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Cá por casa somos uma mistura de Geração X com Millenial (Xennials - nascidos entre os finais dos anos 70 e inicíos dos 80, aqueles que começam com 1900, claro, né?) e temos, claro, as piolhas que são a Geração Z, já nascidas nos anos 00s, do milénio 2. Ora, sendo eu uma gaja criada por Boomers (aquela geração complicada, temos de dar a mão à palmatória, desculpem-me lá), eu cá acredito e muito que temos de começar a olhar mais para os Millenials mais tardios e os Gen Z. E, acima de tudo, começar a aprender com eles.

Eu explico melhor.

Os nossos Boomers (portanto, meus pais, avós das piolhas) nasceram depois da 2ª Grande Guerra, já em ditadura, e viveram o Estado Novo no seu pior, viram a democracia regressar mas foram criados pela Geração Silenciosa, a que lutou ou trabalhou para o esforço de Guerra dos anos 40 e que viveu apavorada com a possibilidade da chamada dos seus filhos - os Boomers - para lutar na Guerra do Ultramar. Não eram, de forma geral, amistosos, nem dados ao sentimento, a vida era dura, pior que madrasta de contos Grimm e extremamente cruel. Não conseguiram nem queriam nem tinham possibilidades de mandar os filhos para a escola, a força braçal era mais necessária. Os Boomers, quiseram contrariar essa situação e investiram na geração seguinte, a mais qualificada de todas, na qual me insiro. No entanto, a afetividade ainda é algo constrangedora e são poucos os boomers que tratem os seus filhos do mesmo modo como tratam os netos: beijos exagerados, carinho desmesurado, imensos doces, prendinhas e brinquedinhos, etc. Talvez estejam a compensar nos netos tudo aquilo de que privaram os os filhos - ou por inexistência ou por educação ou por outro motivo qualquer, não faço ideia. 

Já estou a chegar ao que quero, calma.

Fui educada com a ideia de que temos de trabalhar muito, sempre, a todo o instante e é quase crime ou pecado capital ficar desempregado e usufruir do devido subsídio de desemprego, que é vergonhoso tirar uns dias de férias absolutas porque se não trabalharmos no local de trabalho há muito para fazer em casa, que o trabalho é uma jornada contínua desde o momento em que acordamos até ao momento em que adormecemos. Fui também educada a sentir que não fazer nada (ou seja, não trabalhar porque estamos a ver um filme ou a ler ou a descansar mesmo), é penoso e devemos acarretar uma culpa gigantesca com isso, porque, se estás a ver TV podes perfeitamente estar a arrumar a casa ao mesmo tempo. 

Não concordo com isto mas sofro com isto. Se eu estou momentaneamente sem fazer rigorosamente nada, não só sinto uma culpa avassaladora, como sou criticada; mas, se trabalho até à exaustão, não só sinto a mesma culpa porque estou a esgotar-me como também sou criticada. E, ou não fosse eu uma Xennial, levo isto muito a sério e sofro. Por isso, começo a acalentar e a acarinhar cada vez mais a forma como a geração das minhas filhas encara, não só o trabalho, como a vida em geral. 

Elas não se calam perante injustiças. Enquanto eu ainda tento ser politicamente correta e cordial para com todos, até aqueles que me prejudicam, elas são diretas e não levam desaforo para casa: mostram cara de que não gostam mesmo, evitam confrontos e falam na hora o que agrada e não agrada. Elas também não estão minimamente interessadas em fazer fretes porque sabem perfeitamente que, embora isso faça parte da vida real, nunca serão produtivas nem mentalmente sãs. As contas também se pagam se trabalharmos no que realmente queremos e gostamos, se nos esforçarmos e se, acima de tudo, formos felizes onde estamos. A saúde mental importa -  não toleram ser mal-tratados por chefias arrogantes que desprezam a mão de obra laboral.

E, muito sinceramente, têm razão. Esta nova geração pode ser mimimi e nutella e iogurte mas não toleram à paciência serem mal-tratados ou desrespeitados por uma hierarquia e fazem aquilo que eu sempre ouvi desde a Geração Silenciosa: "se estás mal, muda-te". E eles fazem-no. E eu, muito sinceramente e nesta fase da minha vida, concordo. Não somos àrvores para estarmos no mesmo local - e, às vezes, até essas podem ser mudadas de sítio.  

