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2020 tinha (tem?) tudo para ser um ano muito bom e acabou por se revelar um ano terrível.
Podemos começar pelo óbvio: estamos a viver História - tivemos uma pandemia declarada logo no primeiro trimestre do ano; passámos a ter de cumprir escrupulosamente determinadas regras; a máscara passou a ser um acessório tão banal (que, pessoalmente, já a coloco por impulso e até me esqueço que a estou a usar); tivemos um confinamento forçado (algo que nunca me passaria pela cabeça); sentimos medo puro - daquele que paralisa mesmo - e, por momentos, quisemos acreditar que iria ficar tudo bem com os nossos arco-íris; tivemos meses sem contacto físico com os avós, primos, tios e demos graças pela tecnologia do século XXI, mesmo que deficitária; descobrimos que é possível fazer algo que eu ando a dizer há anos - trabalhar à distância, em determinadas situações; regressámos à escola - a medo mas com coragem - e conseguimos levar um período inteiro (cerca de 4 meses) sem fecharmos escolas no país inteiro (algumas houve que fecharam, turmas inteiras em casa mas não foi a nível nacional); descobrimos forças e empatias que surgiram; a batalha e a busca por uma vacina conseguida rapidamente... Os media não facilitaram e ainda hoje cobrem e esmiúçam números, milhares foram infetados (incluindo amigos nossos), houve mortes a lamentar. E houve outras doenças não diagnosticadas, serviços postos em pausa, uma burocracia que se aumentou exponencialmente. E negacionistas e pessoas do contra só porque sim e sem qualquer fundamento científico. Entre tantas mas tantas outras coisas.
Foi - todos concordam - um ano completamente atípico.
No entanto, felizmente, para nós, 2020 não foi um ano horrível. Esse título, o de annus horribilis cabe a 2016. Começou mal e acabou ainda pior. Foi um ano muito exigente, demasiado doloroso, terrível, sem férias, de desemprego ali no limite final do subsídio, redução das horas de terapia, o falecimento de uma colega de faculdade, a avó que teve problemas sérios de saúde... Pensámos que chegara mas ainda houve espaço e tempo para um aborto espontâneo logo em janeiro (doeu tudo, desde o corpo à alma... e a reação das pessoas à notícia não ajudou nada) e uma nevrite intercostal tão grave em novembro que não me recordo do tempo de convalescença. Não me recordo de quase nada, é tudo uma névoa e não sei como fizemos para cuidar das piolhas nessa altura. Juro que pensei que ia morrer. E foi terrível perceber que as minhas filhas pensaram o mesmo e ouvir uma delas dizer-me sofridamente "mãe, eu não quero que tu morras". Morremos um bocadinho por dentro, isso é certo. A parte boa foi o diagnóstico, apesar de tudo, porque inicialmente, além de burnout, os sintomas apontavam para problemas cardíacos e muitos alertas para AVC. Suspendi ali a minha vida por quase 2 meses. Recuperação lenta e dolorosa. Ordenado inexistente (porque um professor contratado de baixa recebe 55% do seu ordenado com os 3 primeiros dias não pagos e eu tinha um horário de 10h/semanais), marido a trabalhar incansavelmente e a ter de gerir a casa e as piolhas, na altura ainda no 1º ciclo. Chegámos à conclusão, no final do ano que, se aquilo que vivemos não nos matou nem nos mandou para um hospício, já nada o faria. 2016 foi definitivamente o pior ano de que tenho memória. Fuck 2016, sem sombra de dúvida.
2020 foi um ano bom para nós. Foi um ano de estabilidade, de recuperação, de aceitar novos projetos profissionais, de aprendizagem e de estudo (tirei bastantes formações), de crescimento (nosso e das piolhas), de introspeção (parece cliché mas é verdade), de escolhas. Tivemos saúde. Tivemos emprego. Estamos juntos. Apesar de se supor o pior - e foi, de facto, um ano extremamente atípico -, 2020 foi um ano generoso para connosco. (Se bem que, qualquer ano melhor que 2016, já é um excelente ano).
Se antes já valorizávamos as pequenas coisas, as pequenas vitórias, as pequenas conquistas, os pequenos nadas que aprendemos a acumular ao longo dos anos, 2020 veio provar que temos muito para continuar a agradecer, a valorizar e a acumular como conquista, vitória.
