hipótese de chegar ao 3. Além disso, como eles não sabem o que aontece ao chegar ao 3, a gente deixa-os na dúvida, não vá abrir-se um portal para outra dimensão...
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