O trabalho é importante mas, ao contrário do preconizado nos infames portões, não liberta. É uma atividade da nossa vida, tal como sair, estar com os amigos, passear, ler um bom livro ou ver uma série. Trabalhar são xis horas/semana e mais nada (mesmo com TPC, como no meu caso). Eu também quero viver e usufruir e gozar e não fazer nada. Sem sentir culpa ou remorso. Sem - principalmente - deixar que alguém me faça sentir culpa ou remorso. Não sou saco de pancada, não sou capacho, não sou um robot. Sou humana, gosto do que faço mas também gosto de viver outras vidas e poder fazê-lo. E nisto, todos os nascidos antes dos 00s (exceto os habituais parasitas sociais, que, tal como em todos os ecossistemas, também os há), têm ainda muito a aprender com a Geração Z. 

 

Nestes dias, temos vivido. Não estudei, não trabalhei, não mexi num documento. Estou no meu momento de pausa merecido e não deixo que me façam sentir culpa. Porque não estou a fazer nada de errado nem estou a prejudicar ninguém. E isto foi-me ensinado pelas minhas filhas. 

 

 

 

 

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publicado às 14:43

Falta muito para as férias?

por t2para4, em 12.06.22

Não tenho memória de um ano letivo tão exigente e exaustivo como este. Talvez pelas acumulações, talvez pelo trabalho, talvez pelo excesso de burocracia.
São avaliações, rubricas, provas de equivalência à frequência, provas extraordinárias de avaliação, critérios de correção e critérios de classificação, informações-prova, provas orais, cotações. E repete a preparação das provas não uma, não duas, mas três ou quatro vezes porque as coisas não batem certo logo à primeira e há toda uma formatação excessivamente formal para manter.
São grupos de trabalho, aplicações, vigilâncias, correções, impressões, autoavaliações, grelhas, plataformas.
São festas e ensaios e poemas e desenhos e palcos e público.
São horas de downloads no IAVE para impressão de provas de treino para as piolhas e áudios e correção. E vai mais uma voltinha que, apesar de as provas não contarem para nada, sei lá eu o que o futuro nos reserva e se elas quererão fazer exames nacionais no secundário.
São conteúdos para terminar e é aquele velho malhar em ferro frio: eu já não aguento, os miúdos, então, estão de todo. Só me apetece fugir. Aulas? Rua. Todos, eu e eles. Jogos.
Almoços, jantares, lanches, café. E há almoço no frigorífico, liguem se tiverem alguma dúvida, está aqui uma lista de tarefas para fazer. Ficam sozinhas em casa mas já sabem as regras todas, em última instância, peçam ajuda aos vizinhos ou lojas ali da frente porque toda a gente vos conhece. Vão dando notícias durante o dia. E, no final das aulas, 45 km = 40 minutos.
E viroses. Puta que pariu. Eu já estou tão cansada... E ranhos e vómitos e bílis e alergias e viroses e dores de garganta e um calor que parece que estamos todos na menopausa e febre, a puta da febre, que não deixa ninguém dormir.
Estou exausta. É isto quando chego a casa. Preciso mesmo de parar um bocado, fechar os olhos, descansar a cabeça antes de me atirar ao trabalho, aquele que não se faz na escola, que não se vê, não se valoriza, ninguém conhece (a menos que seja prof) e não é, de todo, pago.
Tenho tentado acompanhar o ritmo e até pus aquele artigo para poder fazer tudo o que estava em atraso.
A coisa vai, só preciso de descansar um bocadinho.

 

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publicado às 13:36

Não é vergonha pedir ajuda

por t2para4, em 27.08.21

Começa com uma imaginação demasiado fértil e até sombria. Segue-se um bater de coração diferente, mais audível e palpitante. A tensão arterial parece cair e até custa respirar. E a cabeça não pára e vai tecendo cenários. As mãos tremem.
Tudo é um esforço hercúleo e é preciso aproveitar muito bem os momentos de energia e de vontade. Tudo se faz, as obrigações cumprem-se, as tarefas realizam-se. Mas tudo custa imenso e causa um cansaço imenso.


É preciso ajuda. É neste momento em que não funciona o individual e é preciso uma ajuda extra, seja ela química, clínica, terapêutica, médica. É temporário, é até voltar a sentir o "eu" perdido algures no meio de tudo isto, de toda a vida em redor.
Não é vergonha nenhuma assumir que se precisa de ajuda, não é vergonha nenhuma assumir que há fases difíceis, não é vergonha nenhuma assumir que não precisamos de lutar sempre sozinhos, não é vergonha nenhuma sentirmo-nos mal, não é vergonha nenhuma perceber que Séneca tem razão, não é vergonha nenhuma pedir ajuda.


"No man is a island" parece fazer algum sentido agora. E, como tal, é fundamental recorrer ao que há fora da ilha que pode ajudar. Porque o auto-cuidado, o cuidar de si mesmo é fundamental, é crucial e deveria ser valorizado.