É cliché, mas é verdade: haja saúde e tudo se arranja. O resto são restos e de restos ninguém vive, já dizia a prima.
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Vi imensas recriações de quadros e pinturas célebres e decidi que também queríamos participar. Já fizemos duas recriações: esta, Girl with a balloon de Bansky, e Siamese Twins de Leah Saulnier (que não publicarei aqui porque as caras delas estão bem visíveis).
Nota-se muito que já estamos há muito tempo em casa? O que vale é que as piolhas acham imensa piada a estas coisas e alinham nas minhas doideiras.
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Em fevereiro de 2011 aventurei-me na blogosfera, depois de muito pensar, pesquisar, ler, me confundir, encontrar algumas respostas mas ter muitas perguntas ainda.
Uma das premissas por que me tenho pautado ao longo destes anos é não me envolver em polémicas. Não escrevo sobre assuntos na moda ou sobre quem procura notoriedade (mesmo ao abrigo do "falem bem ou falem mal, o importante é que falem") e, muito menos, procuro provocar discussões que acabem em ataques de trolls, insultos, bloqueios, etc. Nunca corri atrás de likes, nunca patrocinei posts, nunca fiz publicidade paga para o que quer que fosse (e eu já me envolvi em tanta coisa, desde workshops a formações) e sempre me regi por escrever como as coisas são e como as sinto no momento em que as escrevo.
Acontece que escrever sobre como as coisas são é escrever sobre assuntos sérios e as pessoas não gostam de coisas sérias. Tal como também parecem não gostar muito de algum anonimato e, eu, apesar de dar a cara - literalmente - à causa, não dou a cara das piolhas pois acho que a exposição a que as sujeito no blog já é suficiente - e eu já filtro muita coisa. Daí a minha recusa em ir a programas de TV, por exemplo. Se eu puder complementar informação da história de outra família com a nossa experiência via telefone ou Skype, terei todo o gosto em auxiliar; levar as piolhas à TV, não. Nesta fase de desenvolvimento delas - cujas competências sociais estão mais comprometidas do que a linguagem ou o comportamento - ninguém veria dois indivíduos no espectro do autismo como seria expectável, porque, lembremo-nos de que o especto é muito vasto e há muitas situações sociais/muitos individuos/muitos comportamentos díspares que não são aquilo que estereotipadamente temos em mente. É mais uma polémica que prefiro não alimentar e menos uma razão para dar azo a bullying.
Porque ele existe contra quem é diferente, não sejamos ingénuos.
Estes anos também permitiram aprender imenso com outras pessoas e conhecer também pessoas fantásticas. Porque a internet também tem coisas positivas e boas. Obrigada.
Olhando para trás, quase nem acredito que passámos por tantas dificuldades, tanto trabalho e nem sei bem como conseguimos fazê-lo mas, a verdade, é que estamos aqui e isso deu frutos. No outro dia partilhei um excerto sobre a importância da intervenção precoce. Somos um de muitos exemplos que há por aí de que funciona - ainda que, no nosso caso, esta intervenção realmente precoce só tenha surgido depois dos 3 anos de idade.
Comecei o blog com um discurso muito negro, perdido, algo desesperado, confuso, sobre o nosso percurso. Eu nem sabia o que era o autismo... E não fazia ideia de que necessitávamos de compromentimento de uma tríade (comunicação, interação e comportamento) para termos um diagnóstico de PEA. DSM-IV ou V, ADI-R, ADOS, M-CHART, Griffiths, TEAACH, ABA, DIR, Floortime, etc etc etc eram apenas algumas das siglas que me baralhavam pois se já tínhamos um diagnóstico, para quê mais avaliações e estudos?
Posso assegurar que ao longo destes 9 anos ainda não parei de estudar este assunto e estou, atualmente, a fazer uma formação à distância sobre a perturbação. O meu discurso também se tornou mais ponderado, menos emotivo e muito menos negro. Consigo, neste momento, ver o copo sempre cheio e, apesar do cansaço extremo que, por vezes, nos assola, conseguimos continuar o nosso caminho com os devidos ajustes. As nossas prioridades continuam muito bem definidas.
Escrevo sem obrigações, sem correr atrás de reconhecimento, sem esperar nada em troca - exceto uma maior sensibilização e conhecimento do que é o autismo. E, neste assunto, vou insistir. Uma criança com autismo crescerá e tornar-se-à num adulto com autismo. E este processo de consciencialização e de sensibilização é para sempre.
Por respeito.
Por direito.
Porque sim.
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Faz hoje um mês, mais coisa menos coisa, que fui assolada por uma crise severa de enxaquecas. A maioria das pessoas tende a desvalorizar porque afinal, são "só" dores de cabeça e, com um paracetamol ou ibuprofeno, a coisa cura-se e nada justifica estarmos com ar de sofrimento ou a faltar ao trabalho. Não tive entraves nenhuns das minhas entidades patronais mas já ouvi estas coisas todas.
Estou habituada a ter dores de cabeça. Mas aquela foi diferente e acordei logo mal, com um latejar palpitante (passo a redundância) na nuca, do lado esquerdo. Tomei a medicação. Não surtiu efeito. Reforcei. Não surtiu efeito e piorou. O descanso ajudava ligeiramente. Mas eu tinha tanto tanto frio e quanto mais me aquecia, mais pioravam as dores. Aguentei quase 4 dias e fui ao médico de família. Mantivemos o triptano (que é muito bem tolerado nestas crises e o meu SOS desde há muitos anos) e mudou o analgésico. Em casa, piorei consideravelmente e, juro que, a certa altura, no meio do inferno e do desespero que eram as dores, todo o lado esquerdo da cabeça em dor excruciante, eu pensei que teria um aneurisma pronto a rebentar. Pensamos em coisas parvas e ilógicas mas é assim...
Fui para as urgências do hospital central. Apanhei frio ao entrar e ao esperar pela triagem, sentada no chão, a morrer de dores, porque não havia lugares nem espaço, nada. E aquela luz tão brilhante num dia tão cinzento, de onde raio vinha toda aquela luz??? Melhorei a ponto de conseguir abrir os olhos - a neurologista explicou-me, depois, que foi do frio que ajudou a aliviar a vaso-dilatação. Pulseira amarela, 7h de espera. Medicação intravenosa, não sem antes, ao colocar o cateter, ter esguichado sangue para todo o lado, ao estilo CSI. Diazepan debaixo da língua e aquilo amarga como o caraças. Momentos depois e eu já conseguia tolerar a luz, já não sentia palpitar na nuca, a minha narina esquerda já não parecia prestes a explodir, o meu ouvido esquerdo já não ardia por dentro. Vim embora, capaz de beijar a médica, com indicações de combinar triptano e diazepan, parar com a sobredosagem de paracetamol, não dar boleia à dor e atacar logo ao mínimo sinal (mesmo que fosse aquele cheiro estranho a água que senti no nariz na véspera) e descansar mal sentisse uma crise a regressar. E receitou o loflaqualquercoisa em SOS para a ansiedade.
Marquei consulta com a minha neurologista. Era suposto eu estar "curada" disto, certo? Até fiz um tratamento... Verificámos os sinais vitais e avaliação neurológica, a medicação (que fiz ainda por mais duas semanas), EEG antigos (e a comparação com o da piolha que é muito semelhante ao meu) e Doppler, falámos muito. Tive uma crise muito grave, mal migranoso pois não passou em 48h e aumentou a dor... E tentámos descobrir o gatilho da crise. Bem... além do trabalho - que até levo bem -, sinto-me cansada mas tenho tudo controlado. Fico exasperada em viagens longas com mau tempo no meio da serra e sem rede e tive uma pequena crise de ansiedade que me obrigou a encostar o carro e a forçar-me a respirar. "E as meninas? Como estão?" e o meu coração parou uns segundos e a tal dormência na nuca voltou... São miúdas fantásticas mas, por serem diferentes, este ano letivo, a coisa não está fácil. "Então?" Foram vítimas de ciberbullying - que conseguimos controlar com a escola - mas agora estão a ser frontalmente atacadas pelos colegas porque são boas alunas. E um deficiente não pode ter sucesso académico. A nossa mentalidade pequena acha isso anti-natura. E elas que adoravam a escola, agora perguntam se têm mesmo que ir e eu começo a ficar farta e cansada disto porque, sinceramente, apetece-me dar dois bofetões nos miúdos e nos pais destes - que nem sabem o que têm em casa. Eu só quero filhas felizes e o seu percurso obrigatório escolar o mais típico possível, sem chatices adicionais, já basta o que basta com apoios e terapias e timings e burocracias. Passamos a vida na escola a tentar resolver estas coisas... "Aí está o gatilho..."