 

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publicado às 12:12

Burnout não tem que ter um "aspeto"

por t2para4, em 10.05.21

Imaginemos um carro, bom de pintura e carroçaria, bem-estimado. Revisões e manutenções feitas a tempo e horas, inspeção bem cuidada. Mas… que anda sempre na red line. Não necessariamente à pressa ou em altas velocidades mas ali a esforçar caixa e motor. Decidiu-se começar a conduzir de outra forma pois o carro é nervoso, mesmo em mudanças baixas, parece que quer estar sempre a puxar e a picar, não gosta de estar parado, nota-se uma vibração algures. Descobriu-se que há ali qualquer coisa na centralina que uma reparação cuidada resolverá sem problemas – embora vá deixar marcas que não afetam o bom funcionamento ou segurança do carro.
No outro dia, a bomba de combustível parecia não estar a debitar o necessário para o motor e o carro mostrava dificuldades de desempenho, não puxava, podia dizer-se que estava cansado. Como não dava sinais de recuperar e com medo de ser algo grave, chamou-se o reboque. Na oficina, o mecânico achou que era do nervoso, não iria fazer nada, não ia dar aditivos, o carro era novo demais para ter estes problemas, que deveria verificar a bomba injetora e seguir viagem.
Em “consulta da especialidade”, mais tarde, verificou-se que, este carro hiperativo, é nervoso por natureza - o seu motor já foi programado de origem dessa forma e não há como desprogramar, nem ligando à centralina -, que precisa de fazer outro tipo de condução e deixar a red line sossegada, que vai, no entanto, fazer uma revisão de diagnóstico ao motor para descartar eventuais problemas, mas, de resto, está tudo bem. É um carro que, devido às suas características e condução, está à beira da exaustão e não deveria. Por isso, as recomendações vão mesmo nesse sentido: na impossibilidade de mudar as características de motor e centralina, é necessário alguns cuidados de manutenção e condução. Fazer quilómetros, de forma suave. Apenas isso. O carro continua bonito, a pintura continua boa, a carroçaria está impecável, não há sinais exteriores de que está cansado ou anda sempre a bater na red line. É um carro do caraças, é essa a realidade.


E toda esta metáfora relata a minha vida nos últimos tempos. Esse carro, sempre a bater na red line, sou mesmo eu. E agora preciso de descanso e não de críticas ou julgamentos. Continuo a gostar de pôr lápis, rímel e baton e de sair para apanhar sol e fazer quilómetros. Continuo eu. Apenas com respostas e orientações para sair do burnout. E fazer a tal condução suave.

 

 

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publicado às 10:09

Capacitismo? Dispensa-se, obrigada

por t2para4, em 25.02.21

Se eu falar, rapidamente em RainMan, Good Doctor e Astrid, certamente, alguns reconhecerão os protagonistas como indivíduos com autismo. E a maioria até pode comentar "Mas eles são brilhantes! Esquisitos mas muito inteligentes. Os autistas são assim."
Se eu falar em Tim Burton, Anthony Hopkins, Eminem e supostamente Messi, alguns também poderão associar como indivíduos com autismo. Não são personagens fictícias. "Ah, mas eles nem se nota nada.", "sim, têm uma certa pancada mas são geniais"


Engraçado como acabamos sempre no "genial". Sabem o que é genial no percurso de todos eles, de todos os que têm esse diagnóstico? A capacidade que tiveram de suportar horas infindáveis de terapias e trabalho, a aprendizagem constante, a resiliência, as pontuais crises, a identificação de gatilhos, a desregulação sensorial, a seletividade alimentar... e podia continuar mais umas quantas frases. Isto é que é genial, seja no percurso do Tim Burton, das minhas filhas ou do G. que ainda é não verbal com 14 anos.
A tolerância - e compreensão - de terceiros só tem (algum) espaço quando indivíduos com autismo são crianças. A empatia, a sensibilidade é maior. Quando estas crianças adquirem o mau hábito de ousar crescer para se tornarem adolescentes, jovens e adultos (ler a ironia, sim?), ninguém vê o caminho - apenas e somente o resultado.
Se for um individuo com autismo mas for funcional, ai, então, não se passa nada, é tão perfeitinho, correu tudo bem, vês?, há casos bem piores, olha aí que fala tão bem, não olha nos olhos, bah, isso não é importante, o meu também não come ervilhas e não é autista.
Se for um individuo com autismo mas não for funcional, ai, coitado, já viram o que esta pandemia veio fazer, a regressão, mas ele/a nem fala, e precisa de ajuda, as terapias não resultam, coitados destes pais.
Nenhuma destas situações precisa deste tipo de discurso capacitista, obrigada. O esforço exigido ao próprio autista e família/cuidadores é impensável aos demais. Os resultados variam consoante tantas tantas tantas variáveis que não dá para explicar num texto simples via facebook. Do que nenhum de nós precisa - em especial, quando nos referimos aos chamados autistas de alto funcionamento ou rendimento ou o que lhe queiram chamar, é desvalorização e a sensação grátis com que se diz "este é mais autista do que este que é menos". Mas o que raio quer isso dizer? Devo regozijar-me por as minhas filhas falarem porque há quem não fale? Porque elas têm medidas seletivas mas há quem tenha adicionais? Porque uns são adolescentes mas comparam com bebés de 4 anos? É isso?! Essa porra dessa comparação faz tanto sentido como comparar a boazona da Cindy Crawford comigo ou a minha conta bancária com a da Paris Hilton. Posso comparar mas é simplesmente idiota e absolutamente irreal.