Portanto, durante 3 meses, estou a fazer um tratamento profilático para a enxaqueca que vai ajudar a colmatar alguma sequela causada pela dor. Esta é a parte fácil.
Tenho medicação para fazer em SOS e reconheço os mínimos sinais porque pode voltar. Esta também é a parte fácil.
Descansar mais e tentar resolver as coisas. Já é mais complicado.
Podia ter descambado em burnout. Informação retida.
"No time to die". Título de filme mas também o que passava em looping na minha cabeça. Eu não confio no mundo. E as piolhas estão a crescer e a saber contornar as dificuldades mas ainda precisam de nós. Por isso, descanso, mais calma, fluraziqualquercoisas nos próximos tempos + triptanos e diazepans e flotaroqualquercoisa em SOS.
E não me f*derem o juízo. Só isso já faz mais que qualquer medicamento.
Avisos à navegação:
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"Mães Cansadas Precisam de Ajuda e Não de Palpites"
Possibilidades ínfimas de enfiar este motto p'los olhos 'adentro' de algumas pessoas:
- impresso em t-shirts
- ímans de frigorífico
- distribuição viral e exaustiva nas redes sociais
- outdoors (desde os habituais de papel aos iluminados estilo Lefties em centros comerciais)
- cartões de visita
- pequeno merchandising do estilo réguas, porta-chaves, blocos de notas, autocolantes
- faixas luminosas
- suportes de matrículas para carros
- carimbos
- mensagens em talões de supermercado
- tatuagens
- etc etc etc
Portanto e como se vê, as possibilidades são inúmeras.
Já a minha paciência não é assim tão extensa.
#ohhajapaciência #raiospartam #palpiteirosdeserviço #gentesabichonasemnadasaber #euquerovivernumabolha #paremomundoquerosair #eujánascicansada #anotemeparemdemechatear #t2para4
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Eu queria uma festa, um vestido de noiva, convidados, boda e todas essas coisas estereotipadas e clichés. Também queria aquela lua de mel à qual não tive direito quando casámos pela lei em janeiro.
Foi tudo muito simples e fácil de preparar: a cerimónia foi numa capela na serra, o padre foi um senhor extremamente simpático que fomos buscar a Coimbra (ao lado da maternidade) e que me fazia lembrar o meu avô paterno ao usar a boina, a paisagem circundante proporcionou fotos lindas, o meu vestido (que ainda me serve) e acessórios vieram de uma loja à antiga de Coimbra, as alianças já tínhamos, o fato do marido veio da Zara Men (e ainda lhe serve) e casei de chinelos (de cor igual à do vestido, de fitas com brilhantes).
Claro que tínhamos de ter a nossa dose de histórias para contar: o pároco local não achou piada nenhuma à minha ideia de casar no alto da serra e dificultou o acesso ao livro de assentos (que acabou por ficar à responsabilidade da minha irmã), havia estradas cortadas por causa da passagem da volta a Portugal em bicicleta, houve um incêndio perto do local da cerimónia na véspera (quando eu estava a enfeitar e a preparar a capela), a mãe do marido ameaçou não comparecer porque já tínhamos casado e ela tinha estado presente nesse casamento e não havia necessidade de repetir as coisas (mas lá acabou por ir), o livre trânsito e estacionamento do carro da noiva ficou no galheiro e ninguém respeitou, o restaurante não tinha ar condicionado (apesar da proprietária me ter garantido que sim) e não tratou da área da piscina (apesar de me ter garantido, igualmente, que sim), recebemos um envelope vazio como prenda e, apesar de tudo e de querer muito, não tive damas de honor nem pude tratar da decoração e o bolo, ainda que muito saboroso, era feio e parecia estar a desfalecer.
Apesar dos percalços e ameaças, religioso à parte, a cerimónia foi lindíssima, as fotos estão lindas, estávamos ambos muito bonitos e felizes e creio que podemos fazer um balanço positivo. E, festas e caganças à parte, a verdade é que consegui o que queria e, 14 anos depois, eis-nos aqui, against all odds. E é isso o que é o mais importante.
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... ou em como perdi o juízo de vez...
Parte do que eu faço nas férias, na impossibilidade de melhor, é ler e ver séries ou filmes como se não houvesse amanhã - maratonas mesmo. Estou, neste momento, entre sagas literárias (Clifton Family, de Jeffrey Archer), cinematográficas (Marvel e DC) e séries (Candice, The Spanish Princess, La Casa de Papel - a nova temporada -, as top da HBO já as vi).