Quando se vê um jovem/adulto com determinada condição e, aparentemente, muito funcional, a primeira coisa a fazer é morder a língua. Não podemos estabelecer semelhanças destes com o filho do vizinho que também tem autismo mas tem 4 anos. O caminho desbravado importa e importa muito. Arrisco a dizer que é isso que faz toda a diferença. E, além disso, lembram-se de eu já ter falado de "autismos", plural? Também há isso. Há o J. e há a S. Ambos com autismo mas tão diferentes como a noite do dia.


Palavras de ordem? Não desvalorizar, não comparar o incomparável, não minimizar - é preferível assumir a ignorância em determinado assunto e pedir para aprender.

 

 

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publicado às 09:19

Hoje fez-se história

por t2para4, em 20.02.20

Uma história que não vai ser obrigatória, taxativa ou imposta.
Uma história que só alguns - alguns! - poderão escolher, nas devidas condições.
Uma história que, tenho a certeza, o meu avô gostaria de ter escolhido, há 20 anos, se alguma vez se tivesse pensado nisso, naquela altura.

 

O meu avô era um homem alto, forte que nem uma viga, de voz forte que nos gritava "Héré!", em jeito de cumprimento, quando nos via, sempre com uma boina na cabeça ao estilo francês estereotipado, com mãos calejadas e duras dos ferros que dobrava na construção civil e dos cabos de enxada que usava na agricultura para poder - sozinho - sustentar uma casa cheia.
O meu avô, com aqueles olhos verdes que eu adorava ter herdado em pleno (só tenho um pouquinho de verde), que lia o seu jornal à mesa de madeira encostada à janela que dava para o pátio e ia de comboio à cidade, muito mais citadino do que eu alguma vez serei.
O meu avô que ia às festas do Avante e sentia um respeito imenso pelo Álvaro Cunhal mas nunca se assumiu ou negou como comunista.
O meu avô que, de repente, passa de hércules a leão da Nemeia derrotado. Cansado, fraco, doente. Exausto, de cama, sem comer. Com consultas que já não serviam para nada, a definhar e a ficar com a pele pendurada num ossos que nunca imaginei perceber. Com discos de morfina e compridos pretos. A beber iogurtes líquidos em momentos bons quando nunca lhe vira um latícinio na boca.
O meu avô que ficou, em pouco mais de 3 meses, numa sombra etérea do que era. A vomitar sabe deus o quê daquela cor e numa maca de plástico dos bombeiros. Um internamento já com fim à vista. Sem recuperação. Sem esperança. Com mais dor do que a marcada na escala que os smiles parvos mostram. Sem direito a mais visitas que uma ou duas. Sem direito a determinados tratamentos porque era tarde demais. Sem direito a poder escolher como queria ser o seu final ao contrário do que fez durante toda a sua vida.


O meu avô teria gostado do dia de hoje. Tenho a certeza.

 

 

 

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publicado às 21:00

"No time to die", já diz o outro

por t2para4, em 10.12.19

Faz hoje um mês, mais coisa menos coisa, que fui assolada por uma crise severa de enxaquecas. A maioria das pessoas tende a desvalorizar porque afinal, são "só" dores de cabeça e, com um paracetamol ou ibuprofeno, a coisa cura-se e nada justifica estarmos com ar de sofrimento ou a faltar ao trabalho. Não tive entraves nenhuns das minhas entidades patronais mas já ouvi estas coisas todas.