Ora, é neste ponto preciso que estou assim tipo meh... A ver se me faço entender sem parecer muito nerd:
- adoro a vestimenta, gadgets, car rides e tudo e tudo do Batman mas não sou lá grande fã do Super Homem;
- adoro a Wonder Woman e toda aquela ideia da deusa amazona por trás e força girl power yeah baby yeah mas não posso com o Aquaman (true story, não dá, não vai, matou a minha ideia romantizada de uma Atlântida);
- gosto imenso dos manos Loki e Thor, o Iron Man terá sempre um lugar especial no meu coração a par com a Viúva Negra mas não acho piada nenhuma ao Spider Man. Sorry boys (é aqui que os meus alunos nunca mais me respeitam)...
- gosto de todo o simbolismo oculto dos X-Men e, embora perceba a ideia do Professor X em fazer uma escola especial para jovens especiais e os ideais de inclusão dele, a verdade é que a inclusão não é bem assim e o Magneto também tem ali alguns pontos interessantes - apart from the killing and taking over the world part;
- acho o Flash um querido (aquela expressividade dele com o olhar é qualquer coisa), acho o Cyborg o máximo (boo-yah!!) mas não tenho grande simpatia pelo Capitão América (que me parece um bocadinho pãozinho sem sal e certinho demais, físico atlético à parte, ok?), gosto da pancada da Harley Quin mas detesto aquela obsessão dela pelo Joker que, no fundo, a maltrata...
- capas. Adoro capas em super heróis ahahahahah só estilo daquilo em combate - não dá jeito nenhum, não é prático nem por um minuto, aquilo embrulha-se tudo mas, pensemos na coisa ao estilo Neo - The Matrix - a fazer uma pirueta no hall do edifício dos sentinelas enquanto apanha as armas (não era uma capa mas era um casaco bem comprido). Preto. Capa de super herói na cor preta - desculpa lá isso, Super Homem.
Portanto, estive a ver "Justice League" e gostei muito. O que me levou a ver os filmes que levaram a isso. E, ainda bem que poupei dinheiro do cinema, pois detestei "Aquaman". Nem a Nicole Kidman nem o Momoa nem a personificação da Ariel da Disney safam aquilo. Detestei "Suicide Squad", fiquei muito desiludida, afinal, não há recompensas para as boas ações... E da série Marvel que vai desembocar no "The Avengers, the endgame" há ali uma data de filmes pelo meio que não dá, não vá, ná ná...
O mais engraçado? As piolhas adoram os Teen Titans, acham imensa piada à ideia da Wonder Woman e a Escola de Super Heróis. MAS... detestam os filmes e cenas malucas de que a mãe fala, de vez em quando...
Posto isto, já deu para ver que estou a precisar que me levem para longe de um computador com ligação à internet e me deixem algures numa praia paradisíaca, com pontos de interesse para visitar nas manhãs nubladas, e um serviço de bar que me ponha uma margarita ou um gin nas mãos.
Nasci em 1980. A minha infância foi nessa década. Foi uma década horrível, diga-se de passagem… Pelo menos, na minha realidade: o dinheiro não abundava; o meu pai emigrou; a minha mãe passou de mãe-galinha a mãe natureza toda ela omnipotente e omnipresente; as roupas fariam qualquer coleção da Zippy suspirar por menos polémica e eram uma herança passada de geração em geração de forma genderless; fazia 4 km a pé para ir à escola porque os transportes eram só para quem vivia a mais de 3 km da escola; a minha mãe não tinha carro ou carta de condução e não havia papa-reformas; levava mudas de roupa/calçado extra para trocar na escola por causa das condições atmosféricas que não se compadeciam de ninguém; não tínhamos telefone em casa e tínhamos de ir à vizinha (e privacidade zero quando queríamos falar com o nosso pai, uma vez por semana)… só para falar em algumas. Estes são os perfeitos exemplos do que eu e o marido nunca quisemos que as nossas filhas vivessem, que não passassem os sufocos nem as necessidades por que passámos. Mas não precisam de vivê-las para saber que existem: costumamos falar disto várias vezes e, a par com a série “The Goldbergs” que elas veem, falamos da nossa realidade – nós não éramos classe média alta.
Claro que ainda vivemos a parte romântica dos anos 80: as bolachas maria - da quétara que oferecia canetas – com manteiga; o leite aquecido nos bicos do fogão a gás (e os recados constantes da minha mãe “cuidado com o fogo!”), as brincadeiras de verão no tanque de lavar a roupa (que era em cimento e não em plástico!), o nesquik e o tulicreme (caríssimo sem promoções comprado na mercearia e cujo sabor hoje não é igual); ver os desenhos animados aos fins de semana, cedíssimo, e descobrir que o Poupas afinal não era cinzento mas sim amarelo; correr pelo quintal fora e andar de bicicleta (daquelas que tinham um aro metálico atrás do banco preto); comer iogurtes caseiros que nem sempre ficavam bem porque a iogurteira tinha lá um tique qualquer; ouvir “eu vi um sapo” a par com “a minha alegre casinha”; partir poças de gelo no Inverno, ver os girinos em transformação na Primavera e lamas no Verão; usar botas de borracha antes de se tornarem moda e lhes chamarem galochas; gostar de fazer trabalhos manuais na escola mesmo sem ter grande jeito para aquilo; os verões intermináveis que nos amorenavam a pele sem precisar de ir à praia; as quezílias com a irmã mais nova porque irmão que não pega com o irmão não sabe o que é viver com irmãos; as brincadeiras com as bonecas e as suas refeições de lama e ervas e pétalas… acho que já deu para ter uma ideia, certo?
TUDO isto foi contado e/ou mostrado às nossa filhas. As piolhas acham algumas coisas estranhas porque não é mesmo, de todo, a realidade delas mas há coisas tão giras que podemos fazer com a geração seguinte… Sim, embora não se recordem, as piolhas já viram episódios da Rua Sésamo; brincaram no tanque; comeram iogurtes feitos naquela iogurteira manhosa; usaram galochas cor de rosa; já viram leite ferver em cafeteiras de alumínio; os verões amorenam-lhes tanto a pele que até ficam com sardas no nariz; as barbies também comem cenas do quintal e viva a imaginação.
Há – e acredito que haverá sempre – um generation gap mas isso não impede que aprendamos uns com os outros. Por exemplo: eu sei que a minha mãe viveu os tempos do racionamento e da obrigatoriedade de dar parte das culturas ao Estado; eu sei que o meu avô trabalhou nas minhas de volfrâmio para ser enviado para a Alemanha durante a II Guerra. As piolhas também sabem isso embora, lá está, de novo, nem sequer consigam visualizar esta realidade tão distante.
Sempre detestei esta fotografia. Quem me conhece, felizmente, não me reconhece ali pois não há ali nenhum traço meu. Aquele cabelo curtinho sem jeito nenhum, a falta dos dentes da frente por mudança de dentição, aquela camisola que serviu 3 gerações e ainda deve ter sobrado para a minha irmã, aquele conjunto de cores que nem no arco-íris combina bem, eu a destoar de todo o grupo restante. Senti vergonha desta foto quase toda a minha vida. Mas, hoje, depois de ter lido os posts da Carmen e da Susana, eu olhei para aquela fotografia com olhos de ver, de forma externa. E sabem o que eu vi? Uma miúda gira, embora desdentada e mal penteada e malvestida, mas FELIZ! A única criança daquele grupo que, mesmo sem dentes, sorria de orelha a orelha e com olhinhos brilhantes. Isso tem de ser uma coisa boa, não? Aquela miúda adorava ir à escola. Não parava quieta um minuto, saltitava de atividade em atividade em menos de um flash (ainda hoje sofro um bocado disso…) mas adorava aprender, tinha boas notas, era feliz na escola mesmo sendo um pouco rebelde. E, apesar da infância tão complicada, aquela fase nem foi assim tão má quanto eu a recordava. Talvez tenha feito parte do caminho que me moldou e ajudou a tornar no que era hoje, afinal, mau-feitio, sempre tive.
Correndo o risco de soar a fútil, esta fotografia serviu para eu nunca deixar as piolhas terem fotos assim. As fotografias delas, no 1º ano de escola, com a mesma idade que eu, são tão lindas, tão profissionais, as piolhas estão tão fofinhas, tão queridas, tão lindas… Parece um mundo abismal de diferenças. Exceto numa única coisa: tal como eu, independentemente e apesar de tudo, são miúdas felizes, de sorrisos largos e olhinhos brilhantes.
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