Estou habituada a ter dores de cabeça. Mas aquela foi diferente e acordei logo mal, com um latejar palpitante (passo a redundância) na nuca, do lado esquerdo. Tomei a medicação. Não surtiu efeito. Reforcei. Não surtiu efeito e piorou. O descanso ajudava ligeiramente. Mas eu tinha tanto tanto frio e quanto mais me aquecia, mais pioravam as dores. Aguentei quase 4 dias e fui ao médico de família. Mantivemos o triptano (que é muito bem tolerado nestas crises e o meu SOS desde há muitos anos) e mudou o analgésico. Em casa, piorei consideravelmente e, juro que, a certa altura, no meio do inferno e do desespero que eram as dores, todo o lado esquerdo da cabeça em dor excruciante, eu pensei que teria um aneurisma pronto a rebentar. Pensamos em coisas parvas e ilógicas mas é assim...
Fui para as urgências do hospital central. Apanhei frio ao entrar e ao esperar pela triagem, sentada no chão, a morrer de dores, porque não havia lugares nem espaço, nada. E aquela luz tão brilhante num dia tão cinzento, de onde raio vinha toda aquela luz??? Melhorei a ponto de conseguir abrir os olhos - a neurologista explicou-me, depois, que foi do frio que ajudou a aliviar a vaso-dilatação. Pulseira amarela, 7h de espera. Medicação intravenosa, não sem antes, ao colocar o cateter, ter esguichado sangue para todo o lado, ao estilo CSI. Diazepan debaixo da língua e aquilo amarga como o caraças. Momentos depois e eu já conseguia tolerar a luz, já não sentia palpitar na nuca, a minha narina esquerda já não parecia prestes a explodir, o meu ouvido esquerdo já não ardia por dentro. Vim embora, capaz de beijar a médica, com indicações de combinar triptano e diazepan, parar com a sobredosagem de paracetamol, não dar boleia à dor e atacar logo ao mínimo sinal (mesmo que fosse aquele cheiro estranho a água que senti no nariz na véspera) e descansar mal sentisse uma crise a regressar. E receitou o loflaqualquercoisa em SOS para a ansiedade.

Marquei consulta com a minha neurologista. Era suposto eu estar "curada" disto, certo? Até fiz um tratamento... Verificámos os sinais vitais e avaliação neurológica, a medicação (que fiz ainda por mais duas semanas), EEG antigos (e a comparação com o da piolha que é muito semelhante ao meu) e Doppler, falámos muito. Tive uma crise muito grave, mal migranoso pois não passou em 48h e aumentou a dor... E tentámos descobrir o gatilho da crise. Bem... além do trabalho - que até levo bem -, sinto-me cansada mas tenho tudo controlado. Fico exasperada em viagens longas com mau tempo no meio da serra e sem rede e tive uma pequena crise de ansiedade que me obrigou a encostar o carro e a forçar-me a respirar. "E as meninas? Como estão?" e o meu coração parou uns segundos e a tal dormência na nuca voltou... São miúdas fantásticas mas, por serem diferentes, este ano letivo, a coisa não está fácil. "Então?" Foram vítimas de ciberbullying - que conseguimos controlar com a escola - mas agora estão a ser frontalmente atacadas pelos colegas porque são boas alunas. E um deficiente não pode ter sucesso académico. A nossa mentalidade pequena acha isso anti-natura. E elas que adoravam a escola, agora perguntam se têm mesmo que ir e eu começo a ficar farta e cansada disto porque, sinceramente, apetece-me dar dois bofetões nos miúdos e nos pais destes - que nem sabem o que têm em casa. Eu só quero filhas felizes e o seu percurso obrigatório escolar o mais típico possível, sem chatices adicionais, já basta o que basta com apoios e terapias e timings e burocracias. Passamos a vida na escola a tentar resolver estas coisas... "Aí está o gatilho..."
Portanto, durante 3 meses, estou a fazer um tratamento profilático para a enxaqueca que vai ajudar a colmatar alguma sequela causada pela dor. Esta é a parte fácil.
Tenho medicação para fazer em SOS e reconheço os mínimos sinais porque pode voltar. Esta também é a parte fácil.
Descansar mais e tentar resolver as coisas. Já é mais complicado.
Podia ter descambado em burnout. Informação retida.

"No time to die". Título de filme mas também o que passava em looping na minha cabeça. Eu não confio no mundo. E as piolhas estão a crescer e a saber contornar as dificuldades mas ainda precisam de nós. Por isso, descanso, mais calma, fluraziqualquercoisas nos próximos tempos + triptanos e diazepans e flotaroqualquercoisa em SOS.
E não me f*derem o juízo. Só isso já faz mais que qualquer medicamento.


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publicado às 14:30